Residentes de campo de refugiados estão a replantar floresta com 40 mil árvores
Para fugirem da violência do grupo extremista Boko Haram, dezenas de milhares de nigerianos refugiaram-se nos Camarões. Hoje, a população do campo de refugiados de Minawao ultrapassa as 60 mil pessoas e a área, antes rodeada de vegetação, perdeu milhares de árvores, cortadas pelos residentes para a obtenção de lenha para cozinhar.
Segundo o Ministério de Florestas do país, todos os anos é cortado cerca de um hectare de floresta por pessoa, nos Camarões, para a sua utilização como lenha ou carvão.
Mas há mudanças a serem “semeadas”. Com o apoio da agência de refugiados da ONU e da startup holandesa Land Life Company (LLC), os refugiados estão a começar a replantar as árvores.
“As árvores vão deixar de ser abatidas para criar carvão ou para que a sua madeira seca seja utilizada para cozinhar”, explicou Charlotte Jongejan, da LLC.
Numa pequena fábrica no campo, os refugiados também estão a fabricar fogões simples de barro e a transformar resíduos agrícolas em “eco briquetes” que podem ser usadas em vez de lenha.
“Uma das razões por que fomos seduzidos por este projeto foi o facto de conseguirmos criar uma abordagem bastante holística para a desflorestação. Porque se só replantarmos as árvores, cruzando os dedos e esperando que o mesmo não volte a acontecer, quando regressarmos, passados cinco anos, não haverá árvores. Tem de se oferecer uma alternativa às pessoas.”
As árvores são plantadas com um “casulo” biodegradável de papel providenciado pela LLC, que é enchido com 25 litros de água, aquando da plantação, ajudando as árvores jovens a superar os primeiros meses num clima severo até à chegada da estação das chuvas.
As primeiras árvores foram plantadas em dezembro e, entre maio e junho, serão plantadas mais 30 mil, o que fornecerá mais de 250 empregos às pessoas do campo. As árvores, por sua vez, providenciarão alimento, chá e sombra, ajudando a arrefecer a zona e a restaurar o ecossistema.
Fotos: © UNHCR/Xavier Bourgois
“Está-se a encorajar um ecossistema a regressar à vida, onde não havia nada”, contou Charlotte Jongejan. “Com o crescimento de uma árvore saudável, regenera-se o solo e isso traz de volta os insetos e a vida selvagem, o que reinicia todo o sistema.”
Um viveiro criado no campo vai produzir até 200 mil mudas por ano para que a reflorestação da área continue. Os refugiados esperam regressar eventualmente à Nigéria, mas, quando o fizerem, deixarão uma floresta para trás.
O projeto também está a ajudar a aliviar as tensões entre os refugiados e os habitantes locais. “Existe bastante tensão entre os camaroneses e estes refugiados”, explicou Jongejan. “As comunidades de acolhimento (…) vivem muitas vezes em circunstâncias muito desfavorecidas. Têm as suas próprias pequenas explorações agrícolas e, de repente, há 63 mil pessoas à sua porta a competir por água, a competir por terra, a entrar nas suas florestas e a cortar a madeira para cozinhar.”
As duas comunidades estão a trabalhar em conjunto na reflorestação. “Podemos ver que teve um efeito muito profundo, que transcende as semanas e meses em que estiveram a trabalhar neste projeto. Esperamos que aproxime as pessoas.”