Aves migratórias da Europa e América “sob ameaça”, avisa estudo
Segundo um estudo do início de 2016, os caçadores – maioritariamente no Mediterrâneo oriental – capturam ou abatem ilegalmente, todos os anos, entre 11 milhões e 36 milhões de aves para alimentação, por desporto ou para o comércio de animais de estimação. Na China, por exemplo, a caça de bandos inteiros de escrevedeiras-aureoladas causou um declínio de 90% nas suas populações, outrora comuns na Eurásia.
Estes dados não explicam, contudo, o acentuado declínio que se tem verificado nas populações das aves migratórias da Europa ocidental, diz Franz Bairlein, diretor do Instituto de Investigação de Aves de Wilhelmshaven, na Alemanha, já que a rota migratória destes pássaros não inclui as zonas mais afetadas pela caça de aves.
As populações de aves migratórias que nidificam na Europa e que passam o Inverno na África subsaariana estão a diminuir mais rapidamente do que as das espécies residentes ou das espécies migratórias que passam o Inverno na Europa”, diz a sua análise publicada na revista científica Science. Estima-se que haja, hoje em dia, menos 421 milhões de aves na Europa do que havia há 30 anos, em 1980.
Aves como a rola-brava, o papa-moscas-preto, a mariquita-azul e a codorniz-comum estão “sob ameaça”. Foto: Revital Salomon
Entre os principais culpados estão a expansão e a intensificação da agricultura na Europa, que tem vindo a ocupar o habitat natural destes animais desde meados do séc. XX. Este fenómeno está a decorrer atualmente, explica Franz Bairlein, em zonas de paragem críticas na rota destas aves, particularmente a norte do Saara, na região de Magreb (principalmente em Marrocos e na Argélia), e a sul do Saara, na região de Sahel (Burkina Faso, no sul de Mali, Costa do Marfim, Gana, entre outros).
“Para atravessar obstáculos ecológicos como os oceanos e os desertos, estas aves têm de se preparar engordando imenso de forma a terem combustível para os seus voos”, diz o ornitólogo. Voando através do Saara, as regiões em ambas as extremidades do deserto funcionam para estes pássaros “como um posto de combustível, onde têm de se abastecer antes e depois do deserto”.
No entanto, com o crescimento populacional também se está a verificar, em ambas as regiões, a “perda e degradação” do habitat natural por causa do sobrepastoreio e da agricultura cada vez mais intensiva. O resultado de tudo isto poderá ser, nas palavras de Franz Bairlein, “uma primavera silenciosa”.
Migração Europa-África (os pontos pretos são os locais onde ocorre a caça ilegal) | Fonte: Science
Não são só as espécies migratórias da Europa a passar por dificuldades. De acordo com Mike Parr, da organização American Bird Conservancy, a situação na América não é muito diferente. Os tordos-dos-bosques, por exemplo, passam o Inverno na América Central, onde muitos países já perderam metade da sua cobertura florestal original. A perda desse habitat significa que as fêmeas, que fazem o caminho de volta através do Golfo do México, podem não estar em condições para a postura de ovos, quando regressam na Primavera. Para somar à lista de problemas, as florestas onde estas aves nidificam encontram-se muito fragmentadas, o que as deixa mais vulneráveis a predadores, como os guaxinins e os corvos, conta o Takepart.
Apesar de tudo, ambos os cientistas mostram-se otimistas. Segundo eles, as estratégias para a utilização sustentável do solo fazem parte da solução. Há alguns indícios, por exemplo, de que as acácias no habitat seco a sul do Saara não são só benéficas para as aves migratórias, como também aumentam a humidade dos solos, o que, por sua vez, ajuda a aumentar a produtividade das plantações.
Para Mike Parr, existem pequenas mudanças que podem ser vitais para a preservação destas espécies. O cientista aponta os esforços que estão a ser realizados pelo Serviço de Conservação dos Recursos Naturais do Departamento de Agricultura dos EUA para introduzir habitats mais variados no nordeste do país, uma vez que falta às florestas dessa região a diversidade de que muitas aves migratórias necessitam para prosperar. “Têm um programa muito ativo”, diz. “Não querem ver espécies a ficar ameaçadas porque isso não é bom para ninguém.”
Os cientistas salientam ainda a importância de acordos internacionais como a Convenção sobre a Diversidade Biológica, que pretende que, até 2020, as reservas naturais e outras áreas protegidas ocupem 17% da superfície terrestre. “Os instrumentos políticos necessários (…) já existem”, escreveu Franz Bairlein. “Só precisamos de agir.”
amélia sousa
Temos que reactivar os nossos,observando a Natureza e amá-la
22 de Janeiro, 2017