Porque as redes das balizas de futebol podem ser fatais para os animais
Para os animais selvagens, as zonas urbanas e suburbanas estão repletas de obstáculos e perigos. As vedações e as cercas, em especial as de arame farpado, são um deles.
O que muitos desconhecem, conta Chantal Theijn, da organização de reabilitação animal Hobbitstee Wildlife Refuge, é que as redes das balizas de futebol também são uma ameaça para a vida selvagem.
No ano passado, a sua equipa deparou-se com 5 ou 6 casos de veados presos nestas redes e cerca de 15 em que os animais afetados foram aves de rapina, particularmente corujas, que não detetam a rede enquanto caçam à noite.
Nos casos de enredamento, a deteção e intervenção precoces podem ser decisivas para a sobrevivência do animal.
Um dos incidentes mais recentes que Chantal Theijn testemunhou foi o de um veado num parque da cidade de Hamilton, na província de Ontário, no Canadá. Quando chegou ao local, o animal debatia-se, preso na rede da baliza, e estava “extraordinariamente stressado”, o que fez com que o sedativo que lhe administraram não tivesse surtido qualquer efeito.
“Quando os veados estão mesmo, mesmo stressados, a sua adrenalina anula qualquer fármaco que se administre”, explicou.
O instinto de fuga de um veado é tão forte, que o animal também se pode ferir – por vezes fatalmente – só para se afastar daquilo que encara como um perigo, mesmo que este perigo sejam as pessoas que o estão a tentar ajudar.
O veado que ficou preso à rede de uma baliza em Hamilton | Fotos: Hobbitstee Wildlife Refuge
O animal acabou por ser libertado, mas a história não tem um final feliz. O veado, que se afastara do campo e acabara por cair, mostrava sinais de miopatia de captura – uma síndrome associada à captura e manuseamento de animais selvagens, causada por stress ou esforço extremos, que termina quase sempre na morte do animal.
O veado não sobreviveu ao seu encontro com a rede de futebol.
Ao contrário do que vemos nos vídeos de resgates de animais publicados no YouTube, os finais felizes são bem mais raros, conta Chantal.
“Existe uma infinidade de vídeos no YouTube, nos quais os veados são libertados e depois fogem”, explicou ao site Mother Nature Network. “Mas eu gostava que prolongassem esses vídeos até dois dias depois de o veado ter fugido e me dissessem se ele ainda está vivo. Porque muitos deles não estarão.”
Candice Haskin, bióloga do Departamento de Recursos Naturais do estado norte-americano de Maryland, também se lembra de um dos seus encontros com uma situação destas. “Quando cheguei, o veado tinha envolvido [a rede de futebol] à volta do seu nariz e asfixiado.”
Uma solução simples
A solução para este problema é “estupidamente simples”, defende Chantal. Afinal, não há necessidade alguma de as redes permanecerem nas balizas depois de acabados os jogos.
“Pode-se, simplesmente, enrolar as redes até ao topo e prendê-las com alguns atilhos. Nem é preciso removê-las. Pode-se só enrolá-las”, disse. “Como seres humanos, temos mesmo de fazer isto. É algo que não custa nada.”
Chantal Theijn gostaria que esta prática se tornasse uma rotina nos campos de futebol, encorajada pelos treinadores.
Vídeo: Um dos resgates publicados no YouTube. As imagens deste vídeo podem chocar os leitores mais sensíveis.
Boas notícias
Após a morte do veado no campo de Hamilton, o Departamento de Parques da cidade decidiu tomar medidas.
“Perante este evento trágico, a Cidade de Hamilton garantirá que as redes serão removidas no outono e perguntará aos grupos que utilizam os campos se elas são mesmo necessárias”, disse Kara Bunn, gerente dos Parques e Cemitérios de Hamilton.
Chantal considerou “fantástico” este compromisso. “Esperemos, agora, que outras cidades tomem nota e sigam o exemplo [de Hamilton].”
O que fazer se encontrar um animal preso numa rede ou vedação
- Contacte a linha SOS AMBIENTE 808 200 520 ou a GNR/SEPNA local.
- Não se aproxime do animal, já que ele se poderá debater e agravar os seus ferimentos.
- Mantenha as pessoas (especialmente as crianças) e os outros animais à distância.
- Sempre que possível, deixe o resgate a cargo de um profissional especializado, que saberá a melhor forma de proceder ao mesmo.