Pela primeira vez, a Semana da Moda de Londres não vai ter peles de animais
Pela primeira vez, não haverá peles de animais nos desfiles da Semana da Moda de Londres. O Conselho Britânico de Moda (BFC, na sigla em inglês) fez este anúncio depois de descobrir, através de um inquérito, que nenhum dos estilistas com presença marcada no evento planeava utilizar peles nos seus desfiles.
Segundo Caroline Rush, diretora executiva do BFC, esta decisão “põe em destaque uma tendência que temos visto ao longo dos últimos anos, com cada vez mais marcas a decidirem utilizar materiais alternativos às peles”.
“A crueldade da indústria das peles já não é bem-vinda na passarela da Semana da Moda de Londres e isto é uma vitória poderosa e entusiasmante para os animais, uma que esperamos que os outros copiem”, disse Wendy Higgins, da organização de defesa dos direitos dos animais Humane Society International.
Uma das últimas marcas a aderir ao movimento “fur-free” foi a Burberry. Para além de abandonar o uso de peles, a marca de luxo também anunciou que vai deixar de destruir a roupa que não é vendida. Este compromisso foi feito depois de ter sido revelado que a marca tinha destruído todas as criações que tinham sobrado do ano anterior, uma estratégia que, segundo a mesma, pretendia impedir que os seus produtos fossem copiados ou vendidos a preços inferiores.
“A posição [agora] assumida pela Burberry não podia ter vindo em melhor altura, enviando um forte sinal aos outros estilistas, como os da marca Prada, que continuam a usar peles e que parecem cada vez mais desatualizados e isolados a cada dia que passa”, defendeu Wendy Higgins.
No ano passado, as marcas Gucci, Michael Kors e Versace, entre outras, também se comprometeram a proibir as peles.
Nas quintas de produção de peles, os animais vivem vidas curtas em jaulas de dimensões reduzidas. A eletrocussão e o gaseamento costumam ser as formas de execução escolhidas, por não danificarem as suas peles. | Foto: Otwarte Klatki/Flickr
“O diálogo em torno das peles está a decorrer e a posição assumida por marcas como a Burberry, Stella McCartney, Gucci, Yoox Net-A-Porter, Versace e Vivienne Westwood, entre outras, ao procurarem opções alternativas às peles, encorajará mais marcas a considerar as opções disponíveis”, declarou Caroline Rush.
Embora a criação de animais para produção de peles esteja proibida no Reino Unido desde 2000, o país importou, em 2017, quase 75 milhões de libras esterlinas de peles. Isto significa que apesar de as quintas de produção de peles serem ilegais no país, continua a ser legal venderem-se alguns tipos de peles importadas de outros países.
Peles falsas ou verdadeiras?
Em fevereiro, o Comité do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (EFRA, na sigla em inglês) começou uma investigação que revelou que diversas lojas físicas e online, incluindo a TK Maxx, BooHoo, Boots, Amazon, Etsy, Kurt Geiger e Tesco, estavam a vender peles verdadeiras, de animais como coelhos, raposas e chinchilas, como se estas fossem falsas.
O EFRA descreveu a atual rotulagem de produtos de peles como “inadequada” e disse que as lojas e as entidades de inspeção do comércio tinham adotado uma atitude complacente relativamente à rotulagem incorreta dos produtos.
“Fur-free” não significa automaticamente “amigo do ambiente”
Com a aposta das marcas nas alternativas às peles, surgem também preocupações relativamente ao impacto ambiental destes materiais.
Segundo Rachael Stott, do The Future Laboratory, embora as marcas devam ser felicitadas por apostarem em opções livres de crueldade, a eliminação dos produtos de origem animal, quando feita irrefletidamente, “pode dar origem a alternativas sintéticas de baixo valor [que] despertam as suas próprias questões ambientais e éticas”.
“Os processos de fabrico usados para as criar envolvem químicos tóxicos e poluem os rios circundantes e os aterros”, disse.
A investigadora apontou o exemplo do couro artificial fabricado com PVC. “Atualmente, não existe uma forma segura de produzir ou descartar produtos de PVC, por isso os consumidores podem ser erroneamente levados a pensar que ‘vegan’ significa automaticamente amigo do ambiente.”
Os tecidos sintéticos e polares são também uma das grandes fontes do plástico que está a poluir os oceanos. De cada vez que são lavados, há fibras minúsculas de plástico que se libertam para a água da lavagem e que vão parar aos rios e ao mar, onde são uma ameaça para os animais marinhos que as ingerem.