Caça de troféus em África “insignificante” para as economias locais, diz relatório
São exageradas as alegações sobre a contribuição da caça de troféus para as economias dos países africanos, conclui um novo estudo económico realizado pela equipa Economists at Large.
O relatório, encomendado pela organização Humane Society International (HSI), revelou que a caça de troféus em oito países africanos – Botswana, Etiópia, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué – representa apenas 0,78% ou menos do valor total gasto pelos turistas e tem um “impacto mínimo” no emprego, gerando cerca de 0,76% ou menos dos empregos no sector do turismo.
Perante uma economia do turismo que depende fortemente dos recursos da fauna selvagem, a caça de troféus é relativamente insignificante”, declararam os autores do estudo.
Ao passo que o sector do turismo é responsável por 2,8% a 5,1% do produto interno bruto (PIB) nos oito países estudados, a contribuição económica total dos caçadores de troféus representa, no máximo, 0,03% do PIB, segundo estimativas dos economistas. Os caçadores estrangeiros perfazem menos de 0,1% dos turistas na região estudada.
A análise refuta, desta forma, os dados de um relatório de 2015 encomendado pelo Safari Club International (SCI), que, nas palavras da Humane Society, “exagerou a contribuição económica da caça de troféus na África subsaariana e é frequentemente citado pelos caçadores para justificarem as suas atividades de ‘pagar para matar’”.
Segundo alegações do SCI, o contributo do turismo ligado à caça é de 400 milhões de euros por ano. Na verdade, nos oito países estudados, o valor não chega aos 124 milhões de euros, ou 0,78% dos 16 mil milhões de euros gastos anualmente pelos turistas.
“Há demasiado tempo que os caçadores de troféus têm tentado justificar a sua atividade alegando falsamente que esta matança ajuda as economias locais”, disse Masha Kalinina, especialista em políticas do comércio internacional da HSI. “Como este novo relatório demonstra, essas alegações são uma farsa. Nos países africanos estudados, a caça de troféus não contribui praticamente nada para as economias locais ou empregos e é insignificante quando comparada ao turismo em geral, incluindo os eco safaris dependentes das mesmas espécies de animais cujas populações os caçadores dizimam. É tempo de parar de fingir que matar caça grossa e posar para selfies mórbidas junto aos seus corpos sem vida é mais do que matar por gozo.”
A caça de troféus também compromete os esforços de conservação, já que as quotas de caça são frequentemente estabelecidas sem uma base científica sólida. Os caçadores matam os animais mais fortes, críticos para fortalecer o fundo genético das espécies, ou ignoram as restrições de idade, o que faz com que, por exemplo, sejam mortos leões jovens, antes de estes terem contribuído para o fundo genético. A corrupção previne que as verbas da caça cheguem aos esforços de conservação, diz a HSI.
O Safari Club International é uma organização internacional de caçadores com mais de 50 mil membros. O clube oferece prémios em dezenas de categorias, como “Ursos do Mundo”, “Os animais nativos da América do Sul” ou ainda o “Caçador Mundial do Ano”. Para este último título, o caçador tem de matar mais de 300 animais em todo o mundo.
Em 2017, a convenção do SCI vai leiloar quase 1000 mamíferos para serem caçados – entre os quais um urso polar do Canadá (uma caça no valor de 68 000€) e dois elefantes da Namíbia (respetivamente 23 000€ e 33 000€).