Estamos a comer os nossos casacos polares? Provavelmente sim, dizem cientistas
Cada vez que lava os seus casacos e camisolas polares, milhares de minúsculas fibras de plástico – as microfibras – são libertadas para a água de lavagem. Estas microfibras, que medem menos de 1 mm, passam através dos filtros das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) e vão parar aos terrenos agrícolas, aos rios e ao mar, onde são uma ameaça para os animais marinhos que as ingerem. Mas não se ficam por aí: acabam mesmo por voltar às nossas casas – nos nossos pratos.
Estaremos então a comer as fibras sintéticas da nossa roupa? Provavelmente, diz Chelsea Rochman, bióloga da Universidade de Toronto.
“[O plástico] infiltrou-se em todos os níveis da cadeia alimentar nos ambientes marinhos e provavelmente nos de água doce e por isso agora estamos a vê-lo voltar para nós, dentro dos nossos pratos”, conta a bióloga.
Para calcular a quantidade de microfibras libertadas nas máquinas de lavar, a Universidade de Califórnia em Santa Barbara realizou um estudo em parceria com a marca de roupa desportiva Patagonia. Os investigadores descobriram que cada lavagem de um só casaco polar de poliéster libertava 250 000 fibras sintéticas. Com base nos números de vendas, a equipa calculou que, por ano, cerca de 100 000 destes casacos são utilizados no mundo e que a sua lavagem produziria plástico suficiente para fazer 11 900 sacos de plástico.
Nos últimos tempos, têm-se multiplicado os estudos sobre as microfibras e a sua presença nos oceanos, dentro dos peixes e do marisco e até em sal de mesa. Segundo um estudo de 2011, estas fibras sintéticas perfazem 85% dos resíduos resultantes da atividade humana nas costas de todo o mundo.
“Se come peixe, está a comer plástico”, afirmou Gregg Treinish, diretor executivo da organização Adventurers and Scientists for Conservation. De facto, segundo estimativas dos cientistas da Universidade de Ghent, na Bélgica, os consumidores de peixe e marisco ingerem até 11 000 microplásticos por ano, dos quais cerca de 60 são absorvidos para a corrente sanguínea e se vão acumulando no corpo, com o passar do tempo.
A poluição de microfibras já alcançou as profundezas marinhas. “É bastante assustador”, contou Michelle Taylor, autora de um estudo sobre a ingestão de microfibras por organismos do fundo do mar. “Estávamos a alguns milhares de quilómetros de terra, quase a 1000 metros de profundidade e não só estavam as microfibras lá, como havia animais a comê-las.”
Embora só agora comece a ser estudado o impacto dos microplásticos no ambiente e na saúde humana e dos animais, vários estudos têm sugerido que estes se podem acumular nos aparelhos digestivos dos animais, reduzir a capacidade de alguns organismos absorverem energia dos alimentos e aumentar a mortalidade de outros organismos. Além disso, as microfibras podem agir como “esponjas”, acumulando químicos, como pesticidas, e envenenando a cadeia alimentar.