Numa ilha remota, as crias de albatroz têm dietas repletas de lixo plástico
A ilha Midway, uma ilha remota no meio do Pacífico, é o local de nidificação de centenas de milhares de albatrozes, todos os anos.
Para alimentar as suas crias, os progenitores voam centenas de quilómetros em busca de lulas, krill e peixes, que encontram na superfície do mar. Porém, quando regressam, a comida que regurgitam para as suas crias inclui, frequentemente, outra coisa que encontram a flutuar e que confundem com alimento: plástico.
Isto significa que os filhotes passam os seus primeiros meses de vida a ingerir detritos não digeríveis. Estima-se que os albatrozes levem para a ilha Midway 4500 kg de detritos marinhos, todos os anos.
“Lembro-me de ver um adulto regressar para alimentar a sua cria e estava a ter muita dificuldade em regurgitar qualquer coisa”, conta a cientista Wieteke Holthuijzen. “Depois regurgitou uma escova-de-dentes – e a cria comeu-a. É horrível, mas, de facto, é frequente acontecer aqui.”
Esta cria de albatroz-de-laysan morreu porque as peças aguçadas de plástico que ingeriu perfuraram o seu aparelho digestivo | Foto: Claire Fackler/NOAA
Mais tarde, as aves juvenis regurgitam massas compactas de restos alimentares que não conseguiram digerir – normalmente bicos de lula e espinhas –, conhecidas como plumadas. Segundo Wieteke Holthuijzen, hoje em dia, as plumadas estão cheias de detritos plásticos.
Os objetos que mais se costumam encontrar nas plumadas são artigos leves e flutuantes, como tampas de garrafas, isqueiros e fio de pesca.
Mas nem todos têm a sorte de sobreviver a esta dieta de “comida de plástico”. As peças pontiagudas deste material podem perfurar o estômago ou os intestinos das aves marinhas, fazê-las sufocar ou provocar o bloqueio do seu trato digestivo. As crias também podem sentir uma falsa sensação de saciedade, quando têm o aparelho digestivo cheio de plástico, que as leva a deixar de ingerir comida ou água suficientes para sobreviver.
Wisdom, a albatroz-de-laysan de 66 anos, com uma cria, em 2011 | Foto: John Klavitter (Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA)
Outro problema prende-se com o facto de estes detritos acumularem poluentes tóxicos na água do mar. Testes realizados mostram que, uma vez dentro do corpo de um animal de sangue quente, estas toxinas se libertam, conta a Oceana.
A ilha Midway foi designada Refúgio Nacional para a Vida Selvagem em 1988 e é o local de nidificação da ave selvagem mais velha de que se tem conhecimento: Wisdom (“sabedoria”), uma albatroz-de-laysan com 66 anos.
Nos dias que correm, no final da época de nidificação, este refúgio fica coberto de lixo: desde plumadas repletas de plástico a carcaças de crias com estômagos cheios de lixo. “Não importa quantas vezes se veja uma cria morta, é sempre chocante e mórbido”, disse Holthuijzen.
Uma cria de albatroz alimentada pelos seus progenitores com plástico. Já foram encontradas crias com mais de 275 peças de plástico no estômago, o que, numa pessoa, seria o equivalente a ingerirem-se 10 kg de plástico. | Foto: Chris Jordan
Todos os anos, despejamos pelo menos oito milhões de toneladas de plástico nos oceanos. “Uma vez que o plástico entre no oceano, passa a ser um problema global”, defendeu Jenna Jambeck, da Universidade de Georgia, nos EUA.
Este plástico afeta muitos animais para além das aves marinhas, como tartarugas, baleias, peixes e até o plâncton. “[O plástico] infiltrou-se em todos os níveis da cadeia alimentar nos ambientes marinhos e, provavelmente, nos de água doce”, disse Chelsea Rochman, bióloga da Universidade de Toronto e coeditora de um relatório preparado para a Organização Marítima Internacional das Nações Unidas, que revelou que os fragmentos de plástico nos oceanos, rios e lagos estão a voltar para nós dentro do peixe e marisco que compramos no supermercado.
1ª foto: O atol de Midway tornou-se um refúgio para o lixo plástico (NOAA)