Cursos de água de Yellowstone recuperam graças à reintrodução de lobos no parque
Depois de terem sido perseguidos e eliminados deliberadamente do Parque Nacional de Yellowstone no início do séc. XX, os lobos e os pumas só foram reintroduzidos neste parque no final do mesmo século.
Agora, um estudo da Universidade Estatal de Oregon mostrou que o regresso dos carnívoros de grande porte está a ter um impacto positivo na estrutura e funcionamento dos cursos de água. Estas descobertas realçam o papel dos grandes predadores na saúde dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos.
O estudo começou nove anos após a reintrodução dos lobos em Yellowstone e duas décadas após o regresso dos pumas ao mesmo parque. Os investigadores Robert Beschta e William Ripple analisaram os arbustos e árvores do género Salix (salgueiros) na margem de dois braços de um afluente do rio Beaverhead, o Blacktail Deer Creek, ao longo de um período de 13 anos – a primeira vez em 2004 e a segunda em 2017.
O desaparecimento dos lobos e dos pumas do Parque Nacional de Yellowstone levou ao aumento do número de veados. Ao se alimentarem excessivamente da vegetação ripícola, estes cervídeos contribuíram, por sua vez, para a erosão das margens dos canais e a degradação dos cursos de água, outrora protegidos por arbustos.
Lobo no Parque Nacional de Yellowstone | Foto: NPS/Jacob W. Frank
“Nos anos 90, os cervos continuavam a não permitir que os salgueiros crescessem muito, ficando normalmente com menos de 60 centímetros de altura, e isso levou ao alargamento do ribeiro”, contou Robert Beschta. “Mas, em 2017, predominavam os salgueiros com mais de 1,80 m, e o coberto florestal sobre o ribeiro, que tinha estado essencialmente ausente em 1995, aumentou, ao longo dos dois braços do afluente, para 43% e 93%, respetivamente.”
Todas estas mudanças – o aumento da altura da vegetação e do coberto florestal e a estabilização das margens dos canais – indicam a recuperação do ecossistema ribeirinho, explicou o investigador. Contudo, esta recuperação ainda está nas suas fases iniciais.
“Em algumas zonas, estas alterações geomorfológicas nos canais poderão não ser rapidamente reversíveis e poderão persistir durante muito tempo”, disse.
Lobo no Parque Nacional de Yellowstone | Foto: NPS/Jacob W. Frank
Ainda assim, a recuperação que já teve lugar mostra os muitos aspetos positivos da presença dos carnívoros de grande porte.
“Os pumas tinham regressado há algum tempo, e os ursos tinham estado sempre presentes, mas eles não conseguiram controlar as populações de cervídeos ou pelo menos o seu ‘browsing’ [consumo de rebentos e folhas de árvores e arbustos]”, afirmou Robert Beschta. “Só quando os lobos regressaram é que tivemos este efeito e começamos a ver progressos nas comunidades de plantas e nos cursos de água.”
Com as melhorias observadas nos canais e na vegetação ripícola, os castores também estão a regressar a partes da zona estudada. As barragens destes animais trarão consigo um leque de benefícios para o ecossistema. “Isso são boas notícias não só para a vegetação ripícola mas também para uma série de espécies de animais selvagens, como os pássaros, as aves aquáticas, os anfíbios, os peixes, entre outros”, disse o investigador.
O ribeiro de Blacktail Deer em 2005 (em cima) e em 2017 (em baixo) | Foto: Universidade Estatal de Oregon