Plantar árvores salva vidas e é um dos melhores investimentos que uma cidade pode fazer
“Muitas cidades continuam a ver as árvores apenas como decoração. Mas elas realmente fazem muito mais do que isso. E os indícios sugerem que deveríamos começar a pensar nas árvores como uma parte decisiva da nossa infraestrutura de saúde pública”, disse Rob McDonald, cientista do programa Global Cities da organização Nature Conservancy.
Segundo um relatório do qual foi coautor, uma campanha de arborização bem concebida pode contar-se entre os investimentos mais inteligentes que uma cidade quente e poluída pode fazer.
Ao longo dos anos, dezenas de estudos têm revelado os benefícios do arvoredo para a saúde pública.
Sabia que as árvores podem salvar vidas?
Em primeiro lugar, elas filtram o ar e ajudam a remover as partículas finas emitidas pelos carros, centrais elétricas e fábricas, responsáveis por danificar os pulmões e causar a morte a cerca de 3,2 milhões de pessoas por ano. Embora o seu efeito varie de cidade para cidade, de um modo geral, as árvores melhoram a qualidade do ar.
Outro aspeto importante é o da temperatura. O arvoredo urbano consegue arrefecer os bairros entre 0,5˚C e 2˚C, nos dias de Verão mais quentes – um fator que pode ser vital durante vagas de calor. Estudos revelaram que cada grau adicional numa vaga de calor leva a um aumento de 3% ou mais na taxa de mortalidade.
De acordo com o relatório da Nature Conservancy, uma nova campanha para plantar árvores em grande escala nas 245 maiores cidades do mundo, custando aproximadamente 3 mil milhões de euros no total, poderia salvar entre 11 mil e 36 mil vidas por ano, graças a uma diminuição dos níveis de poluição. Entre 200 e 700 mortes causadas pelas ondas de calor também seriam evitadas, conta a Vox.
As vantagens não se ficam por aqui: como as árvores arrefecem os bairros, a sua presença pode resultar em poupanças de energia devido à diminuição do uso do ar condicionado. Para além do embelezamento visual, o arvoredo também retém a água da chuva, contribui para a valorização dos imóveis e para uma melhor saúde mental.
Os investigadores sugerem que, em média, uma campanha de arborização bem gerida é tão rentável, em traços gerais, quanto outras estratégias para reduzir a poluição, devendo ser usada em conjunto com estas e não em sua substituição.
No entanto, a arborização tem de ser bem planeada e gerida, atendendo a fatores como as características das espécies arbóreas (adaptação ao clima e solo, eficiência na redução da poluição), a localização e o espaçamento entre as árvores, os padrões do vento e a disponibilidade de água, etc.. Algumas cidades cometem o erro de não plantar um conjunto variado de espécies, o que pode levar a que as árvores sucumbam todas à mesma doença. Devem-se também evitar as árvores que aumentam os níveis de pólen no ar e as alergias.
O estudo revela que, das cidades analisadas na Europa, Lisboa seria a nona que mais beneficiaria com a plantação de árvores, relativamente à diminuição do calor urbano. A nível global, o retorno sobre o investimento na arborização é mais elevado em cidades densamente povoadas com níveis consideráveis de poluição atmosférica, como no México ou nos países do sudeste asiático. A seguinte tabela mostra as 10 cidades onde se verifica o maior retorno sobre o investimento, tanto a nível da redução da poluição como do calor.
Considerando todos os seus benefícios, o que é que está a impedir as cidades de investir mais na arborização? Em alguns casos, a escassez de água e de espaço. Os cientistas apontam ainda outras barreiras, como a manutenção do arvoredo. Depois de plantadas, as árvores têm de ser devidamente cuidadas – protegidas contra doenças, podadas, etc. –, o que requer pessoal qualificado e maiores investimentos. Rob McDonald realça ainda o facto de haver muitas cidades que não vêem o arvoredo como uma medida de saúde pública.
“A nossa ideia sobre o que as árvores podem trazer para as cidades tem mudado com o tempo”, disse o cientista. “Talvez seja altura de se repensar o seu papel mais uma vez.”