Na última década arderam 40 mil ha de áreas protegidas em Portugal

Na última década arderam 40 mil ha de áreas protegidas em Portugal

1 de Agosto, 2011 0

Nos últimos 10 anos, mil fogos queimaram 40 mil ha de áreas prioritárias para a Natureza, principalmente no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Há tesouros naturais que não têm tempo para recuperar de incêndios cada vez mais intensos e frequentes.
No coração de cada área protegida há uma zona considerada prioritária para a conservação da natureza, onde estão guardados refúgios selvagens e verdadeiras relíquias. Aqui, a regeneração demora mais tempo.

Incêndio no Gerês em 2010     |      Foto: Daniel Antunes

Nas serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês, – nos distritos de Viana do Castelo, Vila Real e Braga – arderam no ano passado 6300 ha de área prioritária – uma área equivalente a 6 mil campos de futebol. As chamas chegaram a uns dos últimos bosques maduros do país com árvores centenárias, algumas com 500 anos, como carvalhos, azinhos, teixos, azereiros e pinheiros-silvestres.

“Há situações em que é preciso esperar centenas de anos, sem novos incêndios, para voltarmos a ter os mesmos valores naturais”, explica Lagido Domingos, director do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte.
“A grande diferença é que uma floresta de exploração ou uma zona de matos recupera ao fim de algum tempo; os bosques mais antigos vão-se perdendo gradualmente porque a frequência dos incêndios não dá tempo às árvores para crescer”, comenta Miguel Dantas da Gama, membro da direcção do FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens). “O facto de uma zona deixar de estar negra, com terra queimada, para ficar verde poucos meses depois, não quer dizer que já esteja tudo bem.”

Francisco Castro Rego, coordenador do CEABN, lembra que “em ter>os de vegetação natural, a região do Mediterrâneo onde nos encontramos é sempre muito susceptível ao fogo”. “É preciso perceber que muita vegetação natural das nossas áreas protegidas, em alguns ecossistemas, pode ter uma relação natural com o fogo. Por isso, este não pode ser visto, automaticamente, como uma catástrofe”. Na sua opinião, “o que não pode acontecer é deixar os incêndios progredir descontroladamente”. O objectivo maior “não é reduzir a área ardida mas aumentar a área ardida controladamente”, usando o fogo para combater o fogo. “Hoje em dia já temos técnicos com muita preparação e capacidade para usar este método, fazendo com que o fogo não aconteça no Verão mas noutras alturas do ano em que seja facilmente controlado.”

2003 foi o ano mais gravoso – com 28 272 ha ardidos e 2008 o ano em que menos ardeu, com 2538 ha queimados. Este ano, de 1 de Janeiro a 25 de Julho, já arderam 2212 ha de área protegida, em 148 incêndios, segundo dados do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. A Peneda-Gerês registou 1391 ha de área ardida e a Serra da Estrela 651 ha.

“Depois de um incêndio, aquilo que recupera primeiro é o mato. Como se perdeu o bosque maduro, capaz de reter mais humidade no solo, a zona torna-se mais vulnerável às chamas. O mato é um combustível para os incêndios. De ano para ano, estes tornam-se mais devastadores e os ecossistemas mais frágeis”, adverte Miguel Dantas.

Fonte: Ecosfera
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