Após séculos de má gestão, estamos finalmente a plantar e a dar valor às árvores no mundo
Em todo o mundo, estão-se a assistir a sinais de que a plantação de árvores se tornou uma “causa política, económica e ecológica e um símbolo universal de recuperação, recrescimento e fé no futuro”.
A China anunciou que vai plantar uma floresta do tamanho da Irlanda. A Inglaterra vai plantar 50 milhões de árvores para criar uma floresta de costa a costa e a França planeia criar um bosque suburbano quatro vezes maior do que o Central Park de Nova Iorque.
Os países da América Latina comprometeram-se a restaurar 20 milhões de hectares de floresta degradada e os países africanos a restaurar 100 milhões de hectares.
Após séculos de má administração, as comunidades estão finalmente a ver os benefícios das florestas.
“Este entusiasmo por um mundo mais verde é inspirador e já vem tarde”, escreveu John Vidal, antigo editor da secção de ambiente do jornal The Guardian, cargo que manteve durante 27 anos. “Nos últimos 200 anos, os países com florestas praticamente não souberam o que fazer com as suas árvores. Eram tratadas como dispensáveis e um desperdício de espaço. Mas numa grande mudança cultural, as florestas passaram de lugares sombrios e assustadores a sítios semi-sagrados e intocáveis.”
Num artigo para o mesmo jornal, o escritor e jornalista explica que, hoje em dia, “existem poucas formas tão certas de enraivecer as comunidades como quando se cortam as suas árvores”.
“E porque não? Nesta nova era ecológica, aprendemos que o valor das árvores vai muito além da sua madeira: mantêm os solos húmidos, previnem inundações e oferecem abrigo, armazenam carbono, embelezam as paisagens, protegem as fontes de água, aumentam a biodiversidade, melhoram o trabalho de conservação e proporcionam-nos bem-estar”, sublinha John Vidal.
A desflorestação na Costa do Marfim para a conversão das florestas em plantações de cacau | Foto: Mighty Earth
Apesar dos esforços de reflorestação, ainda estamos a perder milhões de hectares de floresta por ano. À expansão da agricultura e da pecuária, juntam-se outras ameaças como a desflorestação e a degradação, as doenças, as secas, os incêndios e as pragas.
“Temos de continuar a plantar árvores, mas precisamos de pensar de outra forma. A plantação de árvores maciça financiada pelo Estado tem a reputação de ser dispendiosa e mal gerida. Quando as florestas são plantadas a uma escala industrial, até 20% das árvores podem morrer em apenas alguns anos”, conta o jornalista.
As Nações Unidas traçaram o objetivo de restaurar 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030 – uma área maior do que a Índia. A plantação dessa área custaria aos países aproximadamente 280 mil milhões de euros. “Esse dinheiro simplesmente não está disponível para os países em desenvolvimento”, escreve Vidal, que expõe, de seguida, o que acredita ser uma “solução” para este dilema.
“O sistema conhecido como agroflorestal está, cada vez mais, a ser empregue com êxito. Nele, árvores e arbustos crescem em redor ou entre as plantações, muitas vezes em solos florestais degradados”, explica.
Vidal apresenta várias histórias de sucesso alcançadas com este sistema. O Níger, que desflorestou grandes áreas de terra para intensificar a sua agricultura, viu esta tentativa frustrar-se e a qualidade do seu solo deteriorar-se. Contudo, “para poupar tempo, os jovens que regressaram, depois de terem trabalhado no estrangeiro, nos anos 80, plantaram as suas culturas sem desbravarem primeiro o terreno”, conta.
“Para sua surpresa, a sua produção de cereais foi muito superior à dos campos vizinhos de onde tinham sido removidas todas as plantas lenhosas. Quando se repetiu o mesmo no ano seguinte, as aldeias perceberam a mensagem: as árvores são boas para as plantações.”
Desde então, cerca de 200 milhões de árvores foram plantadas ou encorajadas a regenerarem-se naturalmente em 5 milhões de hectares. “A produção de alimentos aumentou em 600 000 toneladas por ano nos locais onde as árvores regressaram.” Estas árvores também providenciam alimento para o gado, combustível, medicamentos, frutas e óleo alimentar.
Histórias semelhantes também se estão a repetir em Malawi, Mali, na Etiópia e em muitos outros países, à medida que os agricultores se apercebem das vantagens de combinarem as suas plantações com árvores.
Na Índia, o projeto Araku tem visto as comunidades locais plantaram milhões de árvores de fruto e cafeeiros, tendo-se revitalizado quase 15 000 acres.
No Paquistão, as comunidades têm distribuído gratuitamente mais de 150 milhões de árvores dos milhares de viveiros que se criaram, nos últimos três anos, na província de Khyber Pakhtunkhwa. Graças a isto, plantaram-se mais de mil milhões de árvores e restauraram-se 350 000 hectares de floresta e de terrenos agrícolas “por pouco mais de 110 milhões de euros – aproximadamente o que custaria a construção de 3,2 km de uma estrada de dupla faixa no Reino Unido.”
“[O sistema agro-florestal] depende para o seu próprio sucesso de mudanças nas atitudes, nos comportamentos e de práticas de gestão melhoradas. Requer que as comunidades trabalhem em conjunto, requer conhecimentos locais e que os governos reformem as leis sobre terras e que ajudem a informar. Mas não são necessárias somas avultadas de dinheiro”, escreveu.