Glifosato aumenta risco de cancro em 41%, conclui novo estudo
Uma nova análise científica do potencial cancerígeno dos herbicidas à base de glifosato revelou que as pessoas que estão altamente expostas a estes pesticidas têm um risco acrescido de 41% de contrair linfoma não-Hodgkin, um tipo de cancro no sangue.
O glifosato, o princípio ativo do Roundup da Monsanto, é um dos herbicidas mais usados no mundo, mas a sua utilização está marcada por controvérsias desde que a Agência Internacional para a Investigação do Cancro da Organização Mundial da Saúde (OMS) o classificou como “provavelmente cancerígeno” em 2015.
Os autores do novo estudo concluíram que os indícios “sustentavam uma ligação convincente” entre a exposição aos herbicidas baseados em glifosato e um risco acrescido de linfoma não-Hodgkin (LNH), embora tenham pedido prudência na interpretação dos valores de risco estimados.
“Esta investigação apresenta a mais atual análise do glifosato e a sua relação com o linfoma não-Hodgkin, incorporando um estudo de 2018 com mais de 54 mil pessoas que trabalham como aplicadores registados de pesticidas”, disse Rachel Shaffer, coautora do estudo e investigadora da Universidade de Washington. “Estes resultados estão em linha com a avaliação da Agência Internacional para a Investigação do Cancro.”
A Monsanto e a sua proprietária alemã, a Bayer, enfrentam mais de 9000 processos, nos Estados Unidos, por causa dos alegados efeitos cancerígenos dos seus herbicidas à base de glifosato.
Em agosto do ano passado, o primeiro veredicto sobre a questão foi unânime contra a Monsanto, que vai recorrer da decisão do tribunal. O próximo julgamento, que envolve outro queixoso, começará no dia 25 de fevereiro.
As descobertas do novo estudo contradizem as conclusões da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês), que declarou o herbicida seguro em 2017.
Lianne Sheppard, coautora da nova análise e professora da Universidade de Washington, foi consultora científica da EPA sobre o glifosato e integrou um grupo de conselheiros que acusaram a agência de não ter seguido os protocolos científicos devidos ao chegar a esse parecer. “Foi bastante óbvio que eles não seguiram as suas próprias regras”, disse a cientista. “Há provas de que é cancerígeno? A resposta é sim.”
A Monsanto/Bayer afirma que não existe nenhuma investigação científica legítima que demonstre uma associação definitiva entre o glifosato e o LNH ou qualquer outro tipo de cancro. A empresa defende que o parecer da EPA de que “não era provável” que o glifosato causasse cancro é sustentado por centenas de estudos e que a nova análise “não apresenta quaisquer elementos de prova cientificamente válidos que contradigam estas conclusões”.
O novo trabalho de investigação foi realizado por cientistas da Universidade de Washington, da Universidade de Califórnia em Berkeley e da Escola de Medicina Icahn do Hospital do Monte Sinai (em Nova Iorque).
Três dos cinco autores foram selecionados, em 2016, pela EPA, como membros de um painel de aconselhamento científico sobre o glifosato. O estudo foi publicado na revista científica Mutation Research/Reviews in Mutation Research, cujo chefe de redação é David DeMarini, cientista da EPA.
Para a análise, os investigadores examinaram estudos epidemiológicos publicados entre 2001 e 2018, centrando-se nos grupos de pessoas mais expostos ao glifosato. Ao fazerem isto, quiseram reduzir a probabilidade de os resultados serem influenciados por fatores de confusão. Isto é, se não existisse uma verdadeira relação entre o glifosato e o cancro, então os indivíduos altamente expostos a este produto não deveriam registar taxas significativas de desenvolvimento de cancro.
Para além dos estudos sobre o impacto do glifosato em pessoas, os investigadores também analisaram estudos realizados em animais.
“Juntas, todas as meta-análises realizadas até à data, incluindo a nossa, assinalam de forma consistente a mesma constatação: a exposição a herbicidas baseados em glifosato está relacionada com um risco acrescido de LNH”, concluíram os autores.
“A nossa análise focou-se em responder da melhor forma possível à questão de saber se o glifosato é ou não cancerígeno”, disse Lianne Sheppard. “Como resultado desta investigação, estou ainda mais convencida de que é.”