Declínio de pardais na Península Ibérica ligado à poluição do ar e malnutrição
Embora os pardais-comuns estejam bem adaptados à vida urbana, os seus números estão a cair na Europa. Ao contrário das aves que vivem nos meios rurais, os pardais urbanos mostram sinais de stress ligados aos efeitos nocivos da poluição atmosférica e de uma dieta desequilibrada, concluiu uma equipa de investigadores, num estudo publicado na revista Frontiers in Ecology and Evolution. Os investigadores sugerem que isto também poderá ter implicações para a saúde de quem vive nas cidades.
“Verificamos que os pardais-comuns que vivem na cidade estão a sofrer de mais stress do que os que vivem no campo e associamos isso às diferenças na qualidade do ar e da dieta”, disse Amparo Herrera-Dueñas, autora do estudo. “É particularmente mau para as aves urbanas durante a época de nidificação, quando estão divididas entre a atribuição de recursos para a luta contra os efeitos tóxicos da poluição ou para a postura de ovos saudáveis, e a dieta deficiente não é uma ajuda para nenhuma destas situações.”
“Se as nossas cidades não são saudáveis para os pássaros, como o nosso estudo sugere, então, como vizinhos deles, devíamos estar preocupados porque estamos expostos aos mesmos fatores ambientais de stress que os pardais-comuns”, disse a investigadora.
A equipa de investigação da Universidade Complutense de Madrid analisou amostras de sangue de centenas de pardais de zonas rurais, suburbanas e urbanas na Península Ibérica, em Espanha, recolhidas de forma não invasiva. Os investigadores procuraram sinais de stress oxidativo – que pode ser usado para medir até que ponto um fator de stress ambiental, como a poluição, está a enfraquecer as defesas naturais da ave – nessas amostras.
“Os poluentes atmosféricos ou uma dieta desequilibrada podem promover a formação de radicais livres. Estas moléculas são produtos secundários de processos celulares normais, por isso as nossas células desenvolveram um mecanismo para as neutralizar. Contudo, sob condições exigentes, a produção de radicais livres pode esgotar estas defesas antioxidantes, causando stress oxidativo. Quando isto acontece, os radicais livres podem acelerar o envelhecimento das células. Nos seres humanos, isto tem sido associado a doenças respiratórias, como a asma, a problemas cardiovasculares e ao cancro”, explicou Amparo Herrera-Dueñas.
Os investigadores descobriram que os pardais urbanos estão sujeitos a níveis mais elevados de danos provocados pelos radicais livres do que os rurais. As amostras de sangue também revelaram que os pardais da cidade estavam a tentar combater estas moléculas prejudiciais, mas que, em comparação com os seus congéneres rurais, as suas defesas naturais tinham uma menor capacidade para o fazer.
“Precisamos de nos esforçar para melhorar a qualidade do ambiente urbano, como por exemplo a qualidade do ar e o design das zonas verdes. Até os restos de comida que deitamos no caixote do lixo no parque deveriam encorajar-nos a refletir: mais frutos secos e frutas e menos batatas fritas e bolachas seriam melhores tanto para as pessoas como para os pássaros”, aconselha a investigadora espanhola.