Pesticidas poderão levar as populações de abelhões à extinção, avisa estudo
Ao dificultar a formação de novas colónias, um pesticida frequentemente utilizado na agricultura poderá acabar por levar as populações de abelhões à extinção, disse um novo estudo publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution.
A exposição ao pesticida em causa, o inseticida neonicotinóide tiametoxam, reduz em mais de um quarto o número de ovos postos pelas rainhas, descobriram os cientistas.
Utilizando um modelo matemático para predizer o que esta redução poderia significar no mundo real, os investigadores descobriram que “aumentava drasticamente” o risco de extinção das populações locais.
“As rainhas que foram expostas ao neonicotinóide tiveram 26% menos probabilidade de pôr ovos para iniciar uma colónia”, explicou Nigel Raine, professor da Universidade de Gelph, no Canadá, e um dos autores do estudo. “Uma redução assim tão grande na capacidade de as rainhas começarem novas colónias aumenta significativamente a probabilidade de as populações selvagens ficarem extintas.”
Vários estudos recentes têm ligado os neonicotinóides ao declínio das populações de abelhas e outros polinizadores, especialmente na última década. Por esta razão, em 2013, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) impôs uma proibição temporária e parcial à utilização destes pesticidas na União Europeia, enquanto se aguardam os resultados de uma análise que tem conclusão prevista para este ano.
Rainha | Foto: Holger Casselmann
1ª Foto: Vera Buhl
Estima-se que 1,4 mil milhões de empregos e três quartos das colheitas agrícolas do mundo dependam dos polinizadores, especialmente das abelhas, e as suas populações têm sofrido um declínio acentuado nas últimas décadas, devido à perda de habitat, doenças e utilização de pesticidas.
Para o novo estudo, os cientistas expuseram rainhas de Bombus terrestris, durante a Primavera, altura em que elas emergem da hibernação e se preparam para pôr ovos, a níveis de tiametoxam semelhantes aos que encontrariam na natureza.
“Os estudos anteriores ignoraram um aspeto central do ciclo de vida dos abelhões, que é a fase da fundação da colónia”, disse Mark Brown, professor da Universidade de Londres e coautor do estudo. “Como a formação bem-sucedida da colónia é essencial para a dimensão das populações de abelhões e as rainhas se alimentam de culturas e plantas que podem estar contaminadas pelos neonicotinóides, esta etapa do ciclo de vida poderá ser fundamental para se compreenderem os impactos dos neonicotinóides.”
Mesmo sem os pesticidas, já são inúmeros os obstáculos que as rainhas têm de ultrapassar para começar uma nova colónia. Se sobreviverem ao Inverno, durante o qual podem perder 80% das suas reservas de gordura, ainda têm de se confrontar com parasitas, predadores, condições meteorológicos adversas e escassez de alimento. Para os investigadores, os pesticidas poderão provar-se uma barreira intransponível.
“Estas rainhas da Primavera representam a próxima geração de colónias de abelhões. Este estudo mostra que os neonicotinóides poderão estar a ter um efeito devastador nas populações selvagens de abelhões”, explicou Nigel Raine.
Os neonicotinóides também têm sido ligados ao declínio das populações de borboletas, aves e insetos aquáticos. “Estes pesticidas podem ter um efeito devastador nas abelhas e precisamos urgentemente de saber mais sobre a forma como poderão estar a afetar as outras espécies”, sublinhou o investigador.