Como as baleias são caçadas “por acidente” intencionalmente
Existe uma lacuna que permite aos pescadores que capturam “acidentalmente” baleias vendê-las legalmente – o que permite à indústria prosperar em algumas cidades da Coreia do Sul.
A caça à baleia está proibida na Coreia do Sul, mas a carne de baleia continua a ser uma iguaria popular em algumas cidades do litoral do país.
Em maio, dias antes do Festival da Baleia na cidade de Ulsan, as autoridades invadiram uma unidade de armazenamento a frio e descobriram mais de 27 toneladas de carne de baleia – o correspondente a 40 destes animais –, com um valor estimado de 3 milhões de euros. A carne era de baleias-anãs, que podem atingir cerca de 10 metros de comprimento, conta a National Geographic.
Embora a Noruega, a Islândia e, especialmente, o Japão sejam os países mais associados às práticas de caça à baleia, os conservacionistas dizem que a Coreia do Sul também realiza estas práticas controversas – os pescadores aproveitam-se de uma lacuna que lhes permite vender legalmente a carne de cetáceos capturados acidentalmente nas suas redes de pesca.
Todos os anos, o país apresenta uma média de 80 a 100 baleias capturadas acidentalmente à Comissão Internacional de Caça à Baleia, a entidade que regula a caça e a conservação destes animais. “Essas capturas acessórias são cerca de 10 vezes mais elevadas do que as de outros países“, com a exceção do Japão, afirma Astrid Fuchs da organização Whale and Dolphin Conservation, que acredita que estes valores não correspondem à realidade e que diz que os peritos e as ONGs do país estimam que haja, pelo menos, o dobro das capturas acessórias relatadas.
Ulsan, onde decorre o Festival da Baleia, uma cidade com mais de um milhão de habitantes “é o lugar certo para quem deseja comer um prato de carne de baleia”, lê-se num artigo de 2011 do Korea Times, que menciona a existência de mais de 100 restaurantes que serviam baleia.
Quando uma baleia é capturada “acidentalmente”, os pescadores têm de o declarar à Guarda Costeira. O corpo do animal é então inspecionado para garantir que não existem marcas de arpão e é emitida uma licença, que permite que a baleia seja leiloada.
Foto: Nicole Mclachlan/ National Geographic
Um pescador pode receber cerca de 75 500€ por cada baleia-anã capturada, explica o jornal coreano Hankyoreh. Os restaurantes podem vendê-la por um lucro ainda maior. “Durante as nossas entrevistas a pescadores locais e a proprietários de restaurantes, tornou-se evidente que alguns pescadores estavam a fornecer carne de baleia-anã fresca aos restaurantes a preços premium – mas as capturas acessórias raramente são frescas”, explica Douglas MacMillan, da Universidade de Kent, à National Geographic. Juntamente com Jeonghee Han, atualmente na Greenpeace, o investigador descobriu que os pescadores não estavam a declarar as baleias capturadas à Guarda Costeira e que os que estavam com dificuldades financeiras se tinham dedicado a caçar estes animais à noite.
A caça ilegal também é um problema na Coreia do Sul. Segundo MacMillan e Han, o preço da carne de baleia está em queda, embora a procura esteja a aumentar e os números oficias das capturas acessórias não tenham mudado, o que sugere que existe um fornecimento adicional de origem ilegal.
Em 2012, o país propôs iniciar um programa “científico” de caça à baleia, à semelhança do Japão, mas acabou por desistir graças à pressão por parte da comunidade internacional.