Há marfim ilegal abertamente à venda em Portugal e noutros 9 países europeus
Há marfim ilegal de elefantes recentemente abatidos à venda em Portugal e por toda a Europa, revelou um novo estudo da Avaaz.
Os investigadores compraram 109 artigos de marfim a antiquários e vendedores privados de 10 países europeus e testaram-nos na Universidade de Oxford, utilizando o método de datação por radiocarbono para determinar a sua idade.
Três quartos dos objetos foram classificados como ilegais. Os testes também revelaram que algum do marfim pertencia a elefantes que ainda estavam vivos em 2010.
Todas as peças compradas na Bulgária, Itália e Espanha eram ilegais, assim como a maioria dos itens adquiridos em Portugal, França e Holanda.
“É revoltante”, disse Bert Wander, activista da Avaaz que organizou a compra dos artigos. “Estou a ver as bugigangas que compramos em cima da minha secretária e só de pensar que um elefante – com todas as coisas que estamos a aprender sobre eles, sobre o seu processo cognitivo e as suas sociedades avançadas – morreu para se fazer esta pulseira que estou a segurar agora, faz-me ficar furioso.”
Os outros países envolvidos no estudo foram a Bélgica, a Alemanha, a Irlanda e o Reino Unido.
A Avaaz expõs as oitenta peças de marfim ilegal à frente da Comissão Europeia, em Bruxelas, exigindo a proibição do comércio de marfim na Europa
As peças que os investigadores adquiriram foram-lhes apresentadas pelos vendedores como tendo origem antes de 1947 ou então não possuíam informação relativa à sua idade.
O marfim anterior a 1947 é visto, na União Europeia, como uma antiguidade, podendo ser comercializado sem restrições. Contudo, o comércio do marfim com origem entre 1947 e 1990 está sujeito a restrições e são necessários certificados oficiais para que possa ser vendido legalmente.
Os testes realizados na Universidade de Oxford revelaram que mais de 74% dos artigos eram posteriores a 1947 e que um em cada cinco provinha de elefantes mortos após o comércio internacional de marfim ter sido proibido em 1989.
Estes testes não nos dizem a data em que o elefante morreu, mas sim quando o marfim se formou no animal vivo. Isto significa que o elefante poderá ter morrido décadas após a data revelada nos resultados.
Algumas das peças adquiridas pelos investigadores | Fotos: Avaaz
“Estes resultados chocantes mostram que o suposto mercado ‘legal’ de marfim está, de facto, a impulsionar o massacre irracional de elefantes”, defendeu Catherine Bearder, deputada do Parlamento Europeu. “Chegou a altura de todos os Estados-membros da UE introduzirem uma proibição total do marfim com um número limitado de exceções para obras de arte excecionais.”
Todos os dias, são mortos, em média, 55 elefantes e os conservacionistas temem que, a este ritmo, eles possam estar extintos na natureza no espaço de uma geração.
“A lei europeia sobre o marfim está desadequada e os elefantes estão a pagar o preço”, afirmou Bert Wander. “Precisamos urgentemente de a corrigir, proibindo o comércio de marfim e garantindo que todos os elefantes são protegidos, para que se consiga travar a caça furtiva e salvar estes animais para as gerações vindouras.”
De acordo com o ativista, o estudo rebate as alegações da Comissão Europeia de que não existem provas da comercialização de marfim ilegal na UE.
“Estes testemunhos inesperados provam, sem qualquer sombra de dúvida, que há marfim ilegal a ser vendido por toda a Europa”, disse. “Cada dia em que a venda destas bugigangas persiste é um dia mais perto da exterminação dos majestosos elefantes para sempre.”
As peças de marfim ilegal expostas e divididas por país
Felizmente, também há sinais de esperança. A China proibiu o comércio de marfim, com exceção dos artigos que designa como “antiguidades genuínas”. Hong Kong, o maior mercado de marfim do mundo, anunciou recentemente a sua proibição e o Reino Unido, o maior exportador de marfim legal do mundo, também está a andar nessa direção.
Entretanto, a Comissão Europeia está atualmente a rever as leis da UE sobre o marfim. Karmenu Vella, Comissário europeu do Ambiente, declarou que o novo estudo da Avaaz era “uma contribuição muito importante para a Comissão”, enquanto esta planeia os próximos passos. “Proteger os elefantes é uma prioridade”, escreveu na sua conta do Twitter.