Aves fogem em massa dos fogos de artifício, revela estudo

Aves fogem em massa dos fogos de artifício, revela estudo

19 de Julho, 2017 0

 

Uma equipa de investigadores dos Países Baixos monitorizou os movimentos das aves selvagens durante as celebrações de Ano Novo de três anos consecutivos, utilizando um radar meteorológico.

Os dados que obtiveram revelaram que, a partir da meia-noite, altura em que começaram os espetáculos de fogo de artifício, havia uma “explosão” de dezenas de milhares de aves em voo. As aves em pânico atingiram altitudes de 500 metros, voando em grandes bandos durante cerca de 45 minutos.

Quais podem ser as consequências?

O facto de muitas espécies de aves não serem dotadas de uma boa visão noturna significa que, à semelhança de uma multidão a tentar escapar de um lugar escuro, as aves selvagens em pânico podem chocar umas contra as outras, contra edifícios, linhas de alta tensão, automóveis, postes ou árvores, especialmente em noites nubladas ou sem luar.

 

Estas colisões podem provocar lesões graves aos animais e chegar a ser fatais. Por exemplo, na véspera de Ano Novo de 2010, em Beebe, no Arkansas, os fogos de artifício terão causado a morte de cerca de 5000 aves.


Um dos milhares de tordos-sargentos que apareceram mortos na passagem de ano no Arkansas | Foto: Reuters

Nos Países Baixos, os cidadãos podem detonar os seus próprios fogos de artifício na véspera do Ano Novo, durante um período de quatro horas – entre as 22:00 de 31 de dezembro e as 02:00 de 1 de janeiro –, embora a maioria seja detonada nos primeiros 30 minutos a seguir à meia-noite. Esta é uma prática que os holandeses adotaram com entusiasmo por todo o país.

Vários estudos têm demonstrado que o ruído antropogénico já invadiu até as áreas naturais protegidas e que os animais terrestres e marinhos reagem com medo a uma série de distúrbios causados pelos seres humanos, incluindo o ruído, os drones, os barcos, a caça ou a mera presença humana. No entanto, ainda se sabe pouco sobre o modo como os animais reagem ao fogo de artifício.

Quantas aves há no ar no Ano Novo?

Para descobrir onde e quando a exibição de fogos de artifício em grande escala afetava as aves selvagens, os investigadores da Universidade de Amesterdão e da Real Força Aérea da Holanda utilizaram um radar meteorológico – que consegue detetar pássaros em voo – durante as celebrações de Ano Novo de 2008 a 2010.

O radar monitorizou os ecos criados pelas aves em voo a intervalos de cinco minutos, em diversas faixas de altitude, num raio de 25 km.

Os investigadores verificaram que não havia muitas aves no ar imediatamente antes da meia-noite do Ano Novo, algo que mudou drasticamente a partir da 00:05, quando se começaram a detonar os fogos de artifício por todo o país. Nessa altura, o radar detectou movimentos em grande escala das aves selvagens.

 


Figura: Série temporal dos movimentos de pássaros sobre Loosdrechtse Plassen.
(a) 2007/2008, (b) 2008/2009, and (c) 2009/2010.

 

As aves em voo elevaram-se a altitudes de 500 metros ou mais, descendo depois lentamente. “Estas altitudes excedem em muito as que estas aves atingiriam normalmente, durante voos locais e são, de facto, comparáveis às altitudes de voo medidas durante a migração”, disse Judy Shamoun-Baranes, autora do estudo e professora da Universidade de Amesterdão.

A maior densidade de aves a voar foi registada sobre lagos, zonas húmidas e várzeas, muitos dos quais fazem parte da rede Natura 2000, sendo locais protegidos de nidificação, repouso e invernada de espécies raras e ameaçadas, conta a Forbes. A equipa estimou que a maior densidade de aves no ar ao mesmo tempo pode ter chegado a 1000 aves/km2.

Os investigadores presumiram, com base em censos anuais de animais na região, que a maioria das aves presentes durante este período de tempo eram aves aquáticas – na sua maioria patos e gansos.

“Estima-se que centenas de milhares de aves tenham levantado voo, só num raio de 40 quilómetros de onde o radar se encontrava a tirar medidas”, declarou Judy Shamoun-Baranes. “Se tivermos todo o país em consideração, utilizando esta estatística, milhões de aves podem ser afetadas.”

“Estes valores são bastante assombrosos, especialmente quando se considera que as aves ficam perturbadas e abandonam as áreas que estão, de outro modo, designadas para a conservação das espécies, especialmente durante o Inverno e a estação de migração”, disse a investigadora.

Como é um país densamente povoado, as áreas de conservação de vida selvagem costumam estar localizadas perto de zonas habitadas.

“As observações nos Países Baixos são talvez extremas devido às elevadas concentrações de aves que se encontram em corpos de água no Inverno e à sua proximidade das atividades humanas.”

No entanto, com a urbanização, o crescimento populacional e a expansão da agricultura, os animais selvagens estão a ficar limitados a áreas cada vez menores e mais próximas dos seres humanos, um pouco por todo o mundo.

“Este fenómeno também foi observado na Bélgica, por isso o problema não está, claramente, restrito à área onde este estudo foi realizado”, explicou a autora do trabalho de investigação, que foi publicado na revista científica Behavioral Ecology.

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