Já são mais de 1400 as espécies afetadas pelo lixo que despejamos nos oceanos
O número total de espécies afetadas pelo lixo marinho está a subir constantemente e já ultrapassa, atualmente, as 1400 espécies. São 1441 as espécies afetadas de peixes, mamíferos, moluscos, algas, aves marinhas, tartarugas, bactérias, corais e muitas outras formas de vida aquática.
Estes dados são da AWI Litterbase, uma base de dados digital do Instituto Alfred Wegener, que compila os dados científicos publicados sobre o lixo marinho e que é frequentemente atualizada.
Os encontros da vida aquática com o nosso lixo
Os dados da Litterbase sobre as interações do lixo com os organismos mostram, sob a forma de mapas mundiais e gráficos, que os peixes e as aves marinhas são especialmente afetados por esta poluição e que a maioria do lixo encontrado no mar é constituída por plástico.
A vida aquática afetada pelo lixo marinho (à esquerda) e os tipos de lixo a afetar a vida aquática (à direita)
Estima-se que, todos os anos, um milhão de aves e 100 mil animais marinhos, incluindo mamíferos e tartarugas, morram vítimas dos detritos de plástico nos oceanos.
Segundo a análise mais recente de interações da Litterbase, 36% das espécies ingerem os detritos, 31% ficam presas ou enredadas neles e 28% colonizam-nos.
Tipos de encontros (à esquerda) e efeitos dos encontros (à direita)
Os detritos que os animais ingerem, por os confundirem com alimento, podem perfurar ou obstruir-lhes o aparelho digestivo e causar-lhes outros problemas de saúde e ferimentos que podem resultar na sua morte. No caso da ingestão de resíduos plásticos existe ainda o problema de estes poderem absorver e libertar poluentes, que se vão acumulando ao longo da cadeia alimentar.
Muitos animais também ficam presos no lixo marinho. Todos os anos, as redes de pesca “fantasma” abandonadas nos oceanos capturam e matam milhares de focas, leões-marinhos e baleias, entre outros animais.
Os encontros da vida selvagem com o lixo marinho
A distribuição do lixo nos oceanos
“[A AWI LItterbase] é de tremendo valor científico. A nossa base de dados permitir-nos-á avaliar e compreender melhor as quantidades e padrões de distribuição globais do lixo no oceano”, explicou Melanie Bergmann, bióloga do Instituto Alfred Wegener. “Os mapas documentam os lugares onde os investigadores identificaram lixo marinho. Mas convém ter em conta que as áreas a branco no mapa não representam necessariamente regiões sem lixo; pelo contrário, são ângulos mortos.”
A distribuição do lixo e microplásticos nos oceanos
Estes “ângulos mortos” ajudam a identificar as áreas onde os esforços de investigação precisam de ser intensificados. Por exemplo, facilmente se percebe, observando o mapa acima, que foram realizados muitos estudos no Mediterrâneo. No entanto, houve poucos artigos sobre a situação em África, no mar Morto ou em mar aberto.
Melanie Bergmann, Lars Gutow e Mine Tekman, os investigadores que desenvolveram a base de dados, ficaram surpreendidos com a variedade de trabalhos científicos que descreviam a presença de lixo marinho. Estes podiam ser artigos sobre assuntos muito diversos, “como estudos sobre os jardins de corais no Mediterrâneo [ou] os efeitos antropogénicos de atividades como a pesca no fundo do mar”.
Também redescobriram dados antigos sobre este problema, como estudos realizados nos anos 80 sobre a ingestão de microplástico por plâncton e organismos unicelulares. “A Litterbase também vai ajudar-nos a redescobrir dados ‘antigos’ e em alguns casos esquecidos”, disse a bióloga.
O facto de disponibilizar hiperligações para todos os artigos científicos usados para a sua criação faz da AWI Litterbase uma ferramenta de grande utilidade para quem esteja interessado em aprofundar as suas próprias investigações.