Comércio ilegal de bílis de urso persiste na Malásia, revela estudo da Traffic
O comércio ilegal de partes e derivados de urso para utilização na medicina tradicional persiste na Malásia, havendo, atualmente, mais lojas a vender produtos que alegam conter alguma forma de bílis destes animais do que havia há quatro anos.
Um novo estudo da TRAFFIC – organização que monitoriza o comércio da vida selvagem – descobriu medicamentos derivados de urso à venda em 69% das lojas de medicina tradicional chinesa inspecionadas na Malásia peninsular entre 2017-2018.
Como nos relatórios anteriores, os comprimidos de bílis de urso foram os produtos observados com maior frequência, perfazendo 88% dos itens encontrados, seguidos, de longe, pelas vesículas biliares (7%).
Embora os comprimidos fossem fáceis de encontrar, a sua autenticidade não era clara, devido à inconsistência das alegações dos comerciantes e à falta de clareza ou ausência de rótulos em alguns produtos.
O urso-malaio (Helarctos malayanus) é a única espécie de urso nativa da Malásia e a caça e comércio ilegais impulsionados pela procura por medicamentos tradicionais representam uma séria ameaça para as populações destes animais, incluídos na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN.
Comprimidos de bílis de urso encontrados durante as inspeções | Foto: Traffic
Em comparação com o estudo anterior, apenas uma fração dos vendedores afirmou possuir comprimidos de bílis de urso em estado puro. A maioria disse aos investigadores que a venda de produtos à base desta substância era proibida ou que alguns dos comprimidos continham, de facto, uma mistura de ervas medicinais e a bílis de outros animais.
“Apesar de o comércio persistir, tornou-se menos claro se os comerciantes estão a vender produtos genuínos, à base de bílis de urso, ou se estão simplesmente a tentar contornar a lei ao alegarem que os seus produtos só contêm plantas e a bílis de outro animal”, disse Kanitha Krishnasamy, diretora da TRAFFIC no sudeste asiático.
“Se um número crescente de comerciantes estiver realmente a fazer passar outros ingredientes – sejam eles de origem animal ou não – por medicamentos com bílis de urso, isto acrescenta outro aspeto preocupante ao problema, e um que requer escrutínio por parte das entidades reguladoras. Mas, independentemente disto, esta prática perpetua a crença de que os medicamentos à base de urso são eficazes e impulsiona a procura e comércio ilegal destes animais.”
Bílis de urso alegadamente importada da China | Foto: TRAFFIC
O Território Federal de Kuala Lumpur e Selangor foram os que apresentaram a maior percentagem de lojas com produtos de bílis de urso. O estudo não abrangeu os estados de Sabá e Sarawak.
Em junho de 2019, foi lançado um plano de ação para a conservação global do urso-malaio, que inclui uma estratégia de 10 anos para salvaguardar esta que é a espécie de urso mais pequena do mundo e que continua a ser vítima do comércio ilegal.
1ª foto: Urso-malaio (BirdPhotos.com/Wikimedia Commons)