Em Taiwan, transforma-se lixo em combustível e em violinos
Taiwan é um país conhecido pelos seus projetos inovadores no campo das tecnologias sustentáveis. 15% das suas exportações são produtos ecológicos, segundo o Instituto Chung-Hua para a Investigação Económica. “De momento, Taiwan distingue-se na eficiência energética, no controlo de poluição e nas tecnologias de proteção ambiental efetivas no terreno”, afirmou Nate Maynard do Instituto Chung-Hua.
Entre as criações do país está o R-One, um combustível feito a partir de resíduos de plástico. Através de um processo chamado pirólise, o plástico passa do estado sólido, ao líquido e, por fim, ao gasoso. “As emissões de poluentes são inferiores e custa o mesmo que o combustível à base de petróleo”, explica Gordon Yu, da empresa de reciclagem EVP Group, capaz de processar mais de 20 toneladas de plástico por dia. A conversão de plástico em combustível pode não ser uma ideia nova, mas a EVP é a única empresa no mundo que processa o material sem o lavar e separar, reduzindo assim os custos. “Aceitamos a maior variedade de plásticos do mundo”, contou Gordon Yu.
“Com a tecnologia que transforma o plástico em combustível, Taiwan pode reduzir a sua dependência em importações [de combustíveis], diminuir o desperdício, melhorar ligeiramente a qualidade do ar e reduzir o impacto para a saúde humana da incineração de resíduos”, contou Nate Maynard ao Motherboard.
Gordon Yu é o diretor-geral da Associação HsinChu das Indústrias Verdes de Taiwan, um grupo industrial que inclui mais de 40 empresas de tecnologias sustentáveis do país. “Quando me perguntam em que sector trabalho e eu respondo sustentabilidade, ninguém percebe, em Taiwan”, explicou.“Por isso respondo ‘do berço ao berço’ e eles compreendem.” Do berço ao berço (“cradle to cradle”, em inglês) representa um sistema de design circular, que mimica a natureza, no qual o lixo é reciclado, voltando ao ciclo de produção e dando origem a produtos novos.
A empresa Etouch Innovation, da qual Gordon Yu é CEO, cria produtos como caixas de ovos a partir de fibras recicladas e, mais inusitado, violinos feitos com excedentes de vidro de smartphones. “É um instrumento tão bonito”, comentou o empresário. “Tem um som tão especial.”
Como membro da Associação das Indústrias Verdes, a Etouch Innovation também segue a filosofia da associação – usar os resíduos como um recurso e processá-los do modo mais eficiente possível, transformando-os em produtos viáveis e que podem ser comercializados.
“O rápido progresso de Taiwan na sustentabilidade deixa-me otimista”, confessou Nate Maynard. “Em várias décadas, desenvolveram sistemas de reciclagem de renome global, o que, por sua vez, criou todo um sector de outras indústrias que utilizam os produtos reciclados.”
Outras criações ecológicas desenvolvidas no país são, por exemplo, tecidos feitos de plásticos reciclados, fraldas biodegradáveis, tijolos para construção feitos de plástico, capas para telemóvel feitas de cascas de arroz e sandálias fabricadas a partir de resíduos agrícolas. Para Nate Maynard, o futuro das empresas que produzem estes produtos é, no entanto, incerto. “As atividades empresariais ecológicas em Taiwan têm dificuldade em conseguir o investimento de que precisam, devido a uma cultura de investimento de vistas curtas.”
Gordon Yu não se deixa desmotivar e, entre outros objetivos, quer criar uma estação de abastecimento instalada no mar, para converter os resíduos de plástico em combustível, reduzindo o plástico no oceano. “Taiwan sempre foi um país inovador”, declarou. “Tem vindo a reciclar há muito tempo. Na cultura chinesa, reutilizar e reciclar está nos nossos genes. É uma forma de pensar budista.”