Novo corredor para a vida selvagem no Brasil vai proteger os micos-leões-dourados
A Mata Atlântica do Brasil ocupa, hoje em dia, menos de 15% da sua extensão original. As áreas florestais que permaneceram estão severamente fragmentadas, o que causa uma grande pressão sobre as espécies, particularmente as que já estão ameaçadas ou em risco de extinção.
Para minimizar o impacto desta fragmentação, a organização de conservação SavingSpecies e a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), com o apoio da fundação holandesa DOB Ecology, adquiriram terras que lhes permitirão criar um corredor ecológico para a vida selvagem.
O novo corredor incluirá um ecoduto – uma passagem por cima de uma autoestrada – que permitirá às espécies circular e atravessar os limites da Reserva Biológica Poço das Antas, no estado do Rio de Janeiro.
“Trata-se de remendar um rasgão na floresta, no lugar com o maior número de espécies ameaçadas”, explicou Stuart Pimm, presidente da SavingSpecies.
A reserva é lar de várias espécies ameaçadas, sendo um habitat de crítica importância para o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), um pequeno primata de pelagem dourada endémico da região que quase foi levado à extinção devido à perda de habitat.
Detalhes sobre o projeto | Imagem: Associação Mico-Leão-Dourado
“A fragmentação e as infraestruturas isolaram as populações de micos”, contou Stuart Pimm ao Mongabay. Quando as reservas naturais estão isoladas, as espécies no seu interior perdem o contacto com os outros membros da sua população. Com o passar do tempo, isto causa problemas como o endocruzamento e a baixa diversidade genética, podendo levar à extinção.
Para criar o corredor, as ONG adquiriram uma propriedade de 237 hectares, denominada Fazenda Igarapé. Os próximos passos serão a reflorestação de 100 hectares do terreno com flora nativa e a criação do ecoduto para ligar as duas áreas, um trabalho que deverá começar no final deste mês.
“Há 30 anos, já só restavam 200 micos. Hoje esse número subiu para 3200, mas a paisagem continua a estar seriamente fragmentada”, disse Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da AMLD.
Embora os ecodutos se estejam a tornar mais comuns, “esta ponte será a primeira do seu tipo no Brasil”, explicou o geógrafo. “Temos uma grande responsabilidade e queremos mostrar que é possível fazerem-se bem as coisas.”
1ª foto: Tambako The Jaguar/Flickr
A futura passagem para a fauna | Imagem: Associação Mico-Leão-Dourado