Lama no Brasil: Acidente ou Crime Ambiental?
A rutura simultânea de duas barragens operadas por uma das maiores empresas mineiras do Brasil em Minas Gerais é já considerada a pior tragédia ambiental daquele Estado brasileiro. Foram já libertadas cerca de 24 800 piscinas olímpicas de resíduos da extração de ferro.
As duas barragens que rebentaram são operadas pela Samarco Mineração, empresa controlada por dois gigantes mundiais da indústria mineira, a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton. As causas das ruturas não foram determinadas até ao momento, mas na maioria dos casos são provocadas por uma saturação da capacidade das barragens, segundo os especialistas.
No ano passado, a Samarco produziu mais 9,5 milhões de toneladas de minério de ferro na sua unidade industrial de Mariana, em Minas Gerais, o que representa um aumento de 15%. O aumento da produção fez crescer também o volume de resíduos – impurezas, areia e químicos usados no processo de tratamento e separação do minério bruto – depositados nas 4 barragens situadas em Mariana, sem que estas tenham sido reforçadas.
A forma como as licenças de exploração mineira são concedidas foi questionada pelo promotor do Ministério Público de Minas Gerais, que está a comandar uma investigação para apurar as causas e responsabilidades do acidente.
Um estudo técnico realizado há dois anos, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais, tinha alertado para o risco de rutura de uma das barragens que colapsou no dia 5. O relatório apontava também para a inexistência de um plano de retirada das populações em caso de emergência.
As empresas mineiras são as principais financiadoras de campanhas políticas em Minas Gerais. Segundo o colunista político Leandro Mazzini, tanto Pimentel como Rousseff receberam doações da Vale – que controla 50% da Samarco – para as suas campanhas eleitorais em 2014.
O biólogo e ecólogo André Ruschi, da Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi em Aracruz, Santa Cruz, no Espírito Santo, acredita que os resíduos só começarão a ser eliminados do mar em 100 anos, no mínimo.
“Já estamos acostumados a lidar com vários tipos de sonegação de informação, falsificação de resultados, etc. São empresas historicamente inadimplentes e sempre com problemas em cumprir as exigências dos órgãos ambientais nas suas licenças. O primeiro laudo já indicou a presença de mercúrio na água do Rio Doce”, comenta.
“Assim como mercúrio, há também cromo, arsênio, e outras substâncias que são venenos poderosíssimos”, explica.
Impacto para o ser humano
De acordo com André Ruschi, as substâncias como o mercúrio não são eliminadas pelo organismo, depois de absorvidas. “Elas vão se acumulando cada vez mais, pouquinho a pouquinho, até atingir uma concentração que causa ou uma doença ou mata o indivíduo”. “Isso pode durar anos, mas vai acontecer. E tudo vai terminar na cadeia alimentar, esses elementos vão ser absorvidos pelo homem. São elementos químicos puros, e não simplesmente uma molécula que vai se desfazer e vai virar outra coisa. Vai sempre ser uma substância venenosa se acumulando na cadeia alimentar”, analisa.
Rasto de destruição
“Essa lama vai poluindo tudo e deixando resíduos em toda a cadeia, todo o leito do rio. E como o PH já é muito alto no rio, em 10, e é extremamente cáustico, essa lama vai estar matando completamente qualquer coisa do rio, inclusive, espécies exóticas do Rio Doce que estão extintas a partir de hoje”, afirma.
Moradores de Governador Valadares, na região do Rio Doce, já informaram que os peixes estão a saltar para fora do rio, possivelmente sufocados pelos resíduos.
Conforme um estudo divulgado pelo Igam – Instituto Mineiro de Gestão das Águas, o nível de lama no rio Doce chegou em Minas a 400 mil unidades (NTU) o que é inviável para o tratamento. Segundo o Igam, o limite para garantir vida aquática é de 100 mil unidades.
A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos quer que a Samarco recolha do rio Doce a maior quantidade possível de peixes, que os coloque em tanques apropriados e que depois os solte novamente no rio, assim que o nível de poluição deixe de ser uma ameaça para as espécies.
Fonte: Ecosfera, O Tempo e Sputnik
Unknown
Certamente crime ambiental. Estive a falar com uma amiga do estado de Minas Gerais que me disse que o assunto tem sido pouco divulgado na comunicação social. Acho que isso por si explica que há culpa de certeza.
Sónia
14 de Novembro, 2015UniPlanet
Olá Sónia,
20 de Novembro, 2015Um verdadeiro crime ambiental e social muito bem ignorado pelos media do Brasil e internacionais…
Um abraço,
Mab