Zouri, as novas sandálias portuguesas feitas com plástico recolhido na praia
Há um novo projeto português que transforma o plástico recolhido nas praias em solas de sandálias e chinelos. Chama-se Zouri e todo o seu calçado é vegan, feito à mão com matérias-primas naturais como a cortiça, a juta e o couro vegetal de ananás.
O UniPlanet falou com Adriana Mano, uma das criadoras da Zouri, que nos deu a conhecer este projeto. |
UniPlanet (UP): Como nasceu a Zouri?
A Zouri nasceu num sonho nosso de querer retirar lixo plástico do oceano e incluí-lo numa linha de calçado eco-vegan.
A nossa grande paixão pelo oceano e pelos valores de preservação da natureza foi a maior motivação.
No fundo a ZOURI É:
…um manifesto à preservação dos oceanos.
…um movimento pela redução dos plásticos no nosso dia-a-dia.
…uma eco-inovação com a utilização de resíduos plásticos na produção de calçado.
…um agente ativo da economia circular.
…um parceiro de organizações públicas e não-governamentais na reutilização e reciclagem dos plásticos recolhidos nas praias para criação de produtos de valor acrescentado.
…uma marca de calçado vegan e ético que visa a integração de lixo plástico marinho combinado com materiais orgânicos inovadores.
O conceito ZOURI assenta na valorização do lixo plástico utilizando-o como matéria-prima na produção de calçado com vista a reverter a sua depositação e acumulação nos oceanos.
UP: Que modelos estão disponíveis na vossa primeira coleção?
Estão disponíveis 3 modelos de sandália/chinelo em várias cores.
UP: Que materiais usam no vosso calçado?
As matérias-primas utilizadas no produto são o plástico reciclado do mar e vários materiais naturais vegan e amigos do ambiente: piñatex, borracha natural, juta e cortiça.
No calçado, podemos encontrá-los da seguinte forma:
1. Gáspea: PINATEX
O Piñatex® é um tecido natural inovador feito de fibra de folhas de abacaxi. As folhas são o subproduto da agricultura existente e o seu uso cria um fluxo de valor adicional para as comunidades agrícolas. O Piñatex® é um material natural, sustentável e livre de crueldade animal.
2. Entressola: Palmilha de conforto com cortiça e látex.
A cortiça é a casca do sobreiro (Quercus Suber L.), o que significa que é um tecido vegetal 100% natural. É retirada a cada nove anos, sem que nenhuma árvore seja cortada durante este processo, e dá origem a uma infinidade de produtos, desde os tradicionais aos mais inovadores e inesperados. O principal é a rolha. É do excedente/desperdício da produção de rolhas que advém a matéria-prima para produzir as palmilhas do Zouri.
O látex é uma borracha natural proveniente da árvore-da-borracha. É um material 100% natural que funciona como aglomerador da cortiça para a produção da entressola Zouri.
A cobertura da entressola é em Juta, uma fibra têxtil vegetal que provém da família Tilioideae. Este material é 100% natural, utilizado sem qualquer tratamento.
3. Sola: Borracha natural com plástico reciclado do oceano.
O látex natural funciona como aglomerador do plástico para a produção da sola Zouri.
O plástico é proveniente das recolhas realizadas pelos parceiros nas praias do norte de Portugal.
A sola para o tamanho 38 pesa 80g com 30g de plástico, o que equivale a 3 garrafas de plástico. Um par rondará 60 gramas de plástico, ou seja, 5 a 6 garrafas de plástico.
UP: Onde recolhem o lixo plástico que usam?
O lixo plástico utilizado na produção da primeira edição das ZOURI é proveniente de praias do norte de Portugal, sendo o principal parceiro para a recolha a Esposende Ambiente.
A Esposende Ambiente leva a cabo várias iniciativas de limpeza voluntárias na rede de 9 praias.
O Zouri é parceiro ativo nas ações de limpeza voluntárias. A última ação contou com cerca de 600 voluntários, que recolheram cerca de 4,5 toneladas de lixo, mais ou menos 1000 kg de plástico.
Estando as equipas de limpeza regulares não voluntárias a cargo das juntas de freguesia, o ZOURI estabeleceu um acordo estreito com a junta de freguesia de Fão e Apúlia, que representa duas das nove praias do município, onde esse acordo consiste em que todo o lixo plástico recolhido pelos agentes de recolha seja depositado em contentores Zouri para levantamento posterior.
O nosso objetivo é ir de forma gradual estabelecendo parcerias com outras Câmaras Municipais da costa portuguesa e conseguir mobilizar a comunidade para uma limpeza cada vez mais intensa.
Em termos de objetivos a curto prazo, gostaríamos de começar a trabalhar com alguma das Câmaras mais próximas a seguir a Esposende, como a Câmara de Viana do Castelo, tendo já intenção clara de uma ação sobre toda a costa do concelho de Viana do Castelo.
UP: Como funciona a vossa parceria com a ONG Sciaena?
A parceria surgiu de forma muito natural, a SCIAENA apresentou um projeto de recolha de plástico em mares profundos através de ações de mergulho. A ZOURI tem como objetivo a reutilização do lixo plástico do mar através da sua aplicação nas solas das sandálias. A parceria faz todo o sentido e torna a estratégia mais completa. O lixo não irá para a lixeira ou reciclagem – até porque a maioria desse plástico não é passível de ser reciclado pelo seu estado de degradação. Em vez disso, será introduzido na sola, em conjunto com a borracha natural, para dar origem a um par de sandálias Zouri. O projeto da SCIAENA tem data marcada para janeiro de 2019 a dezembro de 2020.
UP: Quando chegará ao mercado o vosso calçado?
O calçado vai ficar primeiro disponível numa campanha de croundfounding no Indiegogo, que vamos lançar já no dia 1 de junho com apresentação de todos os modelos e a possibilidade de compra. Em simultâneo estaremos no GREENFEST a apresentar o projeto e a participar numa palestra muito interessante sobre o tema da questão do lixo plástico nos oceanos. O evento decorre em Braga, quem puder passar por lá não hesite. A produção está já em curso, sendo que os sapatos devem chegar aos pés de todos daqui a poucas semanas.
UP: Para terminar, vamos fazer a questão do Fashion Revolution: Quem fez o calçado da Zouri?
As ZOURI são feitas por artesãos de calçado de Guimarães. No mesmo local fazem-se as socas e os sapatos dos ranchos folclóricos. O processo é todo marcado pelo jeito de mãos destes homens que mantêm a arte de se fazer sapatos com detalhe e pormenor.
Desde o início que queríamos que o projeto fosse coerente na íntegra – ecológico, vegan, transparente e assente no comércio justo. Sem fast fashion, com valorização do trabalho de todos.