52% das aves de rapina têm populações em declínio
São más notícias para as emblemáticas aves de rapina. Um novo estudo, que analisou o estatuto de conservação das 557 espécies de aves de rapina, descobriu que 18% delas estão ameaçadas de extinção e que as populações globais de 52% estão em declínio.
“Por estarem no topo da cadeia alimentar e apresentarem uma reprodução mais lenta do que muitas outras aves, as rapinas são muito sensíveis a ameaças causadas pelos humanos e têm mais probabilidade de ficarem extintas”, explicou Sarah Schulwitz, coautora do estudo e bióloga da organização The Peregrine Fund.
Entre as ameaças enfrentadas por estas aves estão a destruição e a alteração do habitat, o abate intencional e o envenenamento deliberado ou acidental.
“Os abutres no sul da Ásia sofreram declínios populacionais catastróficos devido aos efeitos tóxicos do medicamento veterinário diclofenac. Na África, os abutres e as corujas são mortos para que as suas partes corporais sejam usadas para supostos benefícios medicinais. Muitas outras aves de rapina são vulneráveis à eletrocussão ou à colisão com linhas elétricas. Mas, como com a maioria das espécies de aves, a agricultura insustentável e o abate de árvores são as principais ameaças”, disse Stuart Butchart, cientista-chefe da BirdLife International e um dos coautores do estudo.
O serpentário ou secretário (Sagittarius serpentarius), uma ave de rapina do continente africano, classificada como “Vulnerável” pela UICN | Foto: Mathias Appel/Flickr
As atividades humanas têm vindo a acelerar o ritmo da perda de biodiversidade no mundo. O desaparecimento de espécies pode ter impactos inesperados e negativos também para o bem-estar humano.
“As aves de rapina desempenham papéis críticos nos ecossistemas”, sublinhou Chris McClure, da The Peregrine Fund.
Nos anos 90, as populações de três espécies de abutres no subcontinente indiano sofreram um declínio de 97-99% devido ao uso veterinário do medicamento diclofenac. Esse declínio também teve impactos inesperados na saúde humana.
Quando os abutres se alimentavam de animais mortos tratados com diclofenac, as quantidades residuais do fármaco nos tecidos dos animais provocavam insuficiência renal e a morte destas aves necrófagas.
“O desaparecimento dos abutres causou o aumento do número de cães vadios e das mortes de pessoas associadas a raiva. No total, a quase extinção de três espécies de abutres resultou no dispêndio de mais de 34 mil milhões de dólares em despesas médicas em toda a região”, conta o The Peregrine Fund.
O abutre-de-bico-longo (Gyps indicus), uma das espécies de abutre que sofreram declínios dramáticos devido ao envenenamento por diclofenac | Foto: Deepak Sankat
O estudo também revelou que a Indonésia apresenta a maior variedade de espécies de aves de rapina e o maior número de espécies em declínio, e que as rapinas que dependem de habitats florestais têm maior probabilidade de estarem ameaçadas e em declínio.
“As aves de rapina estão entre as aves mais emblemáticas, mas também estão altamente ameaçadas, sendo que muitas das espécies de maior dimensão necessitam de vastas extensões florestais intactas e outras são perseguidas devido aos seus supostos impactos na pecuária e na caça”, destacou Stuart Butchart.
A coruja-das-neves (Bubo scandiacus), uma espécie classificada pela UICN como “Vulnerável” | Foto: David Hemmings Quebec
Os investigadores ofereceram algumas recomendações para travar estes declínios.
“Para além da proteção dos habitats, precisamos de reforçar e fazer cumprir as leis que previnem o abate ilegal e a caça insustentável”, aconselhou o cientista-chefe da BirdLife International. “Outras prioridades incluem a educação e a sensibilização, mudanças políticas – como uma melhor regulamentação da utilização de venenos – e medidas de segurança para as linhas elétricas perigosas. Para as espécies migradoras, a cooperação internacional reveste-se de especial importância.”
1ª foto: Águia-das-estepes, Aquila nipalensis (Sumeet Moghe)