Podemos ser a última geração a ver os elefantes de África

Podemos ser a última geração a ver os elefantes de África

9 de Junho, 2017 0

Elefante e cria

Depois de um declínio de 30% nos números dos elefantes das savanas africanas em menos de uma década, os conservacionistas avisam que a extinção destes animais poderá ocorrer no espaço de uma geração. Com menos de 415 000 elefantes africanos na natureza e com uma perda anual estimada de 8%, a sua sobrevivência está seriamente comprometida.

Esta espécie poderá ficar extinta durante o nosso tempo de vida, em 10 ou 20 anos, se esta tendência se mantiver”, disse Dune Ives, investigadora da organização Vulcan. “Dentro de cinco anos podemos ter pedido a oportunidade de salvar este animal magnífico e emblemático.”

A caça furtiva, impulsionada pelo comércio de marfim, é uma das principais ameaças que estes animais enfrentam. Em apenas três anos, entre 2010 e 2012, foram mortos 100 000 elefantes por causa do seu marfim. Na África Central, 65% dos elefantes-da-floresta foram abatidos pela mesma razão, entre 2002 e 2013.

Segundo o Grande Censo dos Elefantes, os caçadores furtivos mataram metade dos elefantes de Moçambique em apenas 5 anos, ao passo que a Tanzânia perdeu 60% dos seus elefantes durante o mesmo período de tempo.

A maioria do tráfico de marfim tem como destino a China e o sudeste asiático, onde a posse de joalharia, figuras religiosas, utensílios e bugigangas deste material continua a ser vista como um símbolo de status pelas classes média e alta em crescimento.

Elefante africano
Foto: Joel Mbugua

Para tentar fazer face a este problema, o governo chinês anunciou que vai proibir o comércio doméstico e a transformação de marfim até ao final de 2017, tendo já encerrado 67 fábricas e lojas deste produto. No entanto, o principal mercado de marfim neste país é o negro. Quando se contabiliza o número de peças, ao invés do peso, mais de 90% dos artigos de marfim vendidos na China são ilegais.

No mês passado, a Comissão Europeia anunciou que vai proibir a exportação de marfim em bruto adquirido antes de 1990. O impacto que estas intervenções terão na proteção dos elefantes africanos fica por saber.

Em 2016, a proposta para transferir os elefantes da Namíbia, África do Sul, Zimbabué e Botswana – países onde vivem quase dois terços dos elefantes africanos – do Apêndice II para o Apêndice I da CITES, que proíbe todo o seu comércio, foi rejeitada com 71 votos contra. A próxima convenção só se realizará em 2019.

manada de elefantes africanos
Foto: Larry Li

O que aconteceria se os elefantes africanos ficassem extintos? “Os elefantes são uma espécie fundamental”, explica Rory Young ao The Huffington Post. “Eles têm um efeito profundo no ecossistema. Quando se protege um elefante, protege-se o ambiente e todos os animais à volta dele.”

Contudo e mesmo perante todos estes dados desencorajadores, o conservacionista considera que a extinção destes animais majestosos não é um “desfecho inevitável”. “Podemos travá-la”, disse, acrescentando que este tem de ser um esforço coletivo.

“Não se trata só de um grupo. Não são os caçadores furtivos africanos, não é a China, é toda a gente. É preciso que os governos africanos façam algo em relação aos caçadores furtivos no terreno; é necessário um sistema educativo que ensine as pessoas – as crianças nas escolas, os camponeses – que lhes diga que isto é errado. O mesmo é válido para as pessoas na Ásia, que estão a comprar os produtos. Não devia ser fácil comprar marfim. Não deveria ser encarado com ligeireza.”

Quando uma criança aprende o que há de errado no comércio de marfim “poderá dizer ao seu pai para não comprar esse abre-cartas em marfim, para optar antes por um de ouro. É preciso todo um movimento à nossa volta para resolver este problema. Todos são responsáveis; a culpa é de todos nós”.

elefante africano atira terra sobre as costas
Foto: Kirsi Kataniemi

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