Tem roupa que já não usa? Troque-a no Global Fashion Exchange

Tem roupa que já não usa? Troque-a no Global Fashion Exchange

7 de Março, 2017 0

Fundado em 2013, o Global Fashion Exchange (GFX) é uma plataforma que promove a sustentabilidade na indústria da moda através de fóruns, conteúdos educativos, eventos culturais e trocas de roupa (Mercados Swap). Durante as várias edições, já evitou que 19 toneladas de roupa fossem desperdiçadas e enviadas para aterros.
Nos dias 11 e 12 de março, o GFX vai realizar-se em Lisboa, no CCB, no âmbito da ModaLisboa. O Mercado Swap vai ter lugar no dia 12 de março, entre as 17:00 e as 19:30, e o público pode trocar peças que já não usa, renovando o seu guarda-roupa de graça e evitando o desperdício deste vestuário.

O UniPlanet falou com Patrick Duffy, fundador do Global Fashion Exchange, para saber mais sobre esta iniciativa.

UniPlanet (UP): Quando e como nasceu o Global Fashion Exchange (GFX)? O que o levou a criar uma plataforma que promove a sustentabilidade na indústria da moda?

A ideia surgiu em 2012, durante uma visita à Copenhagen Fashion Week. Fiquei muito impressionado com o compromisso de sustentabilidade deles e a forma como abordam o problema da indústria da moda, que atualmente é uma das que mais resíduos produz no mundo. Foi nesta viagem que participei numa troca de roupa e, na minha cabeça, fez-se luz. Decidi então criar uma moeda à qual todos têm acesso – a roupa que já não se usa e que ocupa um espaço considerável nos nossos armários. Depois de descobrir mais sobre os enormes desafios que a indústria da moda enfrenta e que a maioria do trabalho que eu estava a fazer na indústria estava a contribuir para o problema, decidi mudar. Com toda a minha experiência em marketing e em grandes (e pequenos) eventos por todo o mundo, eu sabia o que era preciso fazer: tornar a sustentabilidade sofisticada e sexy, já que esta era a única forma de conseguir que os consumidores, as marcas e as grandes empresas participassem e mudassem. E aqui estamos nós!

UP: O que acontece durante um Mercado Swap e como podem as pessoas participar?

É muito simples. As pessoas vão aos seus armários e retiram as roupas que já não vestem – o que representa, em média, cerca de 30% da roupa num armário. Depois trazem essas roupas para o Mercado Swap e nós pesamo-las e organizamo-las. Pesamos as peças porque queremos saber a quantidade de vestuário que conseguimos evitar que vá parar ao aterro e dividimo-las em duas categorias “High Street” (H&M, Zara, GAP) e “High End” (Marc Jacobs, Prada, Armani). Depois das pessoas deixarem as roupas na entrada, recebem um bilhete onde fica registado o número de peças que trouxeram. Temos um sistema de um para um, o que significa que se trouxer um artigo pode levar outro. Se trouxer duas blusas da H&M e um cinto Prada, pode levar dois artigos da secção “High Street” e um da “High End”. Fazemos o Mercado Swap como uma boutique divertida, com música, cultura e muita animação, para que as pessoas se divirtam muito enquanto fazem as trocas. É um evento social muito animado!

UP: O que acontece às roupas que não chegam a ser trocadas?

Trabalhamos com a I:CO (I Collect), que é a nossa parceira de reciclagem para este evento. A I:CO recolhe qualquer vestuário ou têxtil deixado para trás e envia-o para o seu centro de reciclagem para que seja transformado em artigos novos. É muito importante para nós fechar o ciclo e garantir que não estamos a criar mais resíduos do que aqueles com que começamos. Eles têm-nos apoiado muito e ajudaram-nos a definir os elementos educativos do GFX que permitem às pessoas aprender mais sobre a reciclagem de têxteis. Visitem a I:CO aqui .

UP: A indústria da moda enfrenta uma série de problemas, particularmente no que diz respeito ao seu impacto ambiental e à prevalência de violações dos direitos dos trabalhadores. Foi considerada a segunda indústria mais poluidora do mundo e vários relatórios recentes têm denunciado a existência de trabalho infantil e forçado nas suas cadeias de fornecimento. Acredita que a moda pode ser sustentável?

Esta é a parte difícil. Há um conflito aqui e as grandes marcas e empresas de fast-fashion não querem que nós vejamos quão destrutivas são e a quantidade de resíduos que produzem. Ao fim do dia, aquilo em que estão interessadas é nas vendas e no dinheiro e muitas marcas dão prioridade a isso em vez de se preocuparem em ser empresas conscientes que se importam realmente com a sua pegada ecológica, o seu impacto e a forma como os seus trabalhadores são tratados.

Se pensarmos na forma como a indústria mudou nos últimos 40-50 anos, vemos que fomos treinados pelos media e pelas marcas, que querem que compremos os seus produtos e que os façamos ganhar muito dinheiro. Quanto mais compramos, mais dinheiro eles recebem, é bastante simples. Se pensarmos nisto desta forma: uma empresa de fast-fashion tem mais de 5 mil lojas e efetua mais de 21 entregas por ano – é uma enorme quantidade de vestuário e de resíduos que são produzidos. De um modo geral, a roupa não dura assim tanto tempo, por isso as pessoas são forçadas a regressar ao ciclo e a comprar mais, criando um ciclo muito destrutivo que vai muito além do lixo nos aterros. São os recursos, a utilização de água, as embalagens, a poluição, os resíduos… Percebem o que quero dizer.

Para responder à vossa questão: sim, acho que pode ser sustentável, MAS algo precisa de mudar e precisa de mudar agora. Não amanhã ou na próxima semana… agora! Precisamos que as pessoas se manifestem, trabalhem com as empresas e exijam mudanças. O que estamos a fazer com o GFX é a mostrar às pessoas que ser mais consciente e fazer a escolha certa é sexy!

Outro exemplo fantástico é um projeto chamado “Fashion Revolution”, uma campanha mundial para informar as pessoas sobre quem fez realmente as suas peças de roupa e de onde vêm. Iniciativas como esta despertam interesse nos consumidores e permitem-lhes fazer escolhas que (esperemos) conduzirão a uma indústria mais sustentável. Vai ser preciso muito trabalho, mas as marcas e as empresas estão, mais do que nunca, a começar a escutar e a ir na direção certa.

UP: Também é preocupante o facto de as pessoas estarem a usar as suas roupas, em média, apenas sete vezes, antes de perderem interesse nelas. Que conselhos dá aos consumidores para que as suas escolhas sejam mais sustentáveis?

Como uma das minhas referências, Vivienne Westwood, diz: Compre menos, escolha melhor. E se isso não for uma hipótese para si, uma vez que gastar muito dinheiro em artigos de luxo não é possível para todos, procure peças bem feitas em lojas vintage, de artigos em segunda mão ou em trocas de roupa e leve-as a serem ajustadas, de forma a que lhe assentem na perfeição. Os artigos vintage costumam ser muito bem feitos e têm tão bom aspeto, se não melhor, do que os artigos novos.

UP: Para terminar, quais são as 3 razões por que não devemos perder o GFX?

Esta é a pergunta mais difícil de todas! Estou a brincar! Ao virem ao GFX estão a mostrar o vosso apoio e interesse em fazer a DIFERENÇA. Serão parte de uma comunidade global de pessoas que pensa da mesma forma, terão acesso a muitas peças de roupa novas, divertidas e elegantes, às quais poderiam não ter tido acesso e é DIVERTIDO! É um evento social e uma festa, tiram-se fotografias, dança-se um pouco, bebem-se sumos biológicos frescos, partilham-se histórias e conhece-se gente nova. Quem não quereria vir?

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