Foodsharing: a economia da partilha na luta contra o desperdício alimentar
No mundo, desperdiçam-se 1300 milhões de toneladas de alimentos, ou um terço de toda a comida, por ano, o que chegaria para alimentar os cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome.
A Europa desperdiça 88 milhões de toneladas de alimentos por ano, sendo os piores ofensores a Holanda, a Bélgica, o Reino Unido, a Alemanha e a França.
Para produzir os alimentos que acabam no lixo, utilizam-se 30% das terras agrícolas do mundo e 250 milhões de litros de água – o mesmo que a cidade de Nova Iorque consumirá até 2134,
conta o jornal La Vanguardia.
Embora a Alemanha seja um dos países europeus que mais desperdiçam, os alemães têm vindo a desenvolver novas iniciativas para combater este problema. Uma delas é o foodsharing.
O que é o foodsharing?
Em 2012, um grupo de amigos decidiu tentar juntar a “economia da partilha” – usada para partilhar ou trocar carros, casas, eletrodomésticos, etc. – à luta contra o desperdício alimentar. Foi assim que surgiu o foodsharing, uma plataforma digital sem fins lucrativos, onde se pode partilhar a comida que não se vai comer.
“Queremos trazer esta ideia de partilhar de volta ao mundo moderno porque a comida não é só uma mercadoria”, explica um dos fundadores do projeto, o realizador Valentin Thurn. “Deveria ser vista como algo diferente, como a base da nossa vida.”
O convite é simples: se tem sobras da festa de ontem à noite, partilhe-as no site. Se lhe faltam ingredientes para fazer um bolo, procure-os entre os diversos produtos oferecidos na plataforma. “Vê-se no site o que está disponível no nosso bairro”, explica Barbara Merhart, coordenadora do site. “Depois combina-se, com a pessoa que disponibiliza a comida, o local de encontro.”
Desta forma, o foodsharing já conseguiu evitar o desperdício de 8000 toneladas de alimentos, tendo-se expandido para países como a Áustria, Suíça, México, Israel e o Reino Unido. “O desperdício alimentar tornou-se um tópico muito discutido cá [na Alemanha]”, conta Barbara Merhart ao The Guardian. “O desperdício alimentar e a economia da partilha são uma boa combinação. Pessoalmente, já não compro artigos da mercearia. Para quê gastar dinheiro neles?”
O serviço não se destina apenas às pessoas com poucos recursos: à semelhança de Barbara Merhart, muitos dos utilizadores da plataforma são universitários e profissionais de todos os tipos, desde advogados a operários, que querem evitar que mais comida acabe no lixo.
“A ideia original era que as pessoas colocassem no nosso site as sobras que tinham no frigorífico e que quisessem oferecer”, diz a coordenadora. “Mas agora as lojas, padarias e restaurantes também estão a participar.”
Numa padaria em Berlim, o padeiro explica que está feliz por doar comida para o projeto. “Com esta partilha de comida, temos a oportunidade de fazer algo bom”, conta. Os artigos dos supermercados e outros estabelecimentos são recolhidos por voluntários para depois serem distribuídos.
“Com a comida, obviamente que existe um risco para a saúde associado, por isso precisávamos de estabelecer algumas regras”, explica Valentin Thurn. Sendo assim, a plataforma não disponibiliza carne ou outros produtos com data-limite de consumo, dedicando-se aos alimentos que indicam “consumir de preferência antes de…”.
Os utilizadores são encorajados a classificar, no site, os produtos que recebem. “E esta é a coisa mais surpreendente: tivemos reclamações, talvez, sobre o facto de esta ou aquela pessoa não serem muito simpáticas, mas nunca sobre a qualidade da comida”, diz o cofundador do foodsharing.
Para além do foodsharing, existem outros sites ou apps dedicados ao combate ao desperdício. Nalguns, os utilizadores trocam algo que têm em excesso por algo de que precisam; noutros, estabeleceu-se uma rede de troca de pratos feitos em casa para quem, por exemplo, exagerou na quantidade de marmelada ou caril que cozinhou.
Em Portugal, existe um grupo no Facebook dedicado à partilha de alimentos: visite-o aqui.
“[Cada vez somos mais] conscientes da grande quantidade de comida que se deita fora e que todavia está apta para o consumo, enquanto outra parte da humanidade morre de fome”, disse Luis Tamayo, da organização OuiShare, que promove a economia da partilha. “Não se pode continuar a tratar a comida como uma mercadoria, como um produto com o qual se especula para que seja mais rentável.”