Há mais de 26 mil espécies ameaçadas de extinção na nova lista vermelha da UICN

Há mais de 26 mil espécies ameaçadas de extinção na nova lista vermelha da UICN

12 de Julho, 2018 0

Leopardo das neves

De acordo com a mais recente atualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), há 26 197 espécies ameaçadas no mundo.

“[Estas descobertas] reforçam a teoria de que estamos a entrar num período em que as extinções estão a ocorrer a um ritmo muito mais elevado do que o padrão natural. Estamos a colocar em risco os sistemas de suporte de vida do nosso planeta e o futuro da nossa própria espécie”, advertiu Craig Hilton-Taylor, da UICN.

Desde o ano passado, seis espécies foram declaradas extintas, elevando o total para 872. Outras 1700 estão classificadas como criticamente em perigo, possivelmente extintas.

Dezanove espécies já antes incluídas na lista estão agora um passo mais perto da extinção. Uma delas é o sapo Ansonia smeagol (batizado com o nome de uma personagem de “O Senhor dos Anéis” de Tolkien), colocado em risco pela expansão do turismo na Malásia.

O aumento do número de espécies ameaçadas deve-se parcialmente à expansão da própria lista, que inclui agora 93 577 espécies.

Ansonia smeagol
Ansonia smeagol |Foto: Chan Kin Onn

Um alerta para os Açores

Em Portugal, dos mais de cem insetos avaliados nos Açores, 74% estão ameaçados de extinção, devido a ameaças como as espécies invasoras e a degradação do habitat.

Todas as 12 espécies de escaravelhos do género Tarphius analisadas foram classificadas como ameaçadas. Estes escaravelhos dependem de madeira em decomposição ou de uma cobertura de musgos e fetos para sobreviverem, mas a conteira (Hedychium gardnerianum), uma planta originária dos Himalaias, está a substituir lentamente as espécies nativas. O Tarphius relictos, um escaravelho endémico da Ilha Terceira, tem sido especialmente afetado por esta mudança, estando agora limitado a uma distribuição com menos de um hectare.

A UICN menciona a criação recente de uma área protegida pelo Governo dos Açores que “dá alguma esperança ao futuro destas espécies”.

“Os escaravelhos são elementos-chave dos ecossistemas, cumprindo funções críticas como a predação e a polinização”, disse Axel Hochkirch, da UICN.

Na Madeira, o molusco Geomitra grabhami, uma espécie endémica do arquipélago, anteriormente classificada como criticamente em perigo (possivelmente extinta), passa agora apenas a criticamente em perigo.

A procura por perfume também coloca espécies em risco de extinção

A árvore Aquilaria malaccensis, que produz uma madeira muito valiosa, passou de “vulnerável” a “criticamente em perigo”, já que as suas populações sofreram um declínio de mais de 80% nos últimos 150 anos.

O pau-de-águila, usado para produzir perfume e incenso, desenvolve-se em algumas árvores do género Aquilaria quando estas são infetadas por bolor e produzem, como mecanismo de defesa, uma resina escura e perfumada. Como é difícil perceber que espécimes foram infetados, são abatidos ilegalmente grandes números destas árvores em busca da preciosa madeira, já que, sem infeção, é uma madeira normal e inodora.

Pau-de-águila
Pau-de-águila

“A atualização da Lista Vermelha da UICN revela o massacre que a biodiversidade do nosso planeta está a enfrentar”, defendeu Inger Andersen, diretora-geral da organização. “Espécies invasoras, mudanças nos padrões dos incêndios, ciclones e conflitos entre os seres humanos e a vida selvagem são apenas algumas das muitas ameaças a causar devastação nos ecossistemas do nosso planeta.”

Um dos destaques do relatório deste ano foram os répteis australianos – 7% dos quais estão ameaçados. De acordo com um estudo recente, os gatos selvagens matam cerca de 600 milhões destes animais por ano.

Nas ilhas Maurícia e Reunião, a raposa-voadora-mauriciana (Pteropus niger) passou de “vulnerável” a “em perigo”. A população deste morcego diminuiu 50% entre 2015 e 2016, devido, em grande parte, a um programa de abate motivado por supostos danos causados por estes animais às culturas de frutas.

Nem tudo são más notícias: quatro espécies de anfíbios que se temia que estivessem extintas foram redescobertas na América do Sul. Mesmo assim, as rãs e os sapos apresentaram, de um modo geral, alguns dos declínios mais acentuados, juntamente com os corais e as orquídeas.

“Esta atualização da lista vermelha de espécies ameaçadas da UICN mostra que são necessárias medidas urgentes para a conservação das espécie ameaçadas”, disse Jane Smith, da UICN.

“Esta é a nossa oportunidade para agir – temos o conhecimento e as ferramentas para o que precisa de ser feito, mas precisamos agora que todos, governos, sector privado e sociedade civil, intensifiquem ações para prevenir o declínio e a perda de espécies”, disse Craig Hilton-Taylor.

Na opinião de Cristiana Pasca Palmer, secretária-executiva da Convenção sobre a Diversidade Biológica, o mundo precisa agora de um pacto global para a biodiversidade, equivalente em importância ao Acordo de Paris sobre o clima. Cristiana quer que as reservas naturais, áreas marinhas protegidas e outras espaços semelhantes cresçam 10% todas as décadas, para que metade da Terra seja amiga da natureza até 2050.
1ª foto: Leopardo-das-neves, uma espécie classificada como “vulnerável” (Eric Kilby)

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