O único chocolate cru de alfarroba é delicioso e português – Casa do Bosque
A Casa do Bosque é uma marca portuguesa de produtos artesanais, criada em 2014, que produz chocolates crus de alfarroba através de processos ancestrais como a germinação e a desidratação ao sol dos frutos e sementes.
O UniPlanet falou com Vasco Loubet da Casa do Bosque para conhecer melhor este projeto.
UniPlanet (UP): Como nasceu a Casa do Bosque?
A Casa do Bosque foi criada por mim (Vasco Loubet) e pela Sara Oliveira numa fase das nossas vidas, em que estávamos a procurar fazer as nossas escolhas coincidirem cada vez mais com o que acreditávamos. A Sara é neta e filha de boas cozinheiras, e eu sou neto e filho de artesãos. Ambos crescemos no Ribatejo, eu numa aldeia ribeirinha do Tejo, e a Sara numa aldeia do alto Ribatejo. A partir do final da adolescência, ambos vamos viver para Tomar, onde acabamos por nos conhecer.
Estes trajetos acabaram por delinear as características gerais da Casa do Bosque: um carácter artesanal muito presente, num registo de admiração para com a natureza que se traduz num compromisso ecofriendly.
Só mais tarde, já nas Caldas da Rainha, onde vivíamos e onde tínhamos um projeto embrionário do atual, nasce a ideia da Casa do Bosque. Tínhamos feito o percurso gradual para nos tornarmos veganos, mas profissionalmente, esse projeto-embrião, não tinha o potencial que idealizávamos ser necessário para vingar no mercado sendo assumidamente veganos. Consistia num negócio itinerante para o qual tínhamos marca registada, uma banca interessante, clientes habituais, mas ao qual faltava a afirmação. Resolvemos voltar atrás, criando então uma nova identidade, e regressámos ao Ribatejo, para instalar um projeto invulgar assente numa confeção 100% vegetal. Assim nasceu a Casa do Bosque, um pequeno projeto que nos dá muitas preocupações, mas que acima de tudo nos permite sermos genuínos, também a título profissional. Assim, uma parte significativa do nosso dia é utilizada para promover ativamente outra forma de estar, sobretudo para com o meio ambiente e para com os animais que nos rodeiam.
UP: Porque fizeram da alfarroba o vosso ingrediente de eleição?
A escolha da alfarroba vem de um dos esteios do outro projeto. Na altura tínhamos um produto à base de amêndoa, que utilizávamos por ser um produto português, com produção nacional e que tem além de amplas aplicações na cozinha, um elevado potencial nutritivo. A alfarroba é tudo isto, mas ainda tem a mais-valia, de ter açúcares naturalmente presentes. Isto faz dela um parceiro muito útil para fazer chocolates.
UP: Para além da alfarroba, o que torna os vossos chocolates únicos?
Se calhar a maior parte das pessoas, não tem noção de que um chocolate artesanal é feito a partir dos ingredientes base. É feito a partir do nada. É quase uma arte. É um processo exigente, em que tudo tem de estar naquele ponto para funcionar, caso contrário o produto final é um desastre. Juntar a este processo um ingrediente nacional (a alfarroba), diretamente relacionado com a nossa gastronomia e sendo o seu uso, potencialmente revigorante para a economia, já nos seria suficiente para nos orgulharmos do que estamos a fazer.
A verdade é que não criámos o chocolate com esse objetivo, mas é de facto o único chocolate a ser produzido com essas características. Somos o único produtor mundial a fazer um chocolate cru de alfarroba. Além disso, o produto é 100% vegetal, vegano e biológico.
Sabemos que estamos a falar de chocolate, um produto típico da Suíça ou da Bélgica, mas este é feito pelas mãos de portugueses, dando destaque e novas aplicações a ingredientes nacionais.
Adicionalmente, como entendemos que a prova deve ser um momento de introspeção, decidimos aplicar no interior da embalagem, uma frase de um dos grandes pensadores Portugueses. É um mote para a prova que se descobre ao abrir. É uma forma de tornar esse momento especial.
UP: Para quem não conhece, podem explicar-nos o que é um chocolate cru?
Um chocolate cru, ou outro produto transformado designado como cru, é um produto confecionado, a ponto de manter todas as características nutritivas inicialmente presentes nos ingredientes. Em termos mais concretos, os ingredientes nunca ultrapassam os 42 graus, temperatura tida como o ponto em que os alimentos sofrem uma transformação química, vulgarmente designada de cozedura. Isto significa que os métodos utilizados, garantem que o potencial nutritivo dos frutos, sementes, folhas, etc., está lá todo. Desse ponto de vista, é como que uma réplica da colheita de frutos frescos no bosque ou no pomar.
UP: Qual é a importância da agricultura biológica e da produção local na filosofia da vossa empresa?
É de tal maneira importante, que decidimos resumir a nossa gama aos produtos que temos com certificação biológica. A produção biológica é uma forma mais justa e mais simpática de disponibilizar matéria-prima para a indústria. O meio ambiente é mais protegido, a natureza é vista como parceira da produção, os produtos nascem e desenvolvem-se tendencialmente na época que devem ser produzidos. O resultado final, são produtos plenos de sabor e isentos de substâncias químicas nocivas para o nosso organismo.
UP: Têm vários sabores. Qual é o chocolate mais popular?
Sim, neste momento dispomos de sete sabores, estando na calha um oitavo que queremos que seja especial. Felizmente temos sido surpreendidos por não conseguirmos eleger um para essa distinção. Quando pensamos que o de Limão irá sair melhor, por exemplo num evento, surpreende-nos o de Figo & Tomilho com uma saída acima do normal. É difícil de dizer, e isso deixa-nos muito satisfeitos.
UP: Ainda se lembram do primeiro chocolate que fizeram? Como correu essa experiência?
O primeiro chocolate foi uma lástima! (risos) Não se parecia com chocolate e quase dava para comer à colher. Creio que sem querer fizemos uma mousse, querendo apenas criar uma tablete. O chocolate artesanal tem daqueles processos de fabrico que nos está sempre a recolocar no nosso devido lugar. Quando nos começamos a convencer que já o dominamos, eis que o processo se revela autoritário e nos manda sentar sossegadinhos…
UP: Onde podemos encontrar os chocolates crus de alfarroba da Casa do Bosque à venda?
Hoje, podemos dizer que estamos um pouco por todo o país. Ainda não temos uma distribuição massificada, mas o crescimento tem sido consistente, e já estamos em diversos pontos, de Vila Verde a Faro, com especial incidência na zona de Lisboa. Os mercados vegetariano/vegano e o biológico, estão a crescer e o nosso produto tem tido bastante boa aceitação, felizmente. Estamos em cerca de 20 lojas mas seria bastante engraçado chegarmos aos pontos mais remotos. Imaginem o que não será a sensação, de vermos alguém em Vila Real St. António, em Caminha ou noutro ponto qualquer, a consumir algo feito por nós com o empenho que sabemos que lá investimos. Não deve ter valor.
UP: Quais os principais desafios que enfrentam ao fabricar os vossos produtos e divulgar a vossa marca?
Nós gostamos de pensar que concorremos diretamente com as outras marcas de chocolate já fortemente implementadas. Quando lançámos o chocolate, apenas uma semana depois, estávamos a fazer um grande teste no Festival Internacional do Chocolate de Óbidos, onde fomos apresentados como a novidade vegana. O desafio a que nos propusemos foi de conseguir um produto à altura dos que as pessoas estão habituadas a consumir. Assim estivemos a dar a provar o nosso chocolate vegano, e a perceber o seu potencial, a pessoas habituadas ao chocolate convencional. A verdade é que o mercado que queremos atingir está longe de se esgotar nos nichos de consumidores. Apesar de o nosso produto ser especialmente destinado a quem quer um produto 100% vegetal, biológico, feito com os cuidados que lhe confere a produção artesanal, achamos que estes produtos devem ser direcionados para todos. Queremos que o chocolate seja apetecível para todos os que querem consumir um bom produto. No fundo o grande desafio é produzir com uma elevada qualidade, concorrendo com produtores instalados, consolidando a nossa posição através da nossa filosofia.
UP: O que se segue para a Casa do Bosque? Algum produto novo em que estejam a trabalhar?
Para já queremos criar o oitavo passageiro desta aventura. Queremos criar um companheiro para os outros sete que já existem e queremos que este seja um processo especial. É claro que o trajeto que pensámos ainda não está concluído, mas isso são trilhos do bosque por onde nos atreveremos a ir e teremos o gozo de descobrir mais tarde.
Vejam mais no site da Casa do Bosque e no Facebook.
Jorge Rocha
Cuidado com os títulos. Está longe de ser o único mas ainda bem que existe e é português.
20 de Março, 2017