O banco onde a moeda é o tempo
Já ouviu falar no Banco de Tempo? É um banco onde não há juros nem dinheiro, circula apenas tempo: as horas que as pessoas trocam entre si.
O UniPlanet falou com Rute Castela e Eliana Madeira do Banco de Tempo em Portugal que nos apresentaram este conceito. |
UniPlanet (UP): Em que consiste o Banco de Tempo?
O Banco de Tempo é um sistema de organização de trocas solidárias, que promove o encontro entre a oferta e a procura de serviços, disponibilizados pelos seus membros.
No Banco de Tempo troca-se tempo por tempo; todas as horas têm o mesmo valor e quem participa compromete-se a dar e a receber tempo.
A Rede Nacional do Banco de Tempo é coordenada pelo Graal, entidade que trouxe o Banco de Tempo para Portugal e que ao longo dos últimos 15 anos tem procurado nutrir esta iniciativa: promovendo a criação de novos Bancos de Tempo, apoiando aqueles que estão em funcionamento, estruturando oportunidades regulares de diálogo, encontro e formação de dinamizadores/as do Banco de Tempo, divulgando a iniciativa, concebendo instrumentos operativos e de divulgação e articulando-se com parceiros internacionais.
As agências do Banco de Tempo nascem de parcerias entre o Graal e uma ou mais entidades locais, funcionam inseridas numa comunidade, e é aí que as pessoas se inscrevem como membros e trocam tempo: oferecendo serviços que sabem e têm gosto em fazer e pedindo serviços de que necessitam.
Na prática, quando um membro do Banco de Tempo precisa de um serviço, contacta a sua agência, que, através de uma base de dados online também fornecida pelo Graal, procura um outro membro que o possa realizar. Quem o solicitou passa um cheque de tempo, onde consta a duração do serviço. O membro que prestou o serviço deposita o cheque, que é creditado na sua conta, e poderá obter outros serviços disponibilizados por qualquer outro membro.
UP: Como surgiu o Banco de Tempo em Portugal? Está presente em que cidades?
O Banco de Tempo chegou a Portugal através do Graal – um movimento internacional de mulheres que tem como missão construir uma cultura do cuidado – que iniciou, no ano 2000, o trabalho de criação das condições para a implementação do Banco de Tempo em Portugal.
O primeiro contacto do Graal com o conceito do Banco de Tempo deu-se num encontro em Barcelona, em 1998, através da Associação Salud Y Família. Esta associação catalã, que estará representada no encontro internacional do dia 30 de novembro, tinha já começado a dinamizar Bancos de Tempo, com inspiração nas iniciativas italianas.
Contando com o apoio de Maria de Lourdes Pintasilgo, o Graal começou em 2000 a trabalhar aspetos regulamentares e a desenvolver instrumentos práticos e operativos para a sua implementação.
Há 15 anos, no início de 2002, foi criada a primeira Agência do Banco de Tempo em Portugal, na cidade de Abrantes.
Entretanto, o Banco de Tempo foi ganhando visibilidade, consolidando-se e assumindo diferentes configurações nos territórios onde ganhou vida.
As agências do Banco de Tempo nascem de parcerias entre o Graal e entidades de natureza diversa: Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Associações, Fundações, Escolas, IPSS, Órgãos de Comunicação Social, etc. Há, hoje, 28 agências a funcionar em diversos pontos de Portugal continental e na Madeira.
Quem estiver interessado em saber mais sobre o Banco de Tempo, e saber se há uma agência perto, pode ver essas, e outras, informações no nosso site. Caso não haja uma agência local perto de vós também encontrarão lá informações para criarem uma agência na vossa cidade ou comunidade!
UP: Podem dar-nos exemplos de serviços que são trocados no Banco de Tempo?
Há uma grande variedade de serviços que são trocados no Banco de Tempo: desde apanhar fruta e legumes, organizar e animar festas, andar a pé, dar lições de cozinha, pequenas reparações, arranjos de carpintaria, de eletricidade…
As ajudas que se desencadeiam entre os membros do Banco de Tempo correspondem, muitas vezes, a pequenos serviços que tipicamente se trocam dentro das redes familiares e entre amigos e que, em alguns casos, dificilmente se encontram no mercado.
Alguns membros procuram no Banco de Tempo serviços que facilitam a organização da sua vida quotidiana, encontrando aqui suporte para situações em que é difícil ir buscar uma criança à escola, ou ir às compras, às finanças, escrever uma carta ou fazer o jantar…Outros membros procuram, sobretudo, serviços ligados ao lazer e ao seu próprio desenvolvimento pessoal. Há quem procure aqui oportunidades para saber mais sobre a cidade e os seus monumentos, para aprofundar os conhecimentos de uma outra língua ou sobre temas diversos. Há quem procure quem lhe ensine a cozinhar, a bordar, a pintar, a usar o computador ou a tratar de plantas.
As trocas mais efetuadas no Banco de Tempo são as lições, nomeadamente as de informática e as de línguas, o acompanhamento (para ir ao médico, a serviços públicos, às compras, para andar a pé…) e arranjos vários como os de costura.
UP: O Banco de Tempo é também um “antídoto” para a solidão. Querem explicar-nos porquê?
Através das trocas e dos encontros, o Banco de Tempo enriquece o mundo relacional das pessoas que nele participam, joga um papel importante na recuperação, em novos moldes, da solidariedade entre vizinhos e no combate à solidão. Aquilo que é mais referido pelas pessoas que participam neste projeto são as amizades que se constroem, algumas delas bastante “improváveis” uma vez que se cruzam pessoas de idades, gostos e contextos muitos diversos. Esta colaboração entre pessoas de diferentes gerações, proveniências e condições sociais numa base de igualdade e respeito é fulcral para a valorização de todos os tipos de saberes e competências. Todos os serviços valem o tempo que demoram.
Há ainda a destacar o facto desta partilha de talentos facilitar o acesso a serviços que dificilmente poderiam ser obtidos, dado o seu valor de mercado.
O Banco de Tempo suscita questionamentos e incentiva mudanças no modo como vivemos em sociedade.
UP: No dia 30 de novembro vai decorrer o “Encontro Internacional dos 15 anos do Banco de Tempo em Portugal”. Podem falar-nos um pouco sobre o programa deste evento?
Este evento, que terá lugar na Casa do Alentejo em Lisboa, entre as 10h30 e as 17h00, vai contar com um programa muito variado.
De manhã haverá oportunidade de escutar experiências e perspetivas e dialogar com pessoas ligadas ao Banco de Tempo em Portugal, Espanha, Itália e Reino Unido. Teremos presente Sarah Bird Diretora do Timebanking UK, Grazia Pratella, Presidente da “Associazione Nazionale Banche del Tempo”de Itália e Rocío Cuevas, Coordenadora da rede de Bancos de Tempo da Associación Salud y Familia de Barcelona, Eliana Madeira (Rede nacional do Banco de tempo) Lídia Martins (Graal) e contamos ainda com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro.
De tarde haverá um momento dedicado às agências e será lançada a publicação “Banco de Tempo|15 anos, 15 histórias”, apresentada por Inês D’Orey, Helena Valentim e Fernando Ilídio. Alguns dos membros fotografados serão entrevistados pela jornalista Fernanda Freitas. O programa em detalhe pode ser consultado aqui.
Poderão participar neste encontro todas as pessoas que nele tenham interesse. A participação no Encontro é gratuita, mas implica inscrição. Qualquer esclarecimento adicional poderá ser obtido através do e-mail [email protected] ou do telefone 21 3546831.
UP: Onde podemos encontrar mais informação sobre o Banco do Tempo em Portugal?
Para estas e outras informações, para além do nosso site podem contactar-nos através do telefone 213546831 e/ou do endereço eletrónico: [email protected].