Lontras, martas, arminhos e outros carnívoros regressam “em força” à Grã-Bretanha
São boas notícias para os carnívoros selvagens da Grã-Bretanha: as populações de texugos, lontras, martas, toirões, doninhas e arminhos cresceram “de forma acentuada” desde os anos 60, revelou um novo estudo.
As lontras recolonizaram quase completamente a ilha britânica e as populações de texugos praticamente duplicaram desde os anos 80. Por sua vez, os toirões alargaram a sua área de distribuição ao longo do sul da ilha e as martas expandiram-se a partir das Terras Altas da Escócia.
A caça, a armadilhagem, os programas de controlo, o uso de substâncias químicas tóxicas e a destruição de habitats contribuíram para o declínio da maioria dos mamíferos predadores nos séc. XIX e XX.
“Os carnívoros recuperaram de uma forma que pareceria incrivelmente improvável nos anos 70, quando a extinção de algumas espécies se afigurava uma verdadeira possibilidade”, disse Katie Sainsbury, principal autora do estudo e investigadora da Universidade de Exeter.
“As espécies recuperaram, essencialmente, por elas próprias, assim que as pressões dos programas de controlo de predadores e dos poluentes diminuíram, e [esta recuperação] levou tempo.”
Doninha (Mustela nivalis) | Foto: big-ashb/Flickr
Embora as populações destes animais estejam a ver melhores dias, os cientistas lembram que a maioria ainda está reduzida a mínimos históricos, havendo muito espaço para a sua recuperação, tanto a nível de distribuição como de densidade.
Como explica o jornal britânico The Guardian, as razões por trás da recuperação de cada carnívoro são diferentes. As lontras, por exemplo, voltaram a todos os condados ingleses depois da proibição dos pesticidas organoclorados e de a sua caça ter sido tornada ilegal em 1978. Estima-se que existam agora 11 mil destes animais na Grã-Bretanha.
Por outro lado, os toirões começaram a recuperar com a redução do controlo de predadores durante o início do séc. XX, a proibição das armadilhas de mandíbulas em 1958 e a recuperação das populações de coelhos. As estimativas mais recentes apontam para a existência de 83 mil destes mustelídeos na ilha.
Toirões (Mustela putorius) | Foto: Peter Trimming
“A maioria destes animais sofreu declínios no séc. XIX, mas está agora a regressar graças à proteção jurídica, aos esforços de conservação, à remoção de poluentes e à restauração dos habitats”, contou Robbie McDonald, professor da Universidade de Exeter.
“As reintroduções também desempenharam um papel importante. Cinquenta e uma martas foram recentemente reintroduzidas no País de Gales, vindas da Escócia, e estão a reproduzir-se com sucesso no país. As reintroduções de lontras ajudaram a restabelecer a espécie no leste da Inglaterra.”
Algumas das ameaças que estes predadores continuam a enfrentar são o uso excessivo de rodenticidas e as novas doenças que afetam as suas presas.
Embora o número de raposas também tenha crescido desde os anos 60, verificou-se um declínio da espécie entre 1996 e 2016, que se pensa estar ligado a um decréscimo no número de coelhos, causado pela doença hemorrágica viral do coelho tipo 2.
Gato-bravo (Felis silvestris) | Foto: big-ashb/Flickr
Das oito espécies de carnívoros analisadas pelos cientistas, o gato-bravo é o que tem menos razões para celebrar. Algumas estimativas sugerem que só restarão cerca de 200 espécimes na ilha. O seu declínio tem sido causado, em grande medida, pelo cruzamento com gatos domésticos, que tem levado à perda de genes.
Os cientistas avisam que é necessária uma reflexão sobre a forma como as populações em crescimento destes animais irão interagir com os humanos, sendo fundamental o trabalho no sentido de encontrar formas de prevenir conflitos e permitir a coexistência a longo prazo.
O estudo foi publicado na revista científica Mammal Review.
1ª foto: Lontra-europeia, Lutra lutra (Airwolfhound/Flickr)