Um terço do solo do planeta está gravemente degradado graças à agricultura intensiva
Um terço das terras do planeta está severamente degradado e perdem-se todos os anos 15 mil milhões de árvores e 24 mil milhões de toneladas de solo fértil, alertou um relatório que teve o apoio da ONU.
O estudo analisou os impactos de diversos fatores, incluindo a urbanização, a erosão e a desflorestação, e concluiu que o fator de maior importância é a expansão da agricultura intensiva, sugerindo que é necessário um afastamento das práticas insustentáveis deste sector.
“A agricultura industrial (…) não é sustentável. É como uma indústria extrativa”, declarou Louise Baker, directora de relações externas da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. “É um número bastante assustador, quando se consideram as taxas de crescimento populacional, mas (…) se os governos fizerem escolhas inteligentes, a situação pode melhorar.”
Nas últimas décadas, a produção agrícola quase triplicou e a quantidade de terras irrigadas duplicou; no entanto, com o passar do tempo, a fertilidade do solo tem diminuído, o que leva ao abandono das terras e à desertificação.
Segundo o Joint Research Centre da Comissão Europeia, a produtividade decrescente pode ser observada em 20% das terras de cultivo do mundo, 16% das zonas florestais, 19% dos prados e 27% das pastagens.
“À medida que o acesso à terra saudável e produtiva se esgota e a população cresce, a competição por terra está-se a intensificar nos países e no mundo”, disse Monique Borbut, secretária executiva da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. “Para minimizar as perdas, o estudo sugere que é do nosso interesse recuar e repensar como estamos a gerir as pressões e a competição.”
Embora os impactos variem muito de região para região, a África subsaariana é a mais afetada. No entanto, a deficiente gestão dos solos na Europa também é responsável por uma perda anual estimada de 970 milhões de toneladas de solo decorrente da erosão, o que afeta não só a produção alimentar como a biodiversidade.
Louise Baker aponta alguns sinais de esperança, como o progresso positivo feito por alguns países, entre os quais a Etiópia, que restaurou sete milhões de hectares de terras.
Recentemente, a Nigéria também anunciou que pretende restaurar quatro milhões de hectares de terras degradadas, sendo um dos vários países que já traçaram os seus planos para alcançar a “neutralidade da degradação da terra”.
Segundo o estudo, as pressões continuarão a aumentar. Os autores preveem que a África subsaariana, o sul da Ásia, o Médio Oriente e o norte de África enfrentarão os maiores desafios, a não ser que se assista a uma redução dos níveis de consumo de carne, uma melhor regulamentação das terras e uma maior eficiência agrícola.
Foto: Matthias Ripp/Flickr