H&M, Gap e Walmart Acusados de Abusos a Trabalhadores: “Uma Rede de Terror e Insegurança”

H&M, Gap e Walmart Acusados de Abusos a Trabalhadores: “Uma Rede de Terror e Insegurança”

15 de Junho, 2016 0
Trabalhadoras do Camboja recuperam de um desmaio coletivo na fábrica
Trabalhadoras do Camboja recuperam de um desmaio coletivo na fábrica. (Reuters/Samrang Pring)

O H&M, a Gap e o Walmart são três das maiores cadeias de roupa barata do mundo. Como tantas outras empresas da indústria global de roupa, produzem muitos dos seus artigos em países asiáticos com salários baixos e com pouca regulação e fiscalização – o que leva a abusos generalizados dos direitos dos trabalhadores.
A Asia Floor Wage Alliance (AFWA), um grupo formado por sindicados e ativistas dos direitos humanos, elaborou uma série de relatórios para denunciar estes abusos, documentando alguns dos piores problemas enfrentados pelos trabalhadores nas fábricas que fazem as roupas para estas marcas. Na base deste trabalho estão centenas de entrevistas realizadas a estes trabalhadores em países como o Camboja, a Índia, o Bangladesh e a Indonésia, explica o Quartz.

As conclusões deste trabalho dão uma imagem pouco atrativa destas marcas de roupa internacionais – uma imagem ligada a maus-tratos e violações dos direitos laborais dos seus trabalhadores, na sua maioria mulheres pobres.
“Estes [abusos] são todos, para mim, um tratamento desumano dos trabalhadores”, defende Anannya Bhattacharjee, coordenadora internacional da AFWA. “Estão todos ligados e formam uma rede de terror, insegurança e um elevado nível de vulnerabilidade para os trabalhadores.”

Alguns dos problemas com que a organização se deparou:

Despedimentos por motivo de gravidez

Em entrevistas a 251 trabalhadores das fábricas subcontratadas pelo H&M, a AFWA descobriu, em 11 das 12 fábricas cambojanas, relatos de mulheres despedidas por terem engravidado. Em todas as 50 fábricas indianas se verificou o mesmo. Estes despedimentos levam muitas destas mulheres, que dependem dos seus empregos para sobreviver, a fazer abortos em países onde estes procedimentos podem ser perigosos.

Pressão para tolerar assédio sexual

As alegações de assédio sexual são muito frequentes e comuns às fábricas dos fornecedores das 3 marcas. A AFWA, a partir de entrevistas a 150 trabalhadores das fábricas subcontratadas pela Gap no Camboja, na Indonésia e na Índia, determinou que uma em cada cinco trabalhadoras é vítima de comentários ou propostas de carácter sexual e de contacto impróprio por parte de gestores e colegas de trabalho do sexo masculino.
As trabalhadoras não têm, muitas vezes, forma de denunciar este tipo de comportamento ou podem ser pressionadas a tolerá-lo. Num dos fornecedores, no Camboja, do Walmart – A Cambo Handsome –, as trabalhadoras relataram que eram recompensadas com pausas maiores e outros tipos de benefícios ao deixarem o assédio continuar.

Carga horária excessiva e pouco saudável

Estas pausas, referidas anteriormente, podem ser uma necessidade desesperada, uma vez que, como denuncia a AFWA, em fábricas dos fornecedores cambojanos do Walmart, o trabalho dura “até 14 horas por dia num calor sufocante sem a oferta adequada de água potável ou de quaisquer pausas, levando a episódios de desmaios em massa”.

Contratos Temporários

Outro problema crescente descoberto nos fornecedores das 3 marcas foram os contratos temporários de curta duração. Se uma trabalhadora tiver, por exemplo, um contrato de 3 meses e se, durante esse tempo, ela se queixar de assédio, reivindicando um salário ou condições melhores, ou se se juntar a um sindicato, a fábrica pode, simplesmente, escolher não renovar o seu contrato.

Repressão Violenta de Manifestantes

Quando os trabalhadores tentam reivindicar os seus direitos ou sindicalizar-se, os seus protestos podem ser reprimidos com violência. No Camboja, a polícia e os grupos paramilitares são responsáveis por mortes durante as manifestações dos trabalhadores. Em 2014, durante um protesto por melhores salários no Camboja, morreram, pelo menos, 3 pessoas.

Pelo menos 3 pessoas foram mortas numa manifestção por melhores salários no Camboja
Pelo menos 3 pessoas foram mortas numa manifestção por melhores salários no Camboja. (AP/Heng Sinith)

Roubo salarial

Os trabalhadores dos fornecedores das 3 marcas denunciaram que eram forçados a trabalhar horas extra ou poderiam ser despedidos ou vítimas de abusos verbais ou espancamentos. Muitos trabalhadores que fazem roupa para a Gap disseram que nem chegavam a receber pelas horas extras – algo que a AFWA considera um “roubo salarial”. Este não é o único problema, diz a organização. Nas fábricas dos fornecedores do H&M, na Índia, os trabalhadores afirmaram receber menos do que o salário mínimo estabelecido pela lei.

A AFWA pede normas que ponham fim a estas práticas e que estabeleçam um salário digno para estes trabalhadores – um salário que lhes providencie um estilo de vida decente e não apenas o mínimo possível. Segundo os seus cálculos, os trabalhadores no Bangladesh e no Sri Lanka estão a receber um quinto do valor necessário para as suas necessidades.
As marcas costumam argumentar que não são proprietárias destas fábricas, que não são elas que decidem o salário dos trabalhadores (nas palavras do CEO do H&M, “Não somos nós quem estabelece [o valor] dos salários”), que encorajam os fornecedores a atribuir salários acima do custo básico de vida (diz o Walmart) e que estes problemas não se limitam a eles, abrangendo toda a indústria (argumento tanto da Gap, como do H&M).

A Alegação de que as marcas não são responsáveis pelos salários não convence a AFWA. São elas que procuram os preços mais baixos em países com populações pobres que precisam de empregos, criando um sistema no qual o salário do trabalhador é o que acaba por ser mais afetado, afirma Anannya Bhattacharjee.
“O modo como o sistema está estruturado agora é muito desigual, não sendo suficientemente lucrativo para os países de produção e explorando uma força de trabalho considerável”, diz.
A AFWA concorda, no entanto, com o facto de estes problemas não serem exclusivos a estas 3 marcas e que “a escala de violações de direitos” que a organização encontrou no seu trabalho “está fundamentalmente ligada à estrutura da cadeia global de valor do vestuário como um todo”.

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