Não Dêem Cabo do Mundo – Quadrilha
Criado em 1991, o grupo Quadrilha faz a fusão entre formas próprias da tradição portuguesa e sonoridades do mundo.
“Gosto particularmente das crenças antigas, da utilização do imaginário histórico-fantástico que emana da tradição própria de cada cultura. Em Portugal penso que deixámos esquecer a nossa mitologia infantil, toda a onecada que nos povoa os sonhos, e que tem um papel importante na nossa própria formação enquanto crianças”, diz Sebastião Antunes, o vocalista e produtor deste grupo.
“Começámos por ser mais tradicionais, mas agora misturamos tudo, desde a música celta, às ambiências norte-africanas”, explica. “A música do mundo está na moda. O conceito em si não significa mais do que um tipo de sonoridade próprio de uma etnia, consignado a uma determinada região”.
Flautas andinas, congas árabes, o aborígene didjeridu, percussões celtas são alguns dos instrumentos do mundo utilizados por este grupo.
“Ser músico… fazer música é um acto cuidado de composição, que após estar completo, pelo menos fisicamente, pertence a todos. A isso chama-se partilha, e isso, é tudo “, explica o compositor.
“Não dêem cabo do mundo” é a primeira faixa do álbum “A Cor da Vontade“.
“No canto de cada sonho nasce a vontade. A vontade de que as lágrimas apaguem o fogo, de que as cartas calem as armas, de que os amores sejam os melhores amigos de quem os tem, de que as mãos grandes e mansas da noite embalem o sono dos homens cansados. A vontade que o mundo vá devagarinho e tranquilo como a ribeira que serpenteia ingénua a brincar com a Lua, como as ondinas que vão cantarolando de pedra em pedra, como a onda terna e sábia que afaga o rochedo, terna porque afaga, sábia porque entende. Enquanto o rochedo espera pela madrugada porque lhe conhece o brilho e a cor que esgravata na utopia de todas as vontades. A todos os que acreditam na vontade que existe nas pequenas coisas…”, diz-nos sobre este álbum.
Não Dêem Cabo do Mundo
Já tenho a alma incinerada p’lo medo
Já tenho o espírito meio globalizado
E há tanta coisa complicada combinada em segredo
Que a gente quer-se virar e não sabe p’ra que lado
Dizem que o mundo anda doido
Mais doido anda quem o faz
Diz que disse mas não disse
E anda tudo ao abandono
Quem não acreditar é só espreitar
P’lo buraco da camada do ozono
Não dêem cabo do mundo ainda cá temos muito a fazer
Por favor, não dêem cabo do mundo se não como é que se há-de cá viver
É só atritos e detritos na alma
Terra quente, guerra fria, ambiente em cuidados
São marcadas as cimeiras da calma
Cessar fogo, fogo posto, mil acordos falhados
Quem te manda sapateiro tocar tão mal rabecão
Hemisférios divididos, não se apaga o lume
És igual ou diferente, és mouro ou cristão
Tio Sam, então… salamalecum
Não dêem cabo do mundo…
E as ribeiras a correrem aflitas
São descargas e descargas e ninguém faz caso
Frases feitas e desfeitas, muitas coisas ditas
E se algumas foram escritas foi só por acaso
Cada um faz o que quer e ninguém faz o que devia
Mina anti-pessoal, fome triste sina
A ajuda humanitária chega qualquer dia
Foi comprada em Israel, vendida na Palestina.
Não dêem cabo do mundo…
Quadrilha