O Problema dos Orfanatos
Em 1999, o neurocientista Charles Nelson, juntamente com outros cientistas americanos, iniciou o Projeto de Intervenção Precoce de Bucareste, um estudo sobre crianças romenas, na sua maioria “órfãs sociais”, ou seja, os seus pais biológicos tinham-nas entregue ao cuidado do Estado. Na altura, muitas autoridades romenas acreditavam que os problemas comportamentais das crianças institucionalizadas eram inatos – a razão pela qual os seus pais as tinham abandonado e não o resultado de uma vida nestas instituições. Acreditavam, também, que estas crianças estariam melhor em orfanatos do que com as suas famílias ou em lares adotivos temporários.
Os cientistas realizaram este estudo como uma forma de se certificarem da verdade. Colocaram metade de um grupo de 136 crianças em famílias de acolhimento e acompanharam o desenvolvimento físico, psicológico e neurológico de ambos os grupos durante muitos anos. Descobriram que as crianças se dão muito melhor em famílias de acolhimento do que em orfanatos.
“Serão, então, os orfanatos prejudiciais para as crianças?” Vários estudos das últimas décadas têm-no demonstrado.
Em 2010, um artigo da Forbes, escrito por Maia Szalavitz, expôs algumas das formas em que os orfanatos podem ser prejudiciais. Numa parte deste artigo, a autora descreve um estudo interessante:
“A investigação sobre os perigos dos cuidados institucionais em crianças pequenas remonta aos anos 40. Desde que apareceram, os orfanatos têm tido sempre taxas de mortalidade alarmantemente elevadas. No início do século XX, culparam-se as doenças contagiosas – e, então, fizeram-se tentativas para manter os orfanatos esterilizados, para isolar as crianças umas das outras através de práticas como pendurar lençóis esterilizados entre os seus berços.
Mas o psicanalista e físico austríaco Rene Spitz propôs uma teoria alternativa. Acreditava que as crianças nas instituições sofriam de falta de amor – que lhes faltavam relações parentais importantes, o que, por sua vez, as estava a prejudicar e, até mesmo, a matar.
Para testar a sua teoria, comparou um grupo de bebés criados em berços de hospital isolados com outro criado numa prisão pelas suas próprias mães presas. Se os germes de estarem fechados com muitas pessoas fossem o problema, ambos os grupos de bebés teriam os mesmos resultados negativos. De facto, as crianças hospitalizadas deveriam ter tido resultados melhores, graças às tentativas feitas para impor condições esterilizadas. Se o amor contasse, contudo, os filhos das prisioneiras levariam a melhor.”
“O amor ganhou: 37% dos bebés mantidos na sombria ala de hospital morreram, mas não houve qualquer morte entre os bebés criados na prisão. Os bebés encarcerados cresceram mais rapidamente, eram maiores e tiveram melhores resultados em todos os níveis que Spitz avaliou. Os órfãos que conseguiram sobreviver no hospital, por contraste, tinham mais probabilidade de contrair todos os tipos de doenças. Ficaram magros e mostravam problemas psicológicos, cognitivos e comportamentais óbvios.”
Este artigo suscitou uma avalanche de comentários e críticas por parte das pessoas que preferem continuar a acredita no atual sistema.
Porque é esta ideia tão difícil de aceitar? Segundo Szalavitz, não é um problema de dinheiro, uma vez que manter um orfanato aberto é mais caro do que optar por famílias de acolhimento. Mas a escritora desconfia, mesmo assim, que se trata de dinheiro, sendo que o financiamento público é mais facilmente concedido a instituições do que a indivíduos.
Como Elizabeth Furtado, uma das investigadoras do projeto dos órfãos romenos, observa, “(…) faz-me entristecer o facto da legislação não acompanhar adequadamente o que estamos a descobrir [nestes estudos]”.
Fonte: Phenomena – National Geographic
Foto: Michael Carroll