Zahra, a afegã que se disfarçou de rapaz durante 6 anos para poder ir à escola
Quando os talibãs tomaram Cabul, derrotando o regime pró-soviético, as mulheres perderam grande parte dos direitos que vigoravam durante a monarquia. Passou a ser proibido às mulheres frequentar a escola.
A família de Zahra não se conformou com a proibição. E o tio, também estudante, teve a ideia de vestir a menina de 5 anos como um rapaz, para poder ir à escola. Tentou convencer a avó e a mãe. Inicialmente, a mãe não concordou, mas acabou por aceitar.
“Mudei a minha roupa e tive de aprender a ser um menino. O meu tio ensinou-me a jogar futebol, a ir para as montanhas, a fazer as coisas que os rapazes fazem. E passei a chamar-me Mohammed”, contou Zahra ao programa de rádio “Outlook”, da BBC.
Cortou o cabelo e ninguém suspeitou de que não era um rapaz. Passou 6 anos com medo de ser descoberta e das consequências para ela e para a família.
Aos poucos, a família começou a chamá-la de Mohammed Zahra, apelido que dura ainda hoje.
Quando tinha 11 anos, o regime dos talibãs caiu e pôde voltar a estudar como menina. As escolas passaram a ser separadas por sexo. Zahra sofreu dos dois lados: os meninos achavam injusto ela ter frequentado a escola deles, e as meninas faziam bullying porque “ainda ontem” ela tinha sido um rapaz. Zahara não ligava. “Estava feliz porque podia ler, escrever, tive educação no tempo certo. Estava orgulhosa porque tinha voz”, conta. Mas tinha saudades dos dias em que era Mohammed, pois como Zahra não tinha todos os direitos de um rapaz. “Sinto saudade dos direitos que tinha como Mohammed”, afirma.
Tirou o curso de Direito e hoje, aos 23 anos, é jornalista e sustenta toda a família – paga inclusive a educação das duas irmãs mais novas, pois prometeu a si mesma que elas “não sofreriam como sofri”.
Mohammed ainda vive em mim. A coragem que adquiri quando era Mohammed ajudou-me muito a ser alguém na minha própria identidade. Tento muito não perder essa coragem que me ajudou a ser alguém e a ajudar outras pessoas, especialmente mulheres.
Fontes: Jornal i e BBC