Apicultores franceses movem ação contra Bayer após descoberta de glifosato no mel
O sindicato apícola francês L’Abeille de l’Aisne apresentou uma queixa contra a Bayer, que acaba de completar a aquisição da Monsanto, após a descoberta de glifosato no mel de um dos seus membros.
Segundo Jean-Marie Camus, presidente do sindicato, o grupo Famille Michaud, um dos maiores comerciantes de mel de França, descobriu o herbicida em três lotes fornecidos por um dos apicultores do L’Abeille de l’Aisne. “Quando eles recebem o mel, analisam-no sistematicamente e encontraram lá o glifosato”, explicou.
Este químico é o ingrediente ativo do Roundup da Monsanto e é também o herbicida mais usado em França, embora tenha sido classificado como “provavelmente cancerígeno” pelo Centro Internacional de Investigação do Cancro da OMS, em 2015.
Emmanuel Ludot, advogado do sindicato, disse que o mel contaminado provinha de um produtor cujas colmeias estão localizadas perto de grandes plantações de girassóis, beterrabas, colza e alfafa. “Mas também não nos podemos esquecer do jardineiro de fim-de-semana e da sua propensão para utilizar facilmente o Roundup”, comentou.
Jean-Marie Camus espera que a denúncia leve à instauração de um inquérito para se determinar a percentagem de glifosato descoberta no mel, se foram detetados outras substâncias, se a contaminação é acidental e quais as possíveis consequências para a saúde dos consumidores.
“A questão também é saber qual é a extensão do fenómeno”, disse Emmanuel Ludot. “[O grupo] Famille Michaud disse-me que este não é um caso isolado.”
Vincent Michaud, presidente do grupo Famille Michaud, confirmou à Agence France-Presse que “detetamos regularmente substâncias indesejáveis, incluindo glifosato”. Se o herbicida é detetado, explicou, toda a remessa do fornecedor é rejeitada.
“Normalmente, os apicultores dirão ‘sendo assim, vou vender o mel numa banca à beira da estrada ou num mercado’, onde não existe controlo de qualidade”, contou. “Mas este apicultor teve a coragem de dizer ‘não vou ser como os outros, vou mover um processo contra a Monsanto.”
Recentemente, a Alemanha anunciou que quer impor “enormes restrições” ao uso do glifosato no país e a Bélgica aprovou um decreto que proíbe a venda de Roundup a particulares.