Mulheres estão a usar a hashtag #IamNotAfraidtoSayIt para partilharem histórias de abuso sexual

Mulheres estão a usar a hashtag #IamNotAfraidtoSayIt para partilharem histórias de abuso sexual

10 de Julho, 2016 0

Assédio

Anastasiya Melnychenko é a presidente da Studena uma organização de direitos humanos da Ucrânia. Durante esta semana, escreveu que se deparou com um post no Facebook de um homem que encontrou uma mulher num parque que tinha sido violada, no seu post o homem concluía que “ela não devia andar sozinha no parque à noite”. Irritada com o comentário iniciou uma campanha com a hashtag #‎яНеБоюсьСказати ou #IamNotAfraidtoSayIt (#NaoTenhoMedodeoDizer).

Nastya Melnychenko:

“… Não temos de inventar desculpas. Nós não temos culpa, um violador tem sempre a culpa. Eu não tenho medo de falar. E não me sinto culpada.(…) É importante falarmos das nossas experiências. É importante que isto se destaque. Por favor, falem…”

De seguida, as mulheres ucranianas e russas começaram a usar a hashtag para partilharem as suas histórias de assédio nas ruas e no trabalho e de abuso sexual.

Anastasiia Spirina:

“Durante uma conversa, o meu marido agarrou-me pelas minhas mãos, arrastou-me pelo apartamento seminua e tentou pôr-me fora do apartamento. Em seguida, espetou uma faca na porta, e eu temi que me apunhalasse. (…) Vou buscar os papéis do divórcio ao meio-dia.”

A hashtag tornou-se viral tanto na Ucrânia como na Rússia. Conversas sobre abuso sexual são raras nestes países e, por isso, este movimento de Melnychenko constitui um momento revolucionário.

Julia Polunina:

“Quando tinha 5 ou 6 anos, descobri que o meu primo era pedófilo. (…) Foi quando a minha infância terminou. Ele mostrava-me regularmente o seu pénis. (…)
Quando se tem 6 e ele 18, é difícil fugir. É difícil compreender que o homem que era suposto proteger-te de todo o mal te está a fazer algo assim. É difícil perceber porque te toca na roupa interior, porque te está sempre a despir. E o mais difícil é descobrir para onde fugir de tudo isto. Ele dizia-me que estava tudo bem, que era normal, e que me estava a preparar para o meu futuro e que devia ficar calada sobre tudo isto.
Eu não quero entrar em detalhes sobre as suas maneiras favoritas de se entreter, mas durou 13 anos, até que eu aprendi a defender-me. Ele tentou violar-me muitas vezes, mas sempre conseguiu lutar…
O que mais lamento é não ter contado à minha mãe mais cedo. Lamento não ter ido à polícia quando percebi que o que ele fazia não estava certo. Lamento ter tido vergonha de magoar a minha família e os que me eram próximos.”

Anna Veduta:

“Quando eu tinha 18 anos, trabalhei como assistente de um homem sombrio que a minha mãe conhecia. Era jovem, precisava de dinheiro e por aí diante. Este homem organizou uma conferência (…) e disse-me para entregar um convite. Era fevereiro, estava frio – não queria tirar o meu casaco. (…) fui empurrada contra a parede, enquanto o homem velho me beijava e tentava colocar as suas mãos nas 5 camadas de roupa que tinha vestida. Esta história podia ter acabado de maneira diferente, mas a sua secretária bateu à porta (…) e fiquei livre.
Contei ao meu patrão, mas ele respondeu-me ‘Tocou-te nos joelhos, grande coisa! Um homem tão importante que te prestou atenção!’”

Não são só as mulheres que estão a usar a hashtag.

Vasily Esmanov:

“Tudo o que tem estado a passar nos nossos feeds de notícias nestes últimos dias – é um problema complexo onde tudo está interligado. Normas sociais, patriarquia, modelos sociais para o comportamento dos homens e mulheres a que nos acostumámos, manipulações de ambos os sexos, doença mental, exploração, medo e insegurança, estupidez humana e clara falta de empatia e compaixão pelos outros. (…) Não é claro por onde temos de começar. Mas pelo menos agora vemos a sujidade e não queremos viver mais assim.”

Tatyana Nikonova:

“(…) Aos 19 anos, fui violada durante um encontro, no seu carro. Era virgem. (…) Deixei de atender as suas chamadas. Durante muito tempo ele nem percebia porquê…
Aos 20, embebedei-me na passagem de ano (…). Não sei como fui parar a um apartamento com sete homens. Deram-me vodka para beber diretamente da garrafa (…) Puseram-me fora do apartamento nua e atiraram-me as roupas para cima. (…)
Em Moscovo, um taxista mostrou-me o seu pénis e disse-me que poderia pagar assim. Desde esse dia, que me sento nos bancos de trás nos táxis. Outro taxista levou-me para umas garagens e tentou vir para os bancos de trás. Dei-lhe com os meus saltos…”

Ativistas pela campanha contra a descriminação aplaudiram esta hashtag dizendo que falar sobre discriminação, injustiça, violência é o primeiro passo em direção à mudança.

Katya Kermlin:

“‪#‎iamnotafraidtospeak‬ (#NaoTenhoMedodeoDizer)
Algo de poderoso está acontecer no Facebook. Começou com o post de Nastya Melnichenko com a hashtag #‎янебоюсьсказать‬ (#iamnotafraidtospeak).(…)
De repente o feed do meu Facebook está cheio de histórias mórbidas dos meus amigos, tanto homens como mulheres. Histórias breves, factos diretos sem reflexão nem análise: ele disse que me queria beijar; ele perguntou-me se via pornografia; ele apertou-me o peito; (…) ele disse para não dizer aos meus pais; ele bateu-me e empurrou-me contra a parede…
Algumas histórias começam com as palavras “Tenho 4, 5 anos, o amigo do meu pai perguntou-me se havia mais alguém em casa”. Muitas pessoas recordam incidente que ocorreram na adolescência.
Os meus amigos, seguidores, pessoas que mal conheço, mas que respeito profundamente, mulheres bonitas, empreendedores, (…) pessoas bem-sucedidas contaram as suas histórias de assédio.
Uma mistura de tragédia, ironia, vergonha, iniciativa, atingiu-me – e não sou facilmente abalada, já conheço os problemas da vida. Milhares de episódios de abuso sexual. Centenas de reminiscências que envolviam estranhos, colegas de trabalho, namorados, familiares, patrões, professores e médicos. E, de desconfiança, rejeição, más-interpretações: podes ter interpretado mal, querida; ele não queria fazer isso; era apenas uma brincadeira – bem, não uma muito boa, mas o tio Xander nunca te faria mal – ou um silêncio constrangedor, como se nada tivesse acontecido.
Foi tanto o conteúdo como o volume que me surpreendeu, pequenas frases que me tiraram o folgo.
E sei que há mais, muito mais. Sinto as palavras não ditas; que queimam a minha pele. Admiro a coragem de quem se atreveu a contar, vejo outros amigos a animar esses amigos e a oferecer apoio – e é lindo, é poderoso, é mais importante do que imaginamos.
Penso naqueles que não disseram uma palavra. Sentem vergonha, culpa, dúvida, racionalização, lidam com o medo de serem rejeitados, serem julgados, acusados de alguma conduta errada. Encontro-me muitas vezes a dizer: não, não é culpa tua; não, não está certo; não, nada está errado contigo; não, não devias deixar tudo como é; não, o mundo não te vai virar as costas.
Aconteceu à maioria de nós, e não temos medo de falar – não estamos à procura de atenção. Porque é hora do mundo ouvir, reconhecer e corrigi-lo. Quando o assunto é profundo, escuro e com camadas, cada voz é um enorme passo em frente.”

Fonte: BuzzFeed

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