Bornéu perdeu 150 mil orangotangos em apenas 16 anos devido à caça e desflorestação
A ilha do Bornéu perdeu cerca de metade da sua população de orangotangos num período de 16 anos, avisa um novo estudo publicado na revista científica Current Biology. Na origem da maioria destes desaparecimentos está a desflorestação resultante da crescente procura de óleo de palma, madeira, recursos minerais e papel.
Contudo, muitos dos primatas também desapareceram de áreas mais intactas e florestadas. Segundo os investigadores, estas descobertas sugerem que a caça e outros conflitos diretos entre os orangotangos e as pessoas continuam a ser uma grande ameaça para a espécie.
“O declínio da densidade populacional foi mais acentuado em zonas desflorestadas ou transformadas para agricultura industrial, já que os orangotangos têm dificuldade em viver em zonas que não tenham floresta”, explicou Maria Voigt do Instituto de Max Planck para a Antropologia Evolutiva na Alemanha.
“No entanto, é preocupante que o maior número de orangotangos se tenha perdido em zonas que continuaram cobertas por floresta durante o período estudado”, disse a investigadora, acrescentando que isto sugere que muitos dos animais foram mortos.
Uma plantação de palmeiras junto a uma floresta da ilha de Bornéu | Foto: Rhett A. Butler
“Não esperávamos que as perdas fossem tão grandes, por isso estes [estudos] confirmam que a caça continua a ser um grande problema. Quando estes animais entram em conflito com as pessoas nas plantações, são sempre eles que perdem. As pessoas matam-nos”, conta Serge Wich, professor da Universidade John Moores de Liverpool e membro da equipa que integrou o estudo.
“Ainda na semana passada tivemos notícias de um orangotango que foi encontrado com 130 chumbos no corpo, depois de ter sido abatido no Bornéu. É chocante e desnecessário. Os orangotangos podem até comer os frutos dos agricultores, mas não são perigosos”, contou.
Os investigadores estimaram uma perda de 148 500 orangotangos-do-bornéu (Pongo pygmaeus) entre 1999 e 2015. Os dados também sugerem que apenas 38 dos 64 grupos de orangotangos espacialmente separados que foram identificados (conhecidos como metapopulações) incluem atualmente mais de 100 indivíduos, que é o limite mínimo aceite para serem considerados viáveis.
Se o ritmo de destruição das florestas não abrandar, os investigadores predizem que se perderão mais de 45 mil orangotangos nos próximos 35 anos.
Perante este cenário, a equipa afirma que são essenciais parcerias eficazes com as empresas madeireiras e de outros sectores para assegurar a sobrevivência da espécie. A sensibilização do público também é fundamental.
“Os orangotangos são flexíveis e conseguem sobreviver, de certo modo, num mosaico de florestas, plantações (…), mas só quando não são mortos”, disse Serge Wich. “Portanto, para além da proteção das florestas, precisamos de nos concentrar em enfrentar as causas subjacentes da matança de orangotangos, o que requer a sensibilização e educação do público, a aplicação mais efetiva das leis e também mais estudos sobre os motivos que levam as pessoas a matar os orangotangos em primeiro lugar.”
Atualmente, a Indonésia e a Malásia estão a desenvolver planos de ação a longo prazo para a conservação destes animais.