A carta aberta assinada por Deneuve e 99 escritoras, artistas e académicas sobre assédio e a resposta à mesma
A atriz Catherine Deneuve e outras 99 mulheres proeminentes em França denunciaram a campanha #Metoo, contra o assédio é sexual, que ganhou força depois dos escândalos de Harvey Weinstein e dos abusos sexuais em Hollywood. Segundo estas mulheres, os homens estão a ser injustamente acusados de má conduta sexual, sendo que a campanha é demasiado “puritana” e tem por base o “ódio aos homens”.
“Esta vontade de mandar os homens para o matadouro, em vez de ajudar as mulheres a serem mais autónomas, ajuda os inimigos da liberdade sexual”, escreveram estas mulheres numa carta aberta publicada no Le Monde.
“A violação é um crime. Mas cortejar de forma insistente ou inconveniente não é um delito, nem o galanteio é uma agressão machista”, afirmam na carta.
“Esta justiça vigilante já tem as suas vítimas, os homens que foram castigados e forçados a demitirem-se, quando tudo o que eles fizeram foi tocar num joelho ou tentar roubar um beijo“, escreveram as 100 mulheres. “Defendemos o direito à importunação, que é vital para a liberdade sexual”, acrescentam.
A feminista Caroline De Haas e mais de 30 ativistas franceses dos direitos das mulheres criticaram fortemente esta carta aberta, num texto publicado no Francetvinfo (site de uma televisão francesa.). As ativistas acusaram Catherine Deneuve e as outras signatárias da carta de estarem a usar a exposição nos meios de comunicação para tornarem a violência sexual “normal”.
“Com aquele texto estão a tentar reconstruir o muro de silêncio que começámos a destruir“, escreveram as ativistas. “Parecem aquele tio chato nos jantares de família” que não percebeu que o mundo está a mudar, afirmaram.
“Quando a igualdade avança um milímetro, as almas bondosas alertam-nos imediatamente para o facto de que arriscamos todos cair em excesso”, afirmaram, alertando para o facto de que em França, acontecerem “centenas” de casos de violação e assédio sexual.
“As signatárias da carta confundem deliberadamente a relação de sedução, com base no respeito e prazer, com a violência”, escreveram.
Este é “um artigo para defender o direito de se agredir sexualmente as mulheres e para se insultar as feministas”, denunciou Caroline de Haas (que foi violada quando tinha 15 anos).
“Catherine Deneuve e outras mulheres francesas contam ao mundo como a sua misoginia interiorizada as lobotomizou de forma irreversível”, escreveu no Twitter Asia Argento, que acusou Harvey Weinstein de a ter assediado sexualmente, nos anos 90.
Em março, Deneuve já tinha estado envolvida numa polémica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de ter violado uma jovem de 13 anos, nos Estados Unidos.
Ce moment où Brigitte Lahaie balance “On peut jouir lors d’un viol” à Caroline de Haas (qui en a été victime) en plein débat sur BFMTV… J’ai plus de mots… #TribuneDuMonde #MeToo pic.twitter.com/fCdU7LSdOS
— Nils Wilcke (@paul_denton) 10 de janeiro de 2018
Cette journée se termine donc par un échange sur @BFMTV dans lequel une signataire de la tribune du Monde me dit : “vous savez, on peut jouir lors d’un viol”.
…
J’ai plus de mots.#BalanceTonPorc— Caroline De Haas (@carolinedehaas) 10 de janeiro de 2018
Catherine Deneuve and other French women tell the world how their interiorized misogyny has lobotomized them to the point of no return https://t.co/AuH0aZdnCq
— Asia Argento (@AsiaArgento) 9 de janeiro de 2018
Mel
Simone de Beauvoir teve muita razão em denunciar que as mulheres brancas e burguesas identificam-se mais com os homens brancos e burgueses do que com as outras mulheres, acabando por ter uma atitude de colaboração para com eles. E, mais uma vez, são mulheres francesas a desprezar totalmente a dor das outras mulheres, preocupando-se mais com os coitadinhos dos homens agressores enquanto humilham ainda mais as vítimas com os seus dizeres.
14 de Janeiro, 2018Isto fez-me lembrar o que outra francesa escreveu, há uns tempos, num jornal: que teve pena de nunca ter sido violada, para provar às mulheres que é algo que pode ser superado. E que já foi assediada num transporte público e não morreu por causa disso.
Esta tamanha falta de sensibilidade, quando colocamos um pensamento ou uma experiência individualista acima de todas as mulheres, é também cúmplice do sofrimento que as mulheres passam. As mulheres são más umas para as outras por causa de macho e não percebem como isso só as destrói enquanto fortalece quem as oprime.
UniPlanet
O mundo está a mudar, devagarinho, mas está a mudar. Em breve as mulheres vão aprender que só têm a ganhar quando se apoiam umas às outras!
14 de Janeiro, 2018Boa semana, Mel!