Poluição de plástico ameaça causar “contaminação quase permanente do ambiente”
Os seres humanos produziram 8,3 mil milhões de toneladas de plástico desde os anos 50 e a maioria deste material acabou em aterros ou na natureza, poluindo os oceanos e continentes do nosso planeta, revelou um novo estudo.
Esta quantidade de plástico é equivalente ao peso de 80 milhões de baleias-azuis e a mil milhões de elefantes e, segundo os cientistas, seria suficiente para “cobrir uma área com o tamanho da Argentina – o oitavo maior país do mundo”.
Se a atual tendência de crescimento se mantiver, haverá aproximadamente 12 mil milhões de toneladas de resíduos plásticos nos aterros ou no ambiente, até 2050. Os cientistas temem que o plástico, cuja produção já ultrapassou a da maioria dos materiais feitos pelo Homem, possa causar a “contaminação quase permanente do ambiente”.
“Os resíduos plásticos que os seres humanos geraram poderão ficar connosco durante centenas ou milhares de anos”, disse Jenna Jambeck, coautora da primeira análise global da produção, uso e destino dos plásticos e professora da Universidade de Geórgia, nos EUA. “As nossas estimativas salientam a necessidade de se fazer uma reflexão crítica sobre os materiais que usamos e as nossas práticas de gestão de resíduos.”
Infográfico da autoria de Janet A. Beckley sobre a poluição de plástico.
Em 2015, 6,3 mil milhões de toneladas deste plástico já tinham sido convertidas em resíduos, dos quais apenas 9% foram reciclados, 12% incinerados e 79% acumulados em aterros ou no meio natural.
“Estamos a cobrir cada vez mais os ecossistemas de plástico e estou muito preocupado com a possibilidade de haver todo o tipo de consequências involuntárias e negativas que só descobriremos quando for demasiado tarde”, confessou Roland Geyer, investigador da Universidade de Califórnia e Santa Barbara que liderou o estudo.
O ritmo da produção de plástico não dá mostras de abrandar. Cerca de metade do plástico fabricado entre 1950 e 2015 foi produzido nos últimos 13 anos. “Devíamos olhar para estes números e perguntarmo-nos, como sociedade, se é o que queremos e se não podemos fazer melhor”, disse o investigador.
“Há pessoas vivas hoje que se lembram de um mundo sem plásticos”, afirmou Jemma Jambreck. “Mas os plásticos tornaram-se tão omnipresentes que não se pode ir a qualquer lugar sem se descobrirem detritos de plástico no nosso ambiente, incluindo nos nossos oceanos.”
Estudos recentes têm revelado a presença de plástico nos lugares mais remotos: na Antártida, nas águas do Ártico e numa das ilhas mais remotas do Oceano Pacífico, a ilha de Henderson. Até 2050, haverá mais plástico do que peixes (por peso) no mar e 99% das aves marinhas terão este material no seu aparelho digestivo.
Os produtos e embalagens de plástico que usamos durante pouco tempo estão a poluir as nossas praias, rios, oceanos e a colocar a fauna aquática em risco.
Pato-real com plástico à volta do pescoço | Foto: Ian Kirk
Algum deste plástico está até a invadir a cadeia alimentar humana: os cientistas têm descoberto microplásticos no marisco e peixe vendidos nos supermercados.
No entanto, não nos devemos esquecer dos efeitos desta poluição em terra. Roland Geyer diz-se preocupado com o impacto que pode ter nos ecossistemas terrestres.
“É dada muita mais atenção à forma como os plásticos estão a interagir com os organismos marinhos, mas sabe-se muito menos sobre a forma como os plásticos interagem com os organismos terrestes – especulo que haja algo equivalente a acontecer e que poderá, de facto, ser pior”, avisou o investigador.
Resíduos plásticos num aterro | Foto: Ben Kerckx
A produção de plástico ultrapassou a da maioria dos outros materiais criados pelo Homem. Algumas exceções a salientar são os materiais usados no sector da construção, como o cimento e o aço.
“Cerca de metade do aço que fabricamos é usado na construção, por isso terá décadas de uso – o plástico é o oposto”, declarou Roland Geyer. “Metade de todos os plásticos são descartados após quatro ou menos anos de uso.”
Os investigadores lembram que não procuram a total remoção do plástico do mercado, mas antes um exame mais crítico da sua utilização. “Acho que precisamos de observar cuidadosamente o nosso consumo extenso dos plásticos e refletir quando a utilização destes materiais faz ou não sentido”, disse Kara Lavender Law, coautora do estudo e professora da Sea Education Association.
“O que estamos a tentar fazer é criar os alicerces para a gestão de materiais sustentáveis”, disse Roland Geyer. “Dito muito simplesmente, não se pode gerir o que não se mede e por isso achamos que os debates políticos estarão mais informadas e baseadas em factos, agora que temos estes valores.”