Mais de mil tartarugas marinhas morrem enredadas no nosso lixo plástico todos os anos
Mais de mil tartarugas marinhas de todas as espécies morrem anualmente depois de ficarem enredadas no lixo plástico que assombra os nossos oceanos e praias. Os cientistas defendem que esta é uma ameaça maior para a sua sobrevivência do que os derrames de petróleo.
Um novo estudo da Universidade de Exeter consultou mais de cem especialistas que resgatam e reabilitam as tartarugas que dão à costa em 43 países e descobriu que 91% das tartarugas enredadas descobertas estavam mortas.
O enredamento também provoca ferimentos sérios, que resultam na mutilação, amputação ou asfixia dos animais. Algumas das tartarugas sobreviventes são forçadas a arrastar com elas os detritos aos quais ficam presas.
Entre os resíduos que mais enredamentos causam, contam-se as redes de pesca perdidas ou descartadas no mar, conhecidas como “redes fantasma”, o fio de pesca de nylon, os anéis de plástico usados para juntar as latas de bebidas, as fitas plásticas de cintar, dos balões e dos papagaios de papel, as embalagens de plástico e as amarras. Também foram descobertas tartarugas presas a cadeiras de plástico, caixas de madeira e balões meteorológicos.
Tartaruga-de-couro enredada em cordas de pesca, Granada 2014 | Foto: Kate Charles, Ocean Spirits
Para além da ameaça do enredamento, outros estudos também têm mostrado que estes répteis ingerem os resíduos plásticos e as criaturas marinhas presas neles.
O número de mortes resultantes do enredamento tem aumentado significativamente no último século, uma situação que também se verifica no caso das aves e mamíferos marinhos. Brendan Godley, professor de ciência de conservação e autor do estudo, avisa que, à medida que esta poluição for aumentando, o número de tartarugas enredadas neste lixo será cada vez maior.
“O lixo plástico nos oceanos, incluindo as artes de pesca perdidas ou descartadas que não são biodegradáveis, é uma grande ameaça para as tartarugas marinhas. Descobrimos, com base nas tartarugas que deram à costa, que mais de 1000 destes animais estão a morrer anualmente depois de ficarem enredados, mas isto trata-se quase certamente de uma enorme subestimativa. As tartarugas juvenis e as crias são particularmente vulneráveis ao enredamento”, explicou Brendan Godley.
As tartarugas juvenis deslocam-se utilizando as correntes oceânicas que as levam até zonas onde os detritos flutuantes se concentram e criam uma “armadilha ecológica”.
Tartaruga-verde enredada em redes fantasma encontrada morta no Uruguai | Foto: Karumbé
O número total de vítimas sugerido pelo estudo tratar-se-á de uma subestimativa devido ao facto de nem todas as tartarugas mortas darem à costa, especialmente as juvenis, e de algumas se decomporem no mar. Os especialistas consultados também explicaram que nem todas as tartarugas que dão à costa são encontradas e que algumas são removidas pelas populações locais para servirem de alimento.
“Os especialistas que consultamos constataram que o enredamento em plástico e noutros tipos de poluição poderá ter um impacto a longo prazo na sobrevivência de algumas populações de tartarugas e é uma ameaça maior para elas do que os derrames de petróleo. Precisamos de reduzir o nível de resíduos plásticos e procurar alternativas biodegradáveis se queremos fazer frente a esta grave ameaça para o bem-estar das tartarugas”, declarou o autor do estudo.
Tartaruga-de-escamas com material de pesca preso em torno da carapaça, Japão 2001 | Foto: Sea Turtle Association of Japan
84% dos 106 especialistas inquiridos disseram que tinham encontrado tartarugas enredadas em lixo. Embora tenham sido descobertas tartarugas de todas as espécies vítimas deste flagelo, as tartarugas-oliva são as que maior probabilidade têm de ficar enredadas.
“O enredamento em materiais antropogénicos de plástico, como as artes de pesca descartadas, (…) é uma ameaça para as tartarugas marinhas que não está a ser suficientemente denunciada e investigada”, concluiu o trabalho.
Desde os anos 50, a indústria da pesca tem substituído as fibras naturais, como o algodão, a juta e o cânhamo, por materiais sintéticos de plástico, como o nylon, o polietileno e o polipropileno que não se decompõem na água.
O estudo também apontou o exemplo de algumas comunidades que estão a trabalhar ativamente para resgatar os animais que ficam enredados.
É este o caso dos pescadores na Sicília, que se voluntariam para participar no resgate das tartarugas em dificuldades no mar e nas praias e que recebem treino para saberem como as transferir para centros de reabilitação.