Humanidade está a causar extinção de vida marinha “sem precedentes”
A humanidade está a causar a extinção “sem precedentes” de vida marinha, caçando e matando as espécies de maior dimensão de um modo que afetará os ecossistemas marinhos durante milhões de anos. Este é o aviso dos autores de um estudo publicado na revista científica Science, em setembro de 2016.
A equipa de investigadores analisou uma base de dados com 2497 grupos de moluscos e vertebrados marinhos dos últimos 500 anos para comparar o atual desaparecimento de espécies aos 5 episódios de extinção em massa que decorreram no passado, há milhões de anos. Descobriram que ou não existiu uma ligação entre as espécies desaparecidas e o seu tamanho ou tinham sido as mais pequenas a ficar extintas.
No entanto, nesta “sexta extinção” – como os cientistas se referem ao que está a acontecer hoje em dia –, as espécies maiores, como o tubarão-branco, a baleia-azul e o atum do Sul, estão a ser levadas ao limite devido ao facto dos seres humanos as pescarem mais frequentemente do que as de menor dimensão. As consequências para a ecologia dos oceanos poderão ser devastadoras.
“Temos observado isto vezes sem conta. Os seres humanos entram num ecossistema novo e os animais maiores são os primeiros a ser mortos. Os sistemas marinhos têm sido poupados porque até há relativamente pouco tempo, os humanos tinham de se restringir a zonas costeiras e não possuíam a tecnologia para pescar no mar profundo a uma escala industrial”, observou Noel Heim, coautor do estudo, da Universidade de Stanford.
“Se este padrão não for controlado, faltarão aos oceanos do futuro muitas das maiores espécies atualmente existentes nos oceanos”, declarou Jonathan Payne, coautor da investigação e paleobiólogo da mesma Universidade. “Muitas das espécies de grande dimensão desempenham papéis críticos nos ecossistemas e, portanto, a sua extinção poderia levar a um efeito cascata que influenciaria a estrutura e a função dos ecossistemas futuros para além do simples facto de se perderem essas espécies.”
Jonathan Payne dá como exemplo a diminuição de moluscos predadores de maior dimensão do género Charonia nos recifes de coral, uma das razões apontadas para o crescimento explosivo dos números de estrelas-do-mar-coroa-de-espinhos, que comem os corais.
De acordo com Douglas McCauley, outro dos coautores do trabalho, as espécies grandes precisam, frequentemente, de maiores habitats e o facto de os governos estarem a criar, nos últimos tempos, zonas marinhas protegidas de maiores dimensões poderá dar alguma esperança ao futuro destes animais.
“Nos últimos cinco anos (…) o mundo começou a estabelecer zonas marinhas protegidas de maior dimensão”, disse ao The Guardian. “Estas são ótimas notícias, uma vez que reservas deste tamanho vão proteger, de facto, de forma significativa os animais de grande dimensão identificados como vulneráveis.”