Há mais de 26 mil espécies ameaçadas de extinção na nova lista vermelha da UICN
De acordo com a mais recente atualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), há 26 197 espécies ameaçadas no mundo.
“[Estas descobertas] reforçam a teoria de que estamos a entrar num período em que as extinções estão a ocorrer a um ritmo muito mais elevado do que o padrão natural. Estamos a colocar em risco os sistemas de suporte de vida do nosso planeta e o futuro da nossa própria espécie”, advertiu Craig Hilton-Taylor, da UICN.
Desde o ano passado, seis espécies foram declaradas extintas, elevando o total para 872. Outras 1700 estão classificadas como criticamente em perigo, possivelmente extintas.
Dezanove espécies já antes incluídas na lista estão agora um passo mais perto da extinção. Uma delas é o sapo Ansonia smeagol (batizado com o nome de uma personagem de “O Senhor dos Anéis” de Tolkien), colocado em risco pela expansão do turismo na Malásia.
O aumento do número de espécies ameaçadas deve-se parcialmente à expansão da própria lista, que inclui agora 93 577 espécies.
Ansonia smeagol |Foto: Chan Kin Onn
Um alerta para os Açores
Em Portugal, dos mais de cem insetos avaliados nos Açores, 74% estão ameaçados de extinção, devido a ameaças como as espécies invasoras e a degradação do habitat.
Todas as 12 espécies de escaravelhos do género Tarphius analisadas foram classificadas como ameaçadas. Estes escaravelhos dependem de madeira em decomposição ou de uma cobertura de musgos e fetos para sobreviverem, mas a conteira (Hedychium gardnerianum), uma planta originária dos Himalaias, está a substituir lentamente as espécies nativas. O Tarphius relictos, um escaravelho endémico da Ilha Terceira, tem sido especialmente afetado por esta mudança, estando agora limitado a uma distribuição com menos de um hectare.
A UICN menciona a criação recente de uma área protegida pelo Governo dos Açores que “dá alguma esperança ao futuro destas espécies”.
“Os escaravelhos são elementos-chave dos ecossistemas, cumprindo funções críticas como a predação e a polinização”, disse Axel Hochkirch, da UICN.
Na Madeira, o molusco Geomitra grabhami, uma espécie endémica do arquipélago, anteriormente classificada como criticamente em perigo (possivelmente extinta), passa agora apenas a criticamente em perigo.
A procura por perfume também coloca espécies em risco de extinção
A árvore Aquilaria malaccensis, que produz uma madeira muito valiosa, passou de “vulnerável” a “criticamente em perigo”, já que as suas populações sofreram um declínio de mais de 80% nos últimos 150 anos.
O pau-de-águila, usado para produzir perfume e incenso, desenvolve-se em algumas árvores do género Aquilaria quando estas são infetadas por bolor e produzem, como mecanismo de defesa, uma resina escura e perfumada. Como é difícil perceber que espécimes foram infetados, são abatidos ilegalmente grandes números destas árvores em busca da preciosa madeira, já que, sem infeção, é uma madeira normal e inodora.
Pau-de-águila
“A atualização da Lista Vermelha da UICN revela o massacre que a biodiversidade do nosso planeta está a enfrentar”, defendeu Inger Andersen, diretora-geral da organização. “Espécies invasoras, mudanças nos padrões dos incêndios, ciclones e conflitos entre os seres humanos e a vida selvagem são apenas algumas das muitas ameaças a causar devastação nos ecossistemas do nosso planeta.”
Um dos destaques do relatório deste ano foram os répteis australianos – 7% dos quais estão ameaçados. De acordo com um estudo recente, os gatos selvagens matam cerca de 600 milhões destes animais por ano.
Nas ilhas Maurícia e Reunião, a raposa-voadora-mauriciana (Pteropus niger) passou de “vulnerável” a “em perigo”. A população deste morcego diminuiu 50% entre 2015 e 2016, devido, em grande parte, a um programa de abate motivado por supostos danos causados por estes animais às culturas de frutas.
Nem tudo são más notícias: quatro espécies de anfíbios que se temia que estivessem extintas foram redescobertas na América do Sul. Mesmo assim, as rãs e os sapos apresentaram, de um modo geral, alguns dos declínios mais acentuados, juntamente com os corais e as orquídeas.
“Esta atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas da UICN mostra que são necessárias medidas urgentes para a conservação das espécie ameaçadas”, disse Jane Smith, da UICN.
“Esta é a nossa oportunidade para agir – temos o conhecimento e as ferramentas para o que precisa de ser feito, mas precisamos agora que todos, governos, sector privado e sociedade civil, intensifiquem ações para prevenir o declínio e a perda de espécies”, disse Craig Hilton-Taylor.
Na opinião de Cristiana Pasca Palmer, secretária-executiva da Convenção sobre a Diversidade Biológica, o mundo precisa agora de um pacto global para a biodiversidade, equivalente em importância ao Acordo de Paris sobre o clima. Cristiana quer que as reservas naturais, áreas marinhas protegidas e outras espaços semelhantes cresçam 10% todas as décadas, para que metade da Terra seja amiga da natureza até 2050.
1ª foto: Leopardo-das-neves, uma espécie classificada como “vulnerável” (Eric Kilby)