Em apenas 2 anos, leopardos poderão estar extintos no Camboja
Existem menos de 30 leopardos no Camboja, o que significa que, em apenas 2 anos, estes felinos poderão estar extintos no país, avisam os conservacionistas.
Estas estimativas surgiram 2 meses depois do governo cambojano ter declarado os tigres oficialmente extintos no país e um mês após ter sido revelado que a população mundial de leopardos perdeu cerca de 75% do seu habitat natural na Ásia e na África, conta o TakePart.
Como no caso dos tigres, o declínio da população de leopardos-da-Indochina do país é o resultado da implacável caça ilegal que se tem verificado nas florestas protegidas da província de Mondulkiri – o último habitat destes felinos no país.
“Os leopardos sobreviveram mais tempo em Mondulkiri porque esta é a província menos povoada no Camboja”, explica Jan Kamler da organização Panthera.
Na sua opinião, os caçadores não estarão a caçar intencionalmente estes felinos raros, mas as armadilhas ilegais – proibidas por matarem indiscriminadamente – que eles colocam para apanhar uma variedade de outros animais selvagens parecem, no entanto, estar a fazer dos grandes felinos vítimas.
Embora seja proibido caçar animais para vender a sua carne, este comércio tem, contudo, feito aumentar a caça furtiva e o número de armadilhas. “Os habitantes locais não estão a matar animais para consumo pessoal, estão a fazê-lo pelo lucro, para vender a carne a compradores que abastecem os mercados local, nacional e internacionalmente”, disse o conservacionista.
Um dos maiores mercados para a carne de Mondulkiri é o Vietname, que faz fronteira com a província. “Na sua grande maioria, o Vietname já não tem vida selvagem no seu país, por isso compram tudo e mais alguma coisa aos cambojanos”, afirma.
Como no caso de tantas outras espécies selvagens protegidas – tigres, leões, elefantes, rinocerontes –, a medicina tradicional asiática tem um papel ativo no desaparecimento destes felinos. “Os vietnamitas pagam valores elevados por partes de leopardo porque estas são usadas na medicina tradicional asiática.”
Existe também a ameaça da consanguinidade, que cria problemas genéticos e compromete ainda mais a sobrevivência da espécie. “Uma vez que existam menos de 20 [leopardos] começa a consanguinidade e esse é o fim”, declarou Jan Kamler. Este fenómeno tem-se observado na população de pumas da Flórida e de leopardos de Amur na Rússia, que têm vindo a exibir alguns tipos de deficiências indicadoras de consanguinidade.
Contudo, o conservacionista admite a hipótese de ainda se poder reverter esta situação. “Todas as pessoas com quem falei no governo pareciam preocupadas e prometeram fazer mais, mas ainda falta ver se isso resultará em ações concretas.”