Todos os dias morre um golfinho em Portugal nas redes de pesca acidentalmente
Em Portugal continental, morre acidentalmente pelo menos um golfinho por dia nas redes de pesca, de acordo com a investigadora Catarina Eira, da Universidade de Aveiro.
Esta semana a Comissão Europeia enviou uma carta aos ministros do mar de 22 estados, incluindo o de Portugal, a pedir uma solução para as capturas acidentais de golfinhos e outros animais marinhos nas águas comunitárias.
Na declaração o comissário europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius, afirmou que, em toda a UE, “os níveis de capturas acidentais são inaceitáveis”, podendo levar à “extinção de populações locais de espécies protegidas”.
“Se a taxa de mortalidade não diminuir [do boto] prevemos a extinção na costa portuguesa nos próximos 20 anos”, conta Catarina Eira, que explica que o golfinho-comum tem a maior taxa de captura e mortalidade, muito acima do golfinho riscado ou do roaz.
A investigadora portuguesa disse que a Universidade recolheu no ano passado cerca de 320 golfinhos, só no Norte e Centro do país, e que a situação portuguesa não é das piores.
“Temos contabilizado animais que chegam já mortos às praias” e nas análises conseguimos identificar a causa de morte, que na maioria é devido a “captura acidental”, diz Catarina Eira.
Só nas seis primeiras semanas do ano, 670 animais, a maior parte golfinhos, foram recolhidos nas costas francesas, segundo a organização ambientalista Pelagis, que culpa as redes de pesca. Em 2019, foram encontrados 11 mil golfinhos mortos nas costas de França.
O projeto LIFE concluiu que as redes mais perigosas para estes animais são as de emalhar.
O projeto fala no “caso crítico” do boto, com dados de 2015 em que 8,4% da população de Portugal continental era enrolada nas redes todos os anos, “um valor inadmissível em função dos 1,7% máximos recomendados”. E estimava que o golfinho-comum podia ter uma mortalidade de mais ou menos 3 400 indivíduos por ano.
Já foram feitos testes com redes que eram mais facilmente detetadas pelos golfinhos, mas foram abandonados porque diminuíam a quantidade de pesca, e estão agora a ser testados equipamentos (“pingers”) que emitem um som que afasta os golfinhos.
Em janeiro de 2019, foi criada uma área de conservação de cetáceos, que faz parte da rede Natura 2000 e que compreende uma faixa entre Ovar e Marinha Grande, e foi alargada uma faixa de conservação no sudoeste alentejano, por sugestão do projeto LIFE. “A área foi legalmente aprovada, o plano de gestão para as duas áreas foi aprovado, mas desde aí não foram aplicadas medidas de conservação que estavam definidas nos planos”, lamenta Catarina Eira, contando que a única ação foi a aplicação de ‘pingers’ em redes de arte xávega na praia da Vieira.