Igreja Católica Ligada a Trabalho Infantil em Plantação de Chá no Uganda
No início de 2016, a BBC fez uma reportagem na qual denunciou a utilização de trabalho infantil numa plantação de chá no Uganda, propriedade da Igreja Católica.
O trabalho infantil é um grande problema no Uganda, onde, segundo estimativas das Nações Unidas, 3 milhões de crianças trabalham. Estima-se que 30% das crianças com idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos estejam envolvidas em alguma forma de trabalho infantil, embora, segundo as leis do país, os menores de 14 anos não possam trabalhar.
A cadeia de televisão britânica fez esta investigação depois de Alex Turyaritunga, enfermeiro na agência de refugiados da ONU (UNHCR) no Uganda, ter declarado que existiria trabalho infantil a decorrer em terra que é propriedade da Igreja em Kabale. O enfermeiro tem a sua própria história de exploração infantil, se bem que de uma forma mais extrema.
“Fui uma criança-soldado, nada pode remover isso da minha memória”, conta à BBC. “Lembro-me da guerra de 1994. Eu tinha uma arma ao meu ombro.” Na altura, teria 11 anos.
Quando a equipa da BBC chegou a Kabale, entrou em contacto com um dos supervisores da plantação que, sob a condição de não ser divulgada a sua identidade, confirmou que existiam crianças a trabalhar no local, que recebiam entre 1000 (0,26€) e 2000 shillings ugandeses (0,52€) por dia. O supervisor declarou que a terra era propriedade da Igreja Romana Católica, mas que tinha sido arrendada à empresa Kigezi Highland Tea Limited.
A equipa da BBC encontrou 15 crianças a trabalhar, juntamente com adultos da comunidade local, na sua visita à plantação. Estas crianças trabalhavam 8 horas diárias e o seu trabalho consistia em juntar as mudas jovens de chá empilhadas no sopé de uma colina íngreme e levá-las colina acima, até ao local onde seriam plantadas. Para além disso também lhes competia a tarefa de retirar as ervas daninhas da plantação. A BBC também encontrou mais crianças, uma das quais com 10 anos, a descarregar mudas de chá de uma carrinha.
Um membro da Igreja Católica local confirmou à equipa que existia “uma negociação entre a diocese e a Kigezi Highland Tea” desde 2013 e que a decisão de cultivar chá tinha surgido “através do comité de planos de sustentabilidade financeira” da diocese.
Tanto as tentativas para contactar a empresa Kigezi Highland Tea Limited, como as para falar com o Bispo Callistus Rubaramira da diocese de Kabale foram infrutíferas. O secretário do Bispo, o Padre Lucien, negou a existência de trabalho infantil na plantação.
A BBC contactou, então, o Vaticano e obteve como resposta do porta-voz do Papa, Federico Lombardi: “Recuso a responsabilidade ou dever de responder sobre esta questão – se existe um problema para a igreja local, eu não sou responsável por ele”.
Alex Turyaritunga não concorda. “O trabalho infantil prejudica as crianças psicologicamente”, disse. “Acho que o Vaticano deveria acordar e rever a política comercial da Igreja Católica.”
“É por isso que eu apelo a uma reforma de políticas. E sei que esta reforma fará um trabalho muito bom a transformar a comunidade, porque não teremos exploração de crianças, não teremos trabalho infantil”, defende.
Veja o vídeo da reportagem no site da BBC