Árvores falam entre si e reconhecem a sua descendência
Na terra, debaixo dos nossos pés, existe uma rede de fungos que liga as plantas entre si e lhes permite “falar” umas com as outras, trocar alimento e até mesmo sabotar vizinhos indesejados. É a “internet natural da Terra”, como lhe chamou o cientista Paul Stamets.
A relação simbiótica que ocorre quando os fungos colonizam as raízes das plantas – conhecida como micorriza – tem ainda muitos aspetos fascinantes por descobrir.
Numa palestra no TEDSummit 2016, Suzanne Simard, ecóloga e professora na Universidade de British Columbia, desafiou a perceção comum de que se pode substituir uma árvore cortada plantando uma nova e de que uma floresta é meramente uma coleção de árvores, cada uma delas uma entidade completamente independente da vegetação que a rodeia.
«Uma floresta é muito mais do que aquilo que vemos», explica Suzanne, que tem estudado as florestas do Canadá ao longo dos últimos 30 anos. «Sabemos que todos nós favorecemos os nossos filhos, o que me levou a questionar: “Será que o abeto-de-Douglas reconhece a sua descendência, como a mãe ursa e a sua cria?” Com isso em mente, fizemos uma experiência e plantámos árvores-mãe com plântulas da mesma espécie e de espécies diferentes. E, ao que parece, elas reconhecem mesmo as da sua família. As árvores-mãe colonizam-nas com redes micorrízicas maiores. Enviam-lhes mais carbono por baixo do solo. Até reduzem a sua competição entre raízes para fazer espaço para os seus descendentes. Quando as árvores-mãe estão danificadas ou a morrer, também enviam mensagens de sabedoria à próxima geração de pequenas árvores. Usámos a marcação isotópica para seguir o movimento do carbono desde o tronco de uma árvore-mãe danificada, passando pelas redes micorrízicas, até às árvores jovens próximas – não apenas o carbono, mas também os sinais de defesa. E estes dois compostos aumentaram a resistência dessas pequenas árvores a agressões futuras. Portanto, as árvores falam.»