São 8 as primeiras extinções de aves confirmadas nesta década. A ararinha-azul é uma delas
A ararinha-azul, a ave celebrizada pelo filme de animação “Rio”, está oficialmente extinta na natureza. O poo-uli, o limpa-folhas-do-nordeste e o gritador-do-nordeste são outras das oito espécies de aves que podem agora integrar a lista crescente de extinções confirmadas ou altamente prováveis. Estas são as conclusões de um novo relatório da BirdLife International.
As extinções que tiveram lugar na América do Sul, cinco no total, refletem os efeitos devastadores da desflorestação na natureza. Quatro delas ocorreram no Brasil.
“Quando as pessoas pensam em extinções, imaginam o dodó, mas a nossa análise mostra que as extinções continuam a acontecer, hoje em dia, e que estão a intensificar-se”, disse Stuart Butchart, cientista-chefe da BirdLife International.
“Historicamente, 90% das extinções de aves foram de pequenas populações em ilhas remotas”, explicou o cientista. “Contudo, os nossos resultados confirmam que existe uma onda crescente de extinções a abater-se sobre os continentes, impulsionada sobretudo pela perda e degradação de habitats, resultantes da agricultura e da exploração madeireira insustentáveis.”
Segundo a mais recente atualização da Lista Vermelha da UICN, há, atualmente, mais de 26 mil espécies ameaçadas no mundo.
Esperança para a ararinha-azul
A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) foi descoberta no início do século XIX pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix. A espécie viu a sua população ser dizimada pela captura e comércio de animais silvestres, entre outras ameaças.
Em 1986, as buscas só encontraram três espécimes na natureza. Dois acabaram por ser capturados ilegalmente. O último exemplar em estado selvagem de que se tem conhecimento foi avistado, pela derradeira vez, em 2000.
Mas ainda há esperança para esta ave emblemática. Exemplares criados em cativeiro serão reintroduzidos na natureza, durante os próximos anos.
“Até 2022 esperamos ter a ararinha-azul reintroduzida com sucesso na natureza”, disse a veterinária Camile Lugarini, responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação da Ararinha-Azul.
Um po’o-uli | Foto: Paul E. Baker
Há quem não volte
Para o poo-uli, uma ave do Havai, para o gritador-do-nordeste e o limpa-folhas-do-nordeste, duas espécies endémicas do Brasil, já não há esperança. As tentativas para criar o poo-uli em cativeiro falharam e o gritador-do-nordeste desapareceu, depois de o seu habitat ser convertido em plantações de cana-de-açúcar e em pastagens. Estas aves não voltarão a ser vistas nos céus.
Das oito espécies reclassificadas como extintas pela BirdLife International, quatro estão “criticamente em perigo, possivelmente extintas”. Fazem parte deste grupo a corujinha caburé-de-pernambuco e a arara-azul-pequena.
De acordo com Stuart Butchart, a classificação “possivelmente extinta” é uma avaliação extremamente cautelosa que significa, quase certamente, que a espécie desapareceu. O cientista explicou ainda que é importante não se declarar uma espécie extinta prematuramente, já que o abandono dos esforços de conservação poderá acelerar o seu desaparecimento.
“Dispomos de recursos limitados para a conservação, por isso precisamos de os gastar sensata e eficazmente. Se algumas destas espécies desapareceram, precisamos de redirecionar esses recursos para as que restam”, destacou o cientista. “Esperamos que este estudo inspire um redobrar de esforços para prevenir outras extinções.”
Em Portugal, a Quercus salientou a necessidade de cooperação entre diferentes agentes para se evitarem mais extinções. “É necessário que governo, autarquias e associações trabalhem juntos num esforço para preservar habitats ameaçados e restaurar habitats degradados para inverter esta tendência que aponta para uma extinção em massa de espécies no nosso planeta”, disse João Branco, presidente da Quercus.
A associação lembrou que existem em Portugal várias espécies de aves em perigo de extinção global, como a águia-imperial e o abutre-preto, e sublinhou o caso da rola-brava que, apesar de se encontrar globalmente ameaçada, continua a ser caçada no país.