Europa deverá proibir pesticidas que ameaçam as abelhas, após relatório da EFSA
Uma nova análise da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) concluiu que os inseticidas mais usados no mundo colocam seriamente em risco tanto as abelhas melíferas como as selvagens.
Esta conclusão torna muito provável que a utilização de pesticidas neonicotinóides seja proibida em todos os campos da União Europeia, quando os países votarem sobre esta questão.
O relatório da agência europeia analisou mais de 1500 estudos e descobriu que o risco para as abelhas varia consoante a cultura agrícola e a via de exposição, mas que “para todas as utilizações no exterior, existia pelo menos um aspeto da avaliação que indicava um risco elevado”.
Estudos anteriores tinham revelado que os neonicotinóides – inseticidas derivados da nicotina que atacam o sistema nervoso dos insetos – podem afetar a memória das abelhas, fazendo com que fiquem desorientadas, para além de causarem a morte prematura da abelha-rainha e das obreiras.
As abelhas e outros polinizadores são vitais para três quartos das culturas agrícolas do mundo, mas, nas últimas décadas, as suas populações têm sofrido um declínio acentuado. Por trás do seu desaparecimento estão problemas como a destruição de habitats, doenças, ácaros, fungos e o uso generalizado dos neonicotinóides.
Recentemente, um estudo realizado em dezenas de reservas naturais na Alemanha revelou que os insetos voadores sofreram um declínio dramático de 76%, levando os cientistas a alertar que “estamos a rumar para o Armagedão ecológico”.
O relatório da EFSA analisou, pela primeira vez, os efeitos dos neonicotinóides nos abelhões e nas abelhas solitárias. “Em geral, o risco para os três tipos de abelhas que avaliamos está confirmado”, disse Jose Tarazona, diretor da unidade de pesticidas da EFSA.
Os investigadores também descobriram que o risco elevado para as abelhas advém da contaminação mais vasta da água e do solo, que leva ao aparecimento dos neonicotinóides nas flores silvestres e nas culturas subsequentes. “O maior risco para as abelhas vem da exposição crónica devido à sua persistência”, explicou Christopher Connolly, professor da Universidade de Dundee, no Reino Unido.
A UE restringiu o uso de três neonicotinóides – imidacloprida, clotianidina e tiametoxam – em 2013, para tentar proteger as abelhas.
“Temos jogado à roleta russa com o futuro das nossas abelhas durante demasiado tempo”, disse Sandra Bell, do grupo ambientalista Friends of the Earth. “Os países da UE precisam agora de apoiar uma proibição mais rigorosa.”
A Comissão Europeia afirmou que proteger as abelhas era uma “prioridade” e que o novo relatório “reforça a base científica para a proposta da comissão com vista a proibir o uso exterior dos três neonicotinóides”.
São cada vez mais os artigos altamente críticos da atual utilização de pesticidas. Em setembro de 2017, o conselheiro científico do governo britânico, Ian Boyd, avisou que a suposição de que é seguro usarem-se pesticidas em quantidades industriais nas paisagens é errada e que os “efeitos de se aplicarem químicos em paisagens inteiras têm sido amplamente ignorados”.
Alguns meses antes, um relatório da ONU declarou que a ideia de que os pesticidas são essenciais para alimentar a crescente população mundial é um mito, acusando os pesticidas de terem “impactos catastróficos no ambiente e na saúde humana” e os seus fabricantes de “negarem sistematicamente” os danos causados pelos seus produtos.