Centenas de golfinhos mutilados, vítimas de redes de pesca, dão à costa em França
Desde o início de janeiro, já deram à costa atlântica de França mais de 1100 golfinhos, vítimas maioritariamente das redes de pesca, avisam os cientistas do Observatório Pelagis.
Na praia francesa de Sables-d’Olonne, a organização Sea Shepherd France encontrou inúmeras carcaças mutiladas destes animais, empilhadas na areia. Os cetáceos apresentavam fraturas, ferimentos profundos e as barbatanas de vários estavam cortadas.
Os golfinhos que chegam assim às praias francesas são apenas alguns dos vários milhares que são mortos acidentalmente pela indústria pesqueira todos os anos. Os cientistas temem que estas mortes possam ameaçar o futuro das populações francesas dos cetáceos.
“Em média, 6000 golfinhos são mortos todos os anos na costa ocidental de França por grandes arrastões industriais e navios de pesca. Esse número pode elevar-se até 10 mil, de acordo com o Observatório Pelagis, sedeado em La Rochelle. Isto é muito mais do que [o total de mortes] nos massacres de golfinhos das Ilhas Faroé e da baía de Taiji, no Japão”, diz a Sea Shepherd.
Os golfinhos são apanhados nas enormes redes usadas para capturar peixes como a pescada e o robalo, de que estes cetáceos gostam de se alimentar. Quando ficam presos nas redes, podem sufocar, já que não conseguem vir à superfície respirar.
“As redes dos arrastões não são suficientemente seletivas, e, quando uma delas cerca um cardume de robalos, há, muitas vezes, golfinhos entre eles”, explica Lamya Essemlali, presidente da Sea Shepherd France. “Uma vez presos na rede, não se conseguem libertar.”
Os animais que são içados vivos nas redes sofrem “ferimentos infligidos pelos pescadores”, acusa ainda a organização.
“[Os pescadores] cortam as suas barbatanas dorsais e a cauda para os remover das redes sem as danificarem”, explicou Lamya Essemlali. “As redes são muito dispendiosas e isso prevalece sobre a vida dos golfinhos. [Depois] costumam atirá-los de volta para a água. Às vezes, abrem o seu ventre para que [as carcaças] se afundem e não deem à costa.”
Estas capturas acontecem em maior número entre janeiro e março.
Embora a Comissão das Pescas de Loire afirme que, este ano, todos os arrastões estão equipados com dispositivos acústicos de dissuasão (“pingers”), a Sea Shepherd contesta esta afirmação, alegando que “quase nenhum dos arrastões que encontramos no Golfo da Biscaia estava equipado com pingers”.
O grupo acusa as autoridades francesas de permitirem “métodos de pesca destrutivos em zonas sensíveis” e de não exigirem a presença de observadores independentes – ou câmaras – a bordo das embarcações de pesca.
As organizações ambientalistas reclamam uma “redução imediata” do número de navios de pesca nessas águas – que pertencem principalmente a frotas francesas e espanholas – e pedem uma melhor coordenação entre o governo francês e o espanhol para o desenvolvimento de uma solução para o problema.
O ministro francês da Transição Ecológica, François de Rugy, anunciou recentemente um aumento de recursos e um plano a implementar até ao fim do ano para combater as capturas acidentais e a morte de golfinhos, pedindo aos investigadores do Observatório Pelagis uma “análise abrangente e completa da situação”.
Em Portugal, dois golfinhos mortos e mutilados deram à costa nas praias de Santa Cruz em março, com as barbatanas caudais cortadas. No mês de janeiro, outros três golfinhos já tinham sido encontrados nas mesmas praias.
1ª foto: Sea Shepherd Global
Manuel Luis
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30 de Março, 2019